Comissão de Negociação e Conlutas estão juntas à frente da luta por melhores salários e direitosO Sindicato dos Metalúrgicos entrevistou os dois principais ativistas, que estão à frente desta Comissão. Antônio Zeferino Pereira, conhecido como Macumba, e Nilson Gomes, conhecido como Barba, que falaram da importância desta luta e da participação da Conlutas ao lado dos trabalhadores.

Como surgiu esta Comissão de Trabalhadores, que está hoje à frente da greve, e a participação da Conlutas neste processo?
Macumba
– O Acordo Coletivo de nossa categoria já prevê que sejam montadas comissões de negociações na discussão do reajuste salarial, para dar mais transparência e democracia às negociações. Porém, nós trabalhadores da Construção Civil de São José dos Campos, principalmente da Revap, tivemos que ir pra cima e agir diante da incompetência e irresponsabilidade da diretoria de nosso Sindicato. Eles ficaram enrolando junto com a patronal e não tiveram coragem, nem capacidade de convocar a eleição para criar a Comissão.

Ao invés de tocarem a campanha, tivemos que assistir a atual diretoria antecipar para maio a eleição para a escolha da nova diretoria do Sindicato, que era pra ser feita em agosto.

Os trabalhadores foram percebendo que o único interesse deles era se manter no Sindicato. Enquanto isso, nossa data-base foi passando e nada de abrir uma negociação séria. Isso revoltou muito os trabalhadores que, em conjunto, decidiram eleger esta Comissão.

Procuramos a Conlutas para pedir um apoio, pois queríamos montar uma Oposição forte à atual diretoria e também estar à frente das negociações do reajuste salarial.

Barba – Nós já estávamos conversando com a Conlutas há algum tempo, para tentar mudar esta situação que enfrentamos hoje, que é este Sindicato que nada faz pelos trabalhadores. Eles não davam nenhuma satisfação quanto à negociação do reajuste salarial, sempre enrolavam e, por isso, os trabalhadores se uniram e foram pra cima. A Conlutas foi muito importante neste processo todo, pois foi ela que nos deu todo apoio para enfrentar os patrões e continuarmos esta mobilização. A Comissão só nasceu porque o sindicato cutista começou a negociar tudo por trás dos trabalhadores, sem informar o que estava realmente acontecendo. Eles fizeram de tudo para que não acontecesse a greve e nenhuma mobilização, mas os trabalhadores organizados foram pra cima.

Como começou esta greve?
Macumba
– Na semana daquela sexta-feira, do dia 16 de maio, os trabalhadores estavam todos esperançosos e esperando chegar a sexta-feira, quando o Sindicato deveria passar uma posição sobre o nosso reajuste. Porém, na quinta-feira (dia 15) fomos surpreendidos por uma panfletagem do Sindicato, avisando que a assembléia de sexta seria realizada somente na segunda-feira, alegando que as negociações com as empresas continuavam.

Na sexta-feira eu e alguns trabalhadores, já em parceria com a Conlutas, fomos fazer uma panfletagem na porta da Revap. Fomos alertar sobre esta situação de manobra do Sindicato na discussão do reajuste e na eleição da diretoria.

Com isso, os trabalhadores que lá estavam decidiram que não iriam mais agüentar esta enganação da atual diretoria e votaram pela paralisação total e imediata das obras.

Vocês falam de manobra da eleição do Sindicato. O que aconteceu?
Macumba
– As eleições do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil estavam previstas para agosto. De repente, acredito que se sentindo ameaçados por uma futura chapa de Oposição, a atual diretoria decidiu fazer a manobra de sempre e antecipou as eleições para o mês de maio. Para um Sindicato que possui, somente na obra da Revap, 12 mil trabalhadores, esta atual diretoria foi eleita com apenas cerca de 280 votos.

Eles possuem uma receita de R$ 140 mil mensais, pois mesmo tendo poucos sócios, eles descontam 1% de cada trabalhador da construção civil da região, através do “Acordo Coletivo de Contribuição Retroativa, Colaborativa e Socioativa”. É tudo manobra, pra enfraquecer a luta dos trabalhadores. Hoje nosso foco é na greve e no reajuste salarial. Após alcançarmos esta vitória vamos, com o apoio da Conlutas, tomar as medidas necessárias para que tenhamos um Sindicato de verdade que represente os trabalhadores da Construção Civil.

A greve vai completar 20 dias. Como está o movimento hoje?
Macumba
– Hoje, nosso movimento está forte. Isto graças à coragem dos trabalhadores e graças à confiança que depositaram na Conlutas. Pois viram que não dava mais para aceitarmos um Sindicato que só usa o dinheiro do trabalhador para benefício próprio e nada faz por eles. Estes trabalhadores estavam cada vez mais motivados porque viram que agora estão do lado de pessoas e entidades que lutam de verdade por seus direitos.

Barba – A greve está cada dia mais forte. Muitos trabalhadores são de fora, e já não estão conseguindo mais se manter aqui. Muitos companheiros foram pra casa no final de semana e ainda não retornaram, mas o movimento continua com força total. Vamos seguir firmes, até quarta-feira, quando acontece o julgamento da greve.

Os trabalhadores da Construção Civil irão participar do 1º Congresso da Conlutas, que será realizado em julho?
Macumba
– Acredito que estaremos sim no 1º Congresso da Conlutas, pois este será mais um mecanismo de reforçar a nossa luta.