Após três dias de greve, ataques da polícia e da grande imprensa, trabalhadores interrompem movimento, mas rejeitam proposta e continuam mobilizadosTrês dias de muita luta, suor e sangue, mas muita força e vontade para brigar pelos direitos. É dessa forma que pode ser descrita a greve dos trabalhadores da construção civil no Pará.

Após a violência do primeiro dia de greve, carros da polícia, micro-ônibus e um contingente de cerca de 50 homens foram mandados para garantir a “segurança” dos trabalhadores. Algo jamais visto na cidade. “Essa polícia toda devia estar atrás de bandido, e não de trabalhador pai de família”, afirmou um operário.
As primeiras horas da paralisação, que colocou nove mil operários nas ruas de Belém, foram marcadas pela truculência dos policiais do governo de Ana Júlia, do PT. A repressão resultou em 15 presos e quatro feridos.

Os dois dias que se seguiram foram de protestos pelas principais ruas da capital paraense. Os piquetes realizados nas obras mais importantes foram vitoriosos e 90% da categoria aderiu à greve. Mas a repressão afastou muitos operários dos piquetes, temerosos de sofrerem novamente os ataques dos policiais. Ainda assim, o que se viu nas ruas foram cerca de 5 mil operários dispostos a permanecer em greve até a patronal resolver negociar.

Mídia a serviço dos patrões
A campanha feita pelo sindicato da patronal para criminalizar a greve dos operários da construção civil teve uma aliado fortíssimo, a mídia burguesa. As principais emissoras locais – TV Liberal (filiada à Rede Globo), TV Record, SBT e TV RBA (filiada à Band) – cumpriram um papel nefasto durante toda a greve, exibindo em seus telejornais os operários como baderneiros e vândalos.

A direção do sindicato descobriu que havia gente infiltrada pelos patrões no ato do primeiro dia de greve, para fazer arruaça e confusão. Isso gerou revolta e indignação por parte dos operários, que chegaram a expulsar a TV Liberal de uma avenida de Belém onde se encontravam mais de 2.500 operários.

Essa campanha da mídia contra a greve acontece por uma razão: os grandes anunciantes dessas emissoras são exatamente os empresários do setor da construção civil.

Apesar de todo o esforço da imprensa, os operários contaram com o apoio da população, que durante os atos servia água para quem estivesse com sede. Outros sindicatos importantes de várias partes do Brasil mandaram notas de solidariedade à greve. A Anel (Assembleia Nacional dos Estudantes – Livre), nova entidade do movimento estudantil, esteve presente com sua juventude nos piquetes ao lado dos operários.

Companheiros valorosos de outros sindicatos estiveram no Pará. Nestor Bezerra, militante do PSTU e coordenador geral do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de Fortaleza, disse que “essa greve dos operários da construção civil do Pará fortalece a luta dos os trabalhadores do país inteiro, pelo nível de mobilização, pela disposição para lutar contra os patrões e contra a polícia em busca de seus salários”.

Cárcere
A patronal também usou seguranças armados em várias obras com a desculpa esfarrapada de impedir quebra-quebra. Na verdade, esse pessoal tinha o objetivo de evitar que os operários saíssem da obra. Para isso, valia tudo, desde ameaças de demissão até cárcere privado.

Na Athenas, uma obra no centro de Belém, os operários foram escondidos pelos seguranças, que nem abriram os portões para dialogar com os grevistas. Subindo na escada de uma casa vizinha da obra, dava para ver os operários no fundo do terreno impossibilitados de sair.

Os patrões, não satisfeitos, entraram na Justiça com o objetivo de pedir abusividade da greve, pagamento de multa pelo sindicato e desconto dos dias parados. A direção da entidade dos trabalhadores convocou uma assembleia para definir como serão os próximos dias.

Nova assembleia
Os operários, por unanimidade, decidiram reafirmar a rejeição à proposta de 5% oferecida pela patronal; suspender temporariamente o movimento grevista até que seja votada pela Justiça sua legalidade. Aprovaram, ainda, o estado de greve e nova assembleia para o dia 10.

“A importância dessa greve é a conscientização do trabalhador de que ele precisa lutar”, avalia o operário da construção civil Antônio José Sena, o Seu Madruga, 49 anos, 20 trabalhando no setor. Para ele, os patrões podem dar um reajuste maior: “Eles podem pagar o que a gente está pedindo, mas por orgulho, ganância e egoísmo, não pagam”, afirmou o trabalhador.

“A categoria acredita na direção desse sindicato, que é forte e combativa e, ao lado dos operários da construção civil, vai fazer valer seus direitos”, disse Aílson Cunha, coordenador geral do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil, filiado à Conlutas.

“O que a gente recebe é uma humilhação”
Confira o relato de um servente de pedreiro que trabalha há cinco anos na construção civil em Belém. Ele explica a situação de exploração e o que espera da greve. Para impedir retaliações, seu nome não será revelado.

“O trabalho na construção civil é muito difícil. Trabalha-se sob pressão. Quando a gente fica doente, não é liberado. Se a gente chega atrasado, dez minutos, não entra mais e pega falta. O almoço chega atrasado, às 12h30. Às 13h toca a sirene e a gente tem que voltar para o trabalho. A comida não é boa. Eu chego às 7h da manhã e saio às 5h da tarde.

A proposta dos patrões é muito pouca. Nós somos obrigados a fazer bico no final de semana para completar a renda.

A greve é muito importante porque o que a gente recebe é uma humilhação e não tem reconhecimento pelo que a gente faz. Muitos operários têm medo do patrão, teme perder o emprego por causa da pressão psicológica que é feita em cima deles.
Eu espero que essa greve dê certo. Espero um aumento maior pela patronal. Estou disposto a continuar na greve. Para os operários que têm medo, eu digo: nós temos que perder o medo. Perder um, dois, três dias de trabalho não é nada perto do que a gente pode ganhar. Temos que perder o medo”.

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