O capitalismo não conseguiria existir sem estar apoiado em inúmeras ideologias e ilusões vendidas aos trabalhadores.

Como defender o luxo e as propriedades de grandes empresários, uma absoluta minoria, menos de um por cento da população? Como justificar a miséria de bilhões de pessoas e os hábitos ultra-sofisticados de um punhado de ricaços?

Essa desigualdade seria insuportável se não fosse embelezada com inúmeras ideologias disseminadas pelos governantes e partidos. No caso das democracias burguesas, uma das mais difundidas é a do poder do voto. É o povo quem decide quem vai governar o país. E se é o povo que decide, ele também é culpado pelo resultado, por quem é eleito.

Caso as ideologias não surtirem efeito, sempre sobra a possibilidade de utilizar as Forças Armadas para disciplinar os trabalhadores.

As ilusões nos recém eleitos também são muito importantes para manter a dominação da grande burguesia. As pessoas normais não torcem para que dê tudo errado. Torcem para que os governos dêem certo para poder melhorar a vida.

Vejamos o que a democracia burguesa nos presenteou no Brasil e nos EUA.

No Brasil, os governos federal, estaduais e municipais tinham uma boa avaliação da população por terem capitalizado o crescimento econômico dos últimos anos. Na consciência da população, as pequenas melhoras não se deviam ao crescimento da economia, mas a “seriedade” ou “competência” de tal ou qual governante. A começar pelo próprio Lula, que pôs na cabeça da maioria dos brasileiros que ele tem muita “preocupação social”, quando na verdade só estava surfando na onda de crescimento da economia capitalista.

Agora na campanha eleitoral, nem o governo nem a oposição de direita falaram na crise econômica. Venderam o que não tinham – suas promessas eleitorais – e agora não vão entregar a mercadoria, em razão da crise. Essa é a democracia burguesa. Mais um engano.

Mas existe uma outra ilusão, ainda mais perigosa. Como parte das experiências vividas, hoje o governo Bush é odiado por todo o mundo. O principal instrumento da contra-revolução, o governo dos EUA, tem uma cara odiada em todos os países. Mas ficava muito perigoso para a dominação mundial do imperialismo que o Tio Sam tivesse sua verdadeira cara.

Agora, isso pode mudar. Como num passe de mágica, o imperialismo está renovando sua cara. Todas as pesquisas apontam a vitória de Obama, o primeiro negro na história a ser presidente dos EUA.

É inevitável que uma onda de esperanças corra o mundo, em particular entre os trabalhadores negros.

Existem momentos em que os revolucionários têm a obrigação de se enfrentar com a maioria. Obama não significa nenhuma mudança para os trabalhadores de todo o mundo. Para nós, o fundamental é a determinação da classe social a que responde o governo, e não a cor da pele dos presidentes.

Obama vai ser um instrumento para o imperialismo, mais útil que Bush, na medida em que a cara desgastada do último presidente gerava um repúdio imediato.

Essa é mais uma ilusão possibilitada pela democracia burguesa. Obama foi eleito em base a uma grande expectativa de mudanças, e não mudará nada de fundamental. Já pelo fato de poder ser presidente dos EUA indica o apoio de grandes e majoritários setores da burguesia norte americana. As mesmas grandes empresas de sempre mandarão no governo Obama, como mandaram no governo Bush.

Post author Editorial do Opinião Socialista nº 359
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