Fundado em 1956, o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região teve início a partir de uma mobilização dos trabalhadores da Ericsson. Os operários perceberam a necessidade de se organizarem a partir da luta contra a cobrança do próprio uniforme de trabalho. Ainda assim, era uma entidade marcada pelo assistencialismo.

Se a fundação do sindicato expressava o período de industrialização do país que marcaria os anos seguintes, sua estrutura seguia o modelo instaurado por Getúlio Vargas de sindicalismo inofensivo e atrelado ao aparato do Estado.

O caráter assistencialista e conciliador do sindicato atravessou toda a década de 1960. Dirigido com mãos de ferro, o primeiro presidente do sindicato, José Domingues, permaneceu à frente da entidade por nada menos que 25 anos.

Só o ascenso das lutas do final da década de 1970 foi capaz de mudar o caráter do sindicato. Em 1979, começa a surgir a oposição sindical, nascida do efervescente movimento operário do período. A oposição organiza a base dos trabalhadores, passa por cima da própria direção pelega do sindicato e realiza greves que enfrentam a ditadura militar.

Uma década de greves e ocupações
Mas foi só em 1981 que os metalúrgicos finalmente expulsaram os pelegos da direção do sindicato e colocaram a entidade a serviço das mobilizações. Nessas eleições, a oposição saiu dividida num primeiro momento. Uma chapa encabeçada pelo MDB e outra capitaneada pela então Convergência Socialista (CS, principal corrente que formaria o PSTU) enfrentaram a chapa da direção do sindicato e outra formada pela General Motors.

A chapa do MDB venceu, seguida pela CS. As eleições, no entanto, foram para o segundo turno. A fim de impor uma derrota aos pelegos e à direção da GM, as duas chapas de oposição se uniram para selar uma grande vitória. O período que se abriu nos anos 1980 foi um tempo de importantes mobilizações, greves e ocupações de fábricas. Foi também o período em que surgiram o PT e a CUT, marco histórico que contou com a participação do sindicato.

Já em 1982, ocorreu uma importante greve na Embraer. “Foi a primeira greve numa fábrica militar, que teve até ocupação”, lembra Toninho Ferreira, então metalúrgico da fábrica e que viria a ser, em 1990, presidente do sindicato. A greve, deflagrada pela reivindicação de 4% de reajuste salarial, exigia também a instauração das comissões de fábrica, um eixo democrático que enfrentava os resquícios da ditadura.

Na época, as greves pipocavam em todas as fábricas. “Além das grandes greves nas empresas maiores, várias outras mobilizações explodiam como na Ericsson, Panasonic, Bundy e em outras fábricas menores”, conta Toninho. Nenhuma, porém, tão marcante como a grande greve na GM em 1985.

“Já havia tido uma forte mobilização e greve no ano anterior e, em 85, estoura a greve na GM, exigindo a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais”, afirma o dirigente. A jornada era de 48 horas. A greve durou 29 dias e sofreu uma dura repressão policial. Os operários, porém, não deixaram por menos, organizaram a resistência e ocuparam a fábrica. A greve ganhou repercussão nacional, sendo uma das principais mobilizações da década no país (veja entrevista).

Resistência nos anos 1990
Na década de 1990, em meio à brutal ofensiva neoliberal e ao refluxo do movimento, o sindicato constituiu um importante pólo de resistência. Esteve na dianteira das mobilizações contra as privatizações, o desmonte do setor público e, principalmente, na luta contra as flexibilizações.

No período, as divisões internas na CUT ficavam cada vez mais profundas. Na direção do sindicato, isso se expressou na ruptura para a disputa das eleições em 1990, em que duas chapas disputaram. Apesar de Lula apoiar pessoalmente uma delas, a chapa mais ligada à combatividade venceu, elegendo Toninho presidente. Consolidou-se, então, um sindicalismo de luta frente ao crescimento do chamado “sindicalismo de resultados” da Força ou das traições da Articulação (corrente interna da CUT).

Enquanto sindicatos, como o dos metalúrgicos do ABC, aceitavam o banco de horas, as câmaras setoriais e todo tipo de flexibilização, em São José dos Campos o sindicato se mantinha intransigente na luta em defesa dos direitos. “Aquela época mostrou bem a importância de uma direção classista, revolucionária. Enquanto as direções pelegas entregaram direitos, São José os defendeu. Não compusemos as câmaras setoriais e até hoje o banco de horas não chegou aqui, além de outros direitos, como a cláusula de garantia ao acidentado, aqui é um dos poucos lugares onde ainda tem”, avalia Toninho Ferreira.

À frente das lutas e da Conlutas
Nos últimos anos, o sindicato se manteve à frente das mobilizações. Em 2000, Luiz Carlos Prates, o Mancha, é eleito presidente do sindicato, protagonizando uma série de novas lutas. Assim como esteve à frente na formação da CUT nos anos 1980, foi a primeira grande entidade a se desfiliar da central em 2004, diante de sua falência para a luta. Esteve também à frente da fundação da Conlutas, sendo hoje um dos seus principais impulsionadores.

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