César Benjamin, que disputou as eleições como vice de Heloísa Helena, rompeu com o PSOL, e em uma entrevista ao Jornal do Brasil fez duras críticas à sua direção:

“Escrevi um documento programático de umas 60 páginas que terminou saindo em meu nome pessoal, pois a direção do PSOL é uma rara combinação de ignorância, truculência e arrogância. (…) Passada a campanha, acho que em algum momento vou encaminhar minha desfiliação formal. (…) É mera formalidade, pois, como disse, não milito no partido. Sequer fui chamado a opinar sobre a posição em relação ao segundo turno, o que mostra o nível de truculência desses pequenos burocratas. (…) Eu teria proposto que encaminhássemos cinco ou seis pontos programáticos sérios, de interesse do Brasil, para um debate com o PT”.

Não vamos opinar sobre as críticas de César aos métodos da direção do PSOL. O que queremos discutir é a base política dessa ruptura. Todos sabem que o PSTU foi contra a candidatura de César a vice, e que nós propúnhamos José Maria, da direção da Conlutas. Agora, com este final melancólico, temos obrigação de opinar.

É um erro grave que César não reconheça a importância da Frente de Esquerda. A candidatura de Heloísa teve 6,85 % dos votos, e se constituiu numa alternativa de esquerda contra Lula e Alckmin. Ter participado desse processo e negá-lo é sinal de miopia política.

O programa proposto por César era completamente equivocado. O centro era a redução da taxa de juros, sem nenhuma proposta de ruptura com o imperialismo. Não propunha a suspensão do pagamento da dívida externa e interna, somente uma auditoria. Não apontava para a luta contra as reformas neoliberais, como a trabalhista e a previdenciária.

Seu programa poderia ser perfeitamente assumido por uma candidatura burguesa com a bandeira da queda de juros.

Ao contrário do que pensa César, houve uma enorme indignação contra sua proposta na base da frente. Nós do PSTU defendemos que houvesse um amplo debate programático (o que a direção do PSOL não quis), por considerarmos a proposta inaceitável.

Sobre o segundo turno, César defendia apresentar pontos de programa para “dialogar” com a candidatura Lula. Trata-se de um apoio disfarçado, como fica evidente em suas posições e nas de Chico de Oliveira e do PCB. Tal postura vai no sentido contrário ao papel desempenhado pela candidatura de Heloísa no primeiro turno, como uma alternativa a Alckmin e Lula.

César repudia os métodos burocráticos da direção do PSOL. Não teve, no entanto, a mesma atitude quando foi indicado como candidato a vice, sem consulta às bases e aos partidos da frente.

Ao contrário de César Benjamin, nós reivindicamos a experiência da Frente de Esquerda. Em relação a César, trata-se de um final lamentável para uma candidatura que não deveria ter existido.

Post author
Publication Date