Leia abaixo a declaração do “Comitê de fusão Frente Obrero Socialista (FOS) e Corriente Obrera Internacionalista (COI)” sobre a morte do ex-presidente da ArgentinaA repentina morte de Néstor Kirchner provocou uma ampla demonstração de dor por parte de setores operários e populares que identificam o ex-presidente com a redução do desemprego e com uma série de medidas como os novos julgamentos ou a abolição das leis de perdão aos militares genocidas, a re-nacionalização da empresa aérea Aerolíneas, da AFJP (fundo de aposentadoria e pensão), o subsídio por filho, etc. Respeitamos esses sentimentos ainda que não compartilhemos com essa identificação.

Nós opinamos que essas medidas não foram produto da bondade de nenhum presidente, mas conseqüências das grandes lutas que protagonizamos todos os trabalhadores e que tiveram sua máxima expressão no Argentinazo de 2001, que aterrorizou os grandes patrões e o Imperialismo.

A partir de 2003, Kirchner, aproveitando uma situação econômica favorável que permitiu o crescimento do emprego, assumiu a tarefa de desmontar o processo de 2001 tomando uma série de medidas que ajudaram a acalmar o profundo descontentamento popular. Nessa tarefa teve o apoio de figuras como Hebe de Bonafini (líder das “Mães da Praça de Maio”) e dos dirigentes sindicais e sociais que foi ganhando para sua política.

Sua política estabilizadora teve resultados importantes, que permitiram fabulosos lucros à grande patronal nacional e estrangeira. Por isso hoje recebe a homenagem de todos os governos latino-americanos (desde Chávez e Evo até os presidentes chileno e colombiano) e por todos os governos imperialistas começando pelo de Obama.

O papel que jogou na estabilização e na reconstrução das instituições burguesas, é o que explica também que a oposição de direita (desde Cobos e Alfonsín até Duhalde e Macri) se apressassem a oferecer suas condolências e afirmarem que se deve agora garantir a governabilidade. Expressam assim seu reconhecimento ao papel estabilizador de Kirchner e seu temor ao descontrole que pode provocar sua desaparição.

O modelo kirchnerista
Em 2003, Kirchner disse que seu objetivo era fazer “um país normal”. Essa normalidade significou pagar 50 milhões de dólares aos credores internacionais, continuar com o plano de “sojização”, seguir permitindo o saque das petroleiras e das mineradoras, ser uma das pontas do envio de tropas ao Haiti. Isso significa que seu modelo não enfrentou mas favoreceu o processo de recolonização de nosso país. Todo isso se expressou em lucros fabulosos para a patronal da cidade e do campo (ainda que os tenha enfrentado em 2008) e em contratos precários, empregos informais, informalidade e salários abaixo da inflação para os trabalhadores. Para cumprir essa “normalização” contou com a inestimável ajuda da burocracia sindical, em especial da CGT, mas também da CTA.

Todo isso é o que aplaudem e reivindicam os governos dos Estados Unidos e Europa, que hoje enviam suas condolências.

Os últimos fatos, como o veto ao reajuste de 82% móveis para os aposentados, ratificam essa trajetória. Por outro lado, tanto os crimes de Zanola como os medicamentos falsos, como o assassinato de Mariano Ferreira nas mãos da gangue de Pedraza de UF, mostram o grau de impunidade logrado pela burocracia sindical, pilar fundamental deste governo como se expressou no ato de Moyano em River.

Não somos hipócritas. Sempre dissemos aos trabalhadores que esse era um modelo de entrega e não de libertação dos trabalhadores. A morte não muda isso. Por isso é que não fomos às homenagens a Nestor Kirchner. Foram atos de apoio a uma política e a um modelo que vão contra os interesses dos trabalhadores e do povo. Foram atos de apoio ao oficialismo nas próximas eleições.

Nós lutamos por outro modelo, e por outro projeto: ao serviço dos de baixo. Lutamos por um modelo e um governo dos trabalhadores e do povo. E chamamos à maior unidade para somar forças nesse sentido.

Comitê de fusão FOS-COI
Bunes Aires, 1 de novembro de 2010

  • Leia a declaração no Portal do LIT-QI (em espanhol)