Katia Telles
Priscilla Buhr / JC Imagem

Difícil é saber
se aquele homem
já não está
mais aquém do homem;
mais aquém do homem
ao menos capaz de roer
os ossos do ofício;
capaz de sangrar
na praça;
capaz de gritar
se a moenda lhe mastiga o braço;
capaz
de ter a vida mastigada
e não apenas
dissolvida
(naquela água macia
que amolece seus ossos
como amoleceu as pedras).

(O Cão sem Plumas, João Cabral de Melo Neto)

Ao lermos os versos do grande pernambucano, ficamos encantados. Porém esse encantamento é um pouco apagado quando constatamos que, várias décadas depois da composição deste poema, essa realidade ainda é vivida por nós.

Como vivem os trabalhadores e as trabalhadoras do Recife? Dados do IBGE asseguram que mais da metade não tem acesso a serviços de esgoto, quase 500 mil não têm emprego e nossa jornada de trabalho média é de 47 horas semanais, mais do que o permitido por lei.

São trabalhadores, homens e mulheres que quando se revoltam e teimam em trabalhar na informalidade se deparam com a repressão brutal de governos que não toleram qualquer contrariedade aos seus planos de favorecimento aos grandes empresários. Sim, pois na mesma semana em que ambulantes que lutavam pelo seu direito de trabalhar na estação de Joana Bezerra foram violentamente reprimidos veio à tona o escandaloso ato da prefeitura do PT que reduziu os impostos para as empresas de ônibus, os mesmos empresários que já tinham sido beneficiados pelo governo Eduardo Campos quando o mesmo autorizou que reduzissem o número de coletivos nas ruas ganharam outro “presente”.

Nós do PSTU ficamos estarrecidos quando constatamos que os mesmos que governam nossa cidade há décadas e a levaram para essa situação vexatória estão agora pedindo o voto dos trabalhadores com promessas das mais mirabolantes… é câmera para combater crime,imitar a Colômbia,ter apoio do governo federal para “grandes investimentos”, aumentar o bolsa-família, trazer muitos empregos e por aí vai…

O que não se diz é que,no Recife ou em qualquer outro lugar, a exclusão social é resultado de uma política da burguesia,o dinheiro que a prefeitura arrecada é destinado prioritariamente para os empresários, por isso não sobra dinheiro para as obras sociais. E quem está financiando? Quem apóia entusiasticamente os candidatos da oposição burguesa e o candidato da situação? Grandes empresas, poderosas empreiteiras que não querem que nada mude,que querem garantir cada vez mais a exclusão social.

— Seu José, mestre carpina,
e quando ponte não há?
quando os vazios da fome
não se tem com que cruzar?
quando esses rios sem água
são grandes braços de mar?

Os vazios da fome aparecem diariamente na vida da maior parte dos recifenses que recebe menos de R$450 por mês e têm que arcar com uma inflação crescente, que atinge os produtos mais consumidos pelos mais pobres. Toda verba da prefeitura deve ser submetida a conselhos populares, compostos pelos setores oprimidos de nossa cidade,que estão a margem de qualquer processo decisório. Se durante mais de 400 anos se governou para os empresários o PSTU deixa um recado: governará exclusivamente para os trabalhadores. Trabalhadores que vão ter emprego em um amplo plano de obras públicas para construção de escolas, hospitais, postos de saúde, creches e esgotamento sanitário e assim cruzar “seus vazios da fome”

Atenção peço, senhores,
para esta breve leitura:
somos ciganas do Egito,
lemos a sorte futura.
Vou dizer todas as coisas
que desde já posso ver
na vida desse menino
acabado de nascer:
aprenderá a engatinhar
por aí, com aratus,
aprenderá a caminhar
na lama, como goiamuns,
e a correr o ensinarão
o anfíbios caranguejos,
pelo que será anfíbio

Nossa juventude trabalhadora é assassinada todos os dias. Quais as previsões que as ciganas burguesas fazem para ela? Os esquadrões da morte atuam com a “vista grossa” de muitas autoridades. Recife tem índices educacionais vergonhosos. Jovens adoecem, não têm perspectiva. Nosso projeto para a juventude não é esse!

Em cada localidade, deve ser aberta uma biblioteca! O acesso à Internet deve ser democratizado e todas as escolas devem funcionar em tempo integral com alimentação, esporte e profissionalização, para que nossos filhos não sejam futuros anfíbios e sim donos de seu próprio destino.

Esperamos que um dia, ao lermos João Cabral, nos encantemos com a beleza de seus versos e com a sua plasticidade e não mais tenhamos homens de vida e morte “Severina”.