Não às demissões, à redução dos salários e à retirada de direitos: a luta dos trabalhadores da Vale continuaNo dia 12 de fevereiro, os trabalhadores da Vale de Congonhas, Ouro Preto e Itabira (MG) foram consultados sobre a proposta da empresa de licença-remunerada com redução de 50% do salário até 31 de maio. As últimas semanas foram marcadas pelo assédio moral no local de trabalho, demissões cirurgicamente planejadas para amedrontar o trabalhador e capitulações vergonhosas dos sindicatos da CUT e da Renovação, movimento pelego de sindicatos da mineração. Essas entidades defenderam a empresa e aprovaram sem discussão a proposta. No dia da assembleia, o clima criado pela empresa era de “ou aprova a proposta, ou a Vale demite”.

O auge das práticas antissindicais da empresa aconteceu no dia da assembleia. Minutos antes do início, quando já havia trabalhadores no sindicato, a Vale, na figura do seu gerente-geral, apresentou comunicado ao sindicato retirando a proposta. A causa? O Sindicato havia entrado com denúncia no Ministério Público contra a proposta da empresa por entender que ela é abusiva e contraria a legislação trabalhista. A Vale queria, retirando a proposta pouco antes da assembleia, forçar o sindicato a retirar a denúncia e evitar a reunião de conciliação que haveria na sexta-feira.

O diretor-presidente do Sindicato Metabase Inconfidentes (Congonhas, Ouro Preto e região), Valério Vieira, também militante do PSTU, abriu a assembleia de forma categórica. “Essa é a maior assembleia da categoria nos últimos anos. Isso porque a empresa colocou ônibus à disposição do pessoal e obrigou o trabalhador a vir votar a favor da sua proposta. Mas agora mesmo recebemos o gerente da empresa que veio retirar a proposta e tentar inviabilizar essa assembleia. Tudo isso para nos fazer retirar a denúncia que temos no Ministério Público. Mas nós não aceitaremos essa pressão e faremos a nossa parte. Esse é um sindicato democrático e uma assembleia foi convocada para aferir a vontade do trabalhador. Então, essa vontade será aferida e todos votarão se estão contra ou a favor da proposta da empresa”, disse.

Durante a assembleia, criticou duramente a proposta de empresa: “A Vale diz que essa proposta garantirá seu emprego: ela está mentindo! Ela usará a licença-remunerada para fechar a Mina de Fábrica e outras minas na região. Usará do seu medo para preparar as demissões em massa lá na frente, quando não houver mais possibilidade de férias coletivas nem licença remunerada”.

Na assembleia de Itabira, a empresa resolveu colocar as garras de fora e organizou intervenções favoráveis à proposta. Um engenheiro causou revolta quando tomou a palavra e disse que a redução salarial não era tão ruim, já que a licença permitiria ao trabalhador ganhar dinheiro por fora com bicos ou catando latinhas.

A proposta da Vale foi colocada em votação nas duas bases e, apesar do posicionamento contrário dos sindicatos, foi aprovada por ampla maioria. A campanha de assédio moral, ultimatos e ameaças promovida pela Vale surtiu seu efeito. Papel nefasto também cumpriram os sindicatos da CUT, que defenderam a proposta e atacaram a Conlutas por defender de forma intransigente os direitos dos trabalhadores. Ajudaram, na verdade, a empresa, o governo Lula e o PT. Esses, diariamente, se utilizam da confiança que ganham dos trabalhadores para semear a ilusão de que essa crise é passageira e que não há com o que se preocupar.

“Muitos trabalhadores votaram a favor da proposta porque acham que a crise é passageira. Acreditam na ladainha que diz que até 31 de maio a crise terá terminado. Mas a crise não terminará e nossa mina pode ficar fechada até o meio do ano. Então, os trabalhadores receberão em casa sua carta de demissão. Só que nós já falamos na assembleia. Se essa minar fechar e se a Vale demitir todo mundo, vamos ocupar a mina, botar aquilo pra funcionar e exigir de Lula que reestatize a empresa e a ponha sob controle dos trabalhadores”, falou Valério.

Nas assembleias, os trabalhadores aprovaram a proposta da empresa por 85% dos votos. No entanto, os mineiros aprovaram também a campanha do sindicato para denunciar o acordo no Ministério Público e seguir construindo as frentes contra as demissões em todo o país. No dia seguinte, em reunião de conciliação, a Vale voltou atrás e reapresentou a proposta ao Metabase Inconfidentes. Isso garante que a retaliação da empresa não recairá agora sobre Congonhas. Mas a pequena estabilidade durará apenas até 31 de maio. Portanto, a luta continua.

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