Entre os dias 17 e 20 de setembro ocorreu o 6º Encontro Sudeste de Travestis e Transexuais, organizado pelo Instituto Aphroditte e pela CSP-Conlutas e contando com delegados dos quatro estados da região, além de participantes do restante do país. O encontro foi um marco tanto para o movimento de travestis e transexuais quanto para o movimento sindical brasileiro. Os debates pautaram questões como despatologização da transexualidade, as dificuldades de inserção no mercado de trabalho, a violência e a exigência de políticas públicas voltadas para o segmento.

Um feito histórico
O setorial LGBT da CSP-Conlutas já vinha discutindo com o Instituto Aphroditte há alguns meses a possibilidade de ações conjuntas no movimento LGBT. A responsável pelo grupo, Fernanda Moraes, participou da última reunião da Coordenação Nacional da CSP-Conlutas onde foi aprovado o apoio à realização do evento.

Após o governo não ter liberado a verba que tradicionalmente enviava para a realização do evento, o movimento sindical entrou com peso apoiando a atividade. Nesse sentido, foi um feito histórico, uma vez que não temos notícias na história do movimento sindical brasileiro de uma ação conjunta deste tipo.

O companheiro Renatão, da CSP-Conlutas do Vale do Paraíba, foi muito aplaudido na abertura do encontro ao dizer que “é muito importante que os sindicatos abracem a pauta do movimento LGBT” , e que “o preconceito faz com que não vejamos travestis e transexuais nas linhas de montagem, sendo que a luta conjunta pode fazer com que, no futuro, possamos ver as companheiras nas fábricas e mesmo na diretoria de sindicatos lutando lado-a-lado com os demais trabalhadores“.

Um debate politizado
Os quatro dias de debate mostraram a politização do movimento. Palestrantes ligados às universidades, aos movimentos sociais, aos sindicatos da CSP-Conlutas, dentre outros debatedores deram um tom muito elevado às discussões.

Além dos debates específicos como a chamada cirurgia de mudança de sexo, garantida pelo Doutor Carlos Cury, discussões sobre o PLC-122 e a alteração do pré-nome nos documentos e registros também foram amplamente debatidos. Nesse sentido, foram feitas duras críticas ao governo Dilma Roussef pelas sucessivas capitulações aos conservadores do Congresso Nacional.

O PLC-122 foi cobrado como uma primeira medida no combate à homofobia e à transfobia, não como a solução final, mas como uma medida necessária para se iniciar um combate sério à violência. Marta Suplicy (PT) não foi poupada de críticas por sua proposta de substitutivo ao PLC-122 que descaracteriza o projeto. Da mesma forma, Dilma Roussef foi duramente criticada por não ter aprovado ainda a mudança do pré-nome das TT´s nos registros legais. Segundo as participantes do debate, essa medida sequer envolve gastos e não precisa ser justificada pela falta de dinheiro do governo.

Um salto para a CSP-Conlutas
Os representantes do setorial LGBT avaliam que este encontro representa um salto na atuação da CSP-Conlutas no movimento LGBT. “As travestis e transexuais são o segmento mais marginalizado do movimento, sofrendo preconceito dos próprios homossexuais e lésbicas” disse o dirigente do Sindsef-SP, Carlos Daniel Toni. “A unidade com o movimento sindical é um tremendo avanço, pois permite ao movimento atuar de forma mais independente dos governos de plantão” afirmou Douglas Borges. O evento também contou com a participação e o apoio de Ideraldo Beltrame, presidente da Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, que cumpriu um papel destacado ajudando tanto no debate quanto nos preparativos finais da atividade.