Durante mais de duas décadas depois da restauração do capitalismo nos países do chamado socialismo real, uma sufocante propaganda, promovida pela burguesia mundial e seus agentes, dizia que o capitalismo era o único sistema possível para a humanidade, fonte de riqueza e bem estar crescentes para todo o planeta. Decretaram a morte do socialismo.

A crise da economia mundial vem repor a verdade. Não foram as políticas neoliberais, os excessos especulativos ou mesmo a falta de regulamentação que a provocaram, como dizem muitos pensadores burgueses ou reformistas. Ao contrário, as crises fazem parte do sistema capitalista. Estão em sua essência.

O capitalismo é um sistema em decadência, que desenvolve tecnologia unicamente para obter lucros e não para benefício da humanidade. Ao contrário, quase sempre a utiliza para a destruição do homem e da natureza. Esse sistema precisa desesperadamente das guerras para gerar lucros. Nele vigoram a anarquia da produção, o consumo descontrolado e supérfluo de uma minoria, a superexploração dos recursos naturais que provoca um desastre ecológico mundial e a especulação financeira.

Um sistema em que a mundialização do capital, que não tem fronteiras, se utiliza permanentemente de barreiras impostas pelas fronteiras nacionais para reprimir e melhor explorar os trabalhadores imigrantes. Um sistema que, de tempos em tempos, lança a humanidade em períodos de intenso desemprego, fome e miséria.

No entanto, a falência desse sistema está longe de significar a vitória definitiva para os trabalhadores e os setores populares do mundo inteiro. Ao contrário, a burguesia imperialista, em sua decadência, pode arrastar toda a humanidade para a barbárie. A crise não torna o imperialismo menos perigoso para os explorados do mundo. Um monstro ferido, que luta desesperadamente para sobreviver, pode, em sua agonia, destruir tudo a seu redor.

A burguesia demonstrou mais uma vez que já não cumpre nenhum papel progressivo. É uma classe que procura apenas defender seus privilégios e sua dominação com todas as armas de que dispõe. Não consegue mais desenvolver as forças produtivas da humanidade nem sequer atender a suas necessidades mínimas. Uma minoria de grandes capitalistas e financistas, os donos dos meios de produção e distribuição, explora cada vez mais as grandes maiorias. A cada tanto ameaçam não só nossos postos de trabalho, salários e casas, mas também a própria existência física da classe operária e de toda a humanidade. Os meios de comunicação e os governos dizem que não há outra saída. Que temos que nos acostumar e tratar de nos adaptar porque o mundo é assim. Mas a atual crise do capitalismo produz uma grande transformação na consciência habitual dos trabalhadores.

Cada dia da crise traz enormes lições práticas para a classe operária do mundo inteiro. Os operários vêem diariamente os escândalos financeiros, o aumento brutal das desigualdades, a ameaça de depressão, a irracionalidade e a anarquia do capitalismo e do mercado mundial. Isso se concretiza depois nas duras experiências do desemprego, perda de conquistas e baixos salários, que muitos operários dos países imperialistas irão enfrentar no próximo período.

A nova situação mundial que se abre com a crise econômica fará com que o proletariado viva uma experiência concentrada com a exploração e as mazelas do sistema capitalista, que normalmente só seria possível no decorrer de anos. Isso permitirá o despertar de uma nova consciência, similar ao que as guerras, as agressões imperialistas e as políticas neoliberais representaram recentemente, em termos de consciência antiimperialista, para os povos dos países explorados. No entanto, para que essa nova consciência dê um salto é preciso que a classe passe à ação.

Só uma ação consciente da classe operária pode oferecer uma alternativa para todos os explorados do mundo. Essa ação consciente deve começar pela organização para a luta em defesa da sua sobrevivência física, em defesa de suas vidas e de suas famílias, das centenas de milhões de pessoas ameaçadas pela crise. Os trabalhadores do mundo inteiro precisam organizar-se e lutar para defender seus empregos, salários e casas. Precisam mobilizar-se contra o aumentos dos preços, contra o trabalho precário e pelos direitos dos imigrantes.

Só medidas de fundo – como a escala móvel de horas de trabalho e planos de obras públicas para conter o desemprego; reajustes salariais automáticos de acordo com o aumento da inflação; fim de todas as formas de trabalho precário e outras similares – serão capazes de enfrentar efetivamente essa crise. Os sindicatos, as comissões de fábrica e todas as organizações de classe serão convocados a cumprir um papel ativo nesse combate, ou estarão destinados a perecer e dar lugar a novas organizações que possam enfrentar o desafio.

Indo mais além, é preciso buscar uma saída global e definitiva que impeça a humanidade de permanecer à mercê de crises cada vez mais violentas e arrasadoras. Essa saída existe. É necessário planificar a economia e colocá-la a serviço da satisfação das necessidades da grande maioria, os trabalhadores e os setores populares, e não para aumentar a riqueza de uns poucos.

Só essa planificação permitirá utilizar racionalmente os recursos naturais e cessar imediatamente seu uso predatório e a destruição da natureza. Só uma economia planificada pode pôr fim à fome, ao desemprego, à miséria. Somente essa planificação permitirá o pleno desenvolvimento das tecnologias e sua utilização em benefício do desenvolvimento material e cultural da humanidade.

É necessário reorganizar toda a economia mundial. Isso é impossível sem atacar os bancos, o coração da economia capitalista imperialista. Hoje, os grandes bancos e todo o sistema financeiro dominado por eles são uma fonte permanente de anarquia e paralisam a economia mundial. Foram responsáveis pela escandalosa especulação e por perdas gigantescas. E agora não emprestam mais dinheiro, provocando diminuição da produção, desemprego e falências de empresas.

Não é possível reorganizar a economia de forma racional sem acabar com o domínio dos bancos e implantar um sistema único de investimento e crédito controlado pelo Estado. Mas isso deve ser feito de forma oposta à estatização promovida hoje pelos governos, como o da Inglaterra, que significa dar dinheiro do Estado aos banqueiros e permitir que eles continuem à frente dos seus bancos.

É necessário expropriar todos os bancos e estatizar todo o sistema financeiro dos Estados Unidos e de todos os países imperialistas, sob controle dos trabalhadores e sem indenizar os banqueiros. É preciso expropriar também as grandes empresas imperialistas, anular as dívidas externas dos países pobres e estabelecer um rígido controle de capitais que impeça sua fuga para os países imperialistas. Para acabar com a escassez de alimentos e seus altos preços é preciso expropriar os latifúndios e realizar reformas agrárias radicais que dêem a terra aos camponeses pobres que nela trabalham e aos sem-terra que querem produzir alimentos.

Isso significa construir uma sociedade totalmente distinta. Uma sociedade que não viva em função do lucro e onde não seja necessária a exploração. Uma sociedade solidária com todos, ao invés de estar baseada na competição e no individualismo. Uma sociedade socialista.

Nós, trabalhadores, que com nosso trabalho criamos todas as riquezas, podemos construir essa nova sociedade. Para isso será necessário derrotar o imperialismo, expropriar a burguesia parasita e desalojá-la do poder, criando um Estado operário que encaminhe a transição para essa sociedade socialista. A experiência concreta de uma revolução socialista vitoriosa já foi feita pelo proletariado russo, que tomou o poder em 1917 e construiu um estado baseado em conselhos operários democráticos, a serviço das grandes maiorias populares.

Essa experiência durou poucos anos e depois degenerou pela ação de uma burocracia privilegiada. No entanto, apesar da burocracia, a URSS mostrou a enorme força de uma economia baseada na propriedade coletiva estatal dos meios de produção (fábricas, bancos e meios de distribuição), na planificação da economia e no monopólio do comércio exterior. Na década de 30, quando os Estados Unidos e todo o mundo capitalista viviam os anos da Grande Depressão, a URSS se desenvolvia a taxas de crescimento de 20% ou mais ao ano e se transformou de um país atrasado e rural na segunda potência do mundo em menos de 40 anos.

Hoje, a classe operária mundial está diante do desafio de retomar a estratégia da revolução socialista mundial para derrotar o sistema capitalista imperialista e terminar de vez com a exploração e o flagelo das guerras e das crises econômicas.

Mas, sem dúvida, há um enorme obstáculo nesse caminho que hoje impede o proletariado de lutar por seus objetivos históricos e até mesmo de defender-se plenamente dos ataques do capital: à frente da maioria absoluta das organizações sindicais e políticas da classe operária estão direções burocráticas e oportunistas que defendem seus privilégios e o sistema capitalista que as mantém. Essas direções traidoras conduziram o proletariado a tremendas derrotas no passado e preparam um novo desastre para as lutas do futuro.

A luta espontânea das massas por si só, por mais heróica que seja, não levará à conquista do poder. Para fazer a revolução socialista mundial, única forma de impedir que o mundo se precipite na barbárie, a classe operária, colocando-se à frente de todos os explorados do mundo, necessita de uma direção política revolucionária que a conduza.

O proletariado necessita de partidos revolucionários em todos os países, que sejam parte de uma Internacional revolucionária, oposta firmemente a todos os partidos e organizações burgueses e oportunistas. Uma Internacional que levante um programa que reúna a experiência e a tradição internacionais do proletariado desde a publicação do Manifesto Comunista há 160 anos. Que se baseie em uma ampla democracia interna e no princípio organizativo do centralismo democrático: completa liberdade de discussão, total unidade na ação.

A nova situação mundial aberta pela atual crise econômica abre enormes possibilidades para a construção dessa Internacional e suas seções, os partidos revolucionários nacionais. Esse é o grande desafio e a principal tarefa dos revolucionários nesta época de decadência do capitalismo.

Em setembro deste ano, enquanto a confusão e a crise desabavam sobre as bolsas e todas as instituições do mundo burguês e imperialista, completaram-se 70 anos da fundação da Quarta Internacional. A Quarta é a legítima herdeira das tradições, do programa e dos princípios da Terceira Internacional, fundada por Lenin e Trotsky em 1919, logo depois da Revolução Russa. Trotsky lutou anos contra a degeneração do Estado soviético e da Terceira quando estes passaram a ser controlados pela burocracia de Stálin.

O Programa de Transição – escrito por Trotsky e adotado pela Quarta como seu programa de fundação –, os princípios políticos e organizativos da Internacional e seu objetivo estratégico continuam mais válidos do que nunca.

Essas palavras de Trotsky não só mantêm toda sua validade como expressam muito bem a disjuntiva dramática da atual situação: “As premissas objetivas da revolução proletária não estão somente maduras, mas começam a apodrecer. Sem a vitória da revolução socialista no próximo período histórico, toda a civilização humana estará ameaçada de ser conduzida a uma catástrofe. Tudo depende do proletariado e, antes de tudo, de sua vanguarda revolucionária. A crise histórica da humanidade se reduz à crise da direção revolucionária”.

Enfrentar essa nova etapa de crise econômica e decadência do capitalismo exigirá dos revolucionários do mundo inteiro concentrar todos seus esforços na tarefa de reconstruir a Quarta Internacional, lutando para que o melhor da vanguarda da classe operária ingresse em suas fileiras.

Post author Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional (LIT-QI)
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