Em 28 de junho de 1969, um grupo de gays, travestis e lésbicas, cansados de serem revistados, humilhados e presos, resolveram tomar uma atitude. Em uma das freqüentes batidas policiaisao bar Stonewall, eles encurralaram a polícia dentro do recinto e fizeram barricadas nas ruas para não serem presos. Desde então, milhares de pessoas têm saído “do armário“ direto para as ruas mandar um recado aos homofóbicos: Não vamos nos render!

Estamos aqui para lutar com todas as nossas forças pelo fim da discriminação que, só no Brasil, mata mais de 100 homossexuais anualmente. Portanto, só nos oito anos de governo FHC quase mil homossexuais foram assassinados e nenhuma providência foi tomada. Este mesmo governo também barrou por várias vezes a aprovação do projeto de parceria civil, no Congresso. Portanto, não há nada mais demagógico e hipócrita do que aquela imagem de Fernando Henrique posando de politicamente correto com a bandeira do arco-íris na mão.

Fruto de anos de lutas, o movimento LGBT (lésbico, gay, bissexual e transgênero) brasileiro conseguiu fazer aprovar leis anti-discriminação em várias cidades do país. Isso é uma puta vitória. Uma demonstração de que, como dizia o nosso grande poeta Drummond, “os lírios não nascem da lei“. Nascem da mobilização e daluta dos que são esmagados pela “força da grana que ergue e destrói coisas belas“.

O melhor exemplo está aqui mesmo nesta Parada. De espaço de luta para conquista de direitos, ela está virando um grande carnaval fora de época. Seu espaço que era público vai se tornando privado e servindo de vitrine para empresários interessados na grana cor-de-rosa, que em não tem compromisso algum com a luta por direitos civis negados a LGBTs. Carnaval é ótimo, mas o 28 de junho não é só festa. O projeto de parceria civil, por exemplo, não consegue passar no Congresso porque, para citar um exemplo, os jornais do dia seguinte às Paradas não estampam nossas reivinvidações. Manchetes como “Carnaval Gay na Paulista“ dão a entender que estamos muito bem, obrigada. O que não é verdade. Não é por isso que lutamos. Isso invisibiliza nossa luta.

Podemos e devemos fazer uma história diferente. É nisto que a Secretaria de Gays e Lésbicas do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) acredita. Por isso estamos aqui, juntamente com gente que, 365 dias por ano, luta por uma outra forma de ser: uma vida sem fome, uma vida sem desemprego, uma vida sem preconceito. São sindicalistas, estudantes, homens e mulheres, homos e heteros, que, como nós querem mais, muito mais do que um dia de festa. Querem o direito de, todo o dia, festejar a vida.

Não acreditamos que seja possível derrotar o preconceito e a homofobia sem derrotar o sistema que os patrocina e que deles se beneficia. Por isso, no processo eleitoral, nos recusamos a alimentar ilusões de que será através de alianças com aqueles que poderemos promover a festa que realmente queremos: um mundo sem homofobia, sem exploração e sem opressão.