m dia depois do IBGE divulgar os dados preliminares do último Censo realizado no ano 2000, o presidente da República veio a público para se pronunciar.
Primeiro, o governo montou uma operação de propaganda em torno do único dado relevante que ia a seu favor: a redução da mortalidade infantil em relação a 1991. Depois, partiu para a contestação dos números do Censo, claro, naquilo que ele é mais categórico a respeito do que foram os anos da era neoliberal de FHC: a questão da renda, ou melhor, da concentração de renda.
Segundo o Censo do IBGE, 50,2% dos brasileiros ganham até dois salários mínimos. No Nordeste esse número chega a 73%. Os 50% mais pobres concentram 14,5% da renda nacional. Se isolarmos os 10% mais pobres da população (um contingente nada desprezível de 17 milhões de pessoas), estes concentram apenas 1% da renda nacional. Enquanto isso, os 10% mais ricos controlam 45,7% da renda nacional.
O governo contestou esses números, afirmando que eles são contraditórios com o aumento do consumo verificado pelo mesmo Censo do IBGE. FHC disse que o Instituto deveria chegar num acordo sobre a metodologia dos seus cálculos.
O problema é que não necessariamente há uma relação direta entre aumento da pobreza com diminuição de consumo. O próprio aumento da concentração de renda em mãos de uma parcela da população, nos setores da classe dominante ou das altas classes médias pode perfeitamente se manifestar em aumento médio de consumo, pois a questão é quem consome e quanto.
Mas a tentativa do governo em mostrar que a distribuição de renda no Brasil melhorou sob o reinado tucano/FMI não resistiu a quinze dias de realidade.
Uma pesquisa recém divulgada pela fundação Seade e o Dieese mostrou que o salário médio na Grande São Paulo sofreu uma redução de 11,2% em um ano (entre março de 2001 e março de 2002).
O próprio IBGE divulgou há um mês atrás que a renda média do trabalhador brasileiro caia pelo 13º mês consecutivo (contando até abril de 2002). Ou seja, o Censo foi feito no ano 2000, mas os dados já disponíveis dos anos 2001-2002 vêm confirmando a tendência de queda da renda.
Mas se alguém pensa que em vários indicadores sociais as coisas podem ter melhorado, não se engane: o desmonte dos serviços públicos e sociais também já começou a aparecer em números mais concretos. Por exemplo, a falta de saneamento básico é responsável por 63% das internações de crianças brasileiras até 11 anos de idade.
Aliás, a recente epidemia de Dengue foi apenas mais um exemplo de como os serviços públicos, no caso a saúde pública, foram pulverizados em nome de cumprir os superávits orçamentários ordenados pelo FMI e desviar recursos para o pagamento dos juros da dívida externa e interna.
Não há operação de marketing que consiga esconder o verdadeiro crescimento que se verificou sob FHC: o da pobreza.

Números do Brasil de FHC

– Um em cada quatro trabalhadores ganha até um salário mínimo;
– No Nordeste, 46,2% ganham até um mínimo, 73% até dois;
– 80 milhões de pessoas sobrevivem com renda de até dois salários mínimos;
– Os 10% mais pobres da população concentram 1% da renda nacional;
– Os 10% mais ricos concentram 45,7% da renda nacional
Post author Fernando Silva,
da redação
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