Nota oficial do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e da Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas) sobre as mais de 4 mil demissões na EmbraerNuma demonstração de má fé, prepotência, ganância e insensibilidade muito grande, a Embraer efetivou, a partir do dia de ontem (19/02), a demissão de mais de 4.200 trabalhadores. Somados aos cerca de 700 demitidos no ano passado, são cerca de 5000 demissões em todas as suas unidades no país.

Depois de negar-se a atender os inúmeros pedidos do Sindicato dos Metalúrgicos de reunião para discutir a situação, que foram encaminhados à empresa nos últimos dois meses, e de ter enviado uma carta ao Sindicato, na manhã do dia 19, dizendo que não haveria demissões na empresa, os cortes começaram na tarde daquele mesmo dia.

A alegação da Embraer é a crise na economia. No entanto ela não tomou nenhuma medida alternativa (férias coletivas, licença remunerada) para tentar evitar as demissões. Tampouco aceitou nenhuma das várias propostas de reunião feitas pelo Sindicato nos últimos meses, para discutir a situação.

É flagrante a falta de fundamento no argumento da crise econômica. A Embraer, no ano passado bateu recorde de produção e venda de aeronaves, obteve rentabilidade recorde nos últimos anos. De acordo com a própria empresa, ela reviu para baixo a produção em 2009, para um total de 246 aeronaves no ano. Vejam o absurdo: no ano de 2008, quando ela bateu recorde de produção, o número de aeronaves fabricadas foi 204. Ou seja, mesmo na crise o número de pedidos que a empresa tem é maior que no ano anterior.

A empresa não tem nenhuma necessidade de demitir. Demite porque quer manter intocada a montanha de lucros que obteve no último período. Quer transferir para seus empregados o ônus da crise.

Por isso, o Sindicato denuncia a má fé, a insensibilidade e a ganância da empresa que, com as demissões que promoveu, gera uma comoção em toda a região, sem falar nas mais de 4.200 tragédias pessoais que ela gera.

Mas o Sindicato dos Metalúrgicos e a Conlutas querem também chamar à responsabilidade o governo federal. Há mais de três meses o Sindicato vem pedindo uma audiência com o presidente Lula para discutir as ameaças de demissões na Embraer e na GM. Até ontem não obtivemos a audiência pedida.

No mês passado dois ministros do governo federal (Trabalho e Secretaria Geral da Presidência) se comprometeram ante o Sindicato e a Conlutas em tomar medidas concretas para evitar demissões na Embraer. Três dias atrás o Sindicato reiterou o pedido de audiência junto à Presidência da República e, novamente não obtivemos resposta positiva.

Tem havido desde então muitas declarações do presidente Lula. Mas medidas concretas até agora, só temos visto as que beneficiaram bancos e grandes empresas, como a própria Embraer que já recebeu mais de 7 bilhões de dólares do BNDES nos últimos anos.

Queremos insistir mais uma vez: destinar dinheiro público para as empresas como tem feito o governo federal só tem ajudado a manter os lucros destas empresas que, aliás tem usado parte destes recursos para demitir trabalhadores.

Queremos do governo uma medida concreta. Que emergencialmente edite uma Medida Provisória garantindo estabilidade no emprego para todos os trabalhadores.

O presidente Lula informou pela imprensa que está chamando a empresa para uma conversa hoje. O Sindicato acredita que é hora do presidente demonstrar que suas declarações não são só jogo de cena. O presidente da República deveria apresentar um ultimato à Embraer: ou a empresa reintegra imediatamente todos os demitidos, ou o governo reestatiza a empresa e reintegra os trabalhadores. Nada menos que isso é o que o governo precisa fazer neste momento, sob pena de desmoralizar completamente suas declarações de pretensa defesa dos trabalhadores ante a crise.

O Sindicato está enviando a Brasília, nesta manhã, o presidente e o Secretario Geral da entidade, para buscar uma reunião emergencial com o presidente Lula.

O presidente diz que chamou a empresa para conversar. Como ex-dirigente sindical, ele sabe que precisa conversar também com a representação dos trabalhadores que foram atingidos por esta brutalidade por parte da empresa. Esperamos ser recebidos para levar diretamente o governo federal as preocupações que expressamos nesta nota.

Ao mesmo tempo continuaremos e fortaleceremos a campanha de mobilização desencadeada hoje, para buscar reverter as demissões efetuadas. Continuamos instando a empresa a aceitar a negociação com o Sindicato, com o pressuposto da reintegração de todos os demitidos. Buscaremos todos os caminhos, inclusive a Justiça do Trabalho, para atingir este objetivo. E estaremos buscando também as demais organizações da classe trabalhadora, no intuito de construir a unidade que os trabalhadores precisam para defender seus empregos, salários e direitos.

Queremos a readmissão imediata dos trabalhadores, a estabilidade no emprego para todos os funcionários e a redução da jornada de trabalho, sem redução de salários e direitos.

São José dos Campos, 20 de fevereiro de 2009

Adilson dos Santos, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de SJCampos e Região e José Maria de Almeida, da Coordenação Nacional da Conlutas

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