Trabalhadores e indígenas chamam Mesa de cachorro da burguesia e lamentam a ausência de uma direção unitária durante a Guerra do Gás

Depois do levante popular que sacudiu a Bolívia e que derrubou o presidente Gonzalo Sanches de Lozada, o Goni, a Central Operária Boliviana (COB) realizou no dia 19, uma plenária nacional ampliada. Nesta reunião, uma das principais conclusões foi a constatação de que faltou uma direção revolucionária para que os operários, camponeses, as nacionalidades oprimidas e as classes médias empobrecidas tomassem o poder.

Para as organizações sociais que combateram, com gigantescas mobilizações, barricadas, dinamites, paus e pedras, o regime de Gonzalo Sanches de Lozada e o Exército, o Movimento ao Socialismo (MAS) de Evo Morales e o Movimento Indígena Panchacutio (MIP) de Felipe Quispe não foram “referências” da rebelião.

“Nem Evo nem Felipe e nem nós encabeçamos a rebelião. Este conflito, lamentavelmente, não teve uma direção unitária (…) foram os trabalhadores bolivianos que tiraram a patadas o poder do assassino Goni. Foram as massas enfurecidas que deram uma bofetada no imperialismo norte-americano.” Resumiu o secretário-geral da COB, Jaime Solares. O objetivo da plenária era realizar uma análise preliminar dos acontecimentos que resultaram na queda de Lozada. Para Miguel Zuvieta, secretário executivo da Federação de Mineiros, “Nenhum partido de esquerda se imaginou em meio a um conflito dessa magnitude. Não entendemos as lições de fevereiro (…) isso nos impõe a urgente necessidade de nos organizar de melhor maneira”

Já o secretário executivo da confederação de fábricas, Alex Galvez, afirma que faltaram “objetivos claros” e que isso foi à causa para que “outro neoliberal” tomasse o poder. “Carlos Mesa é um cachorro da burguesia”, afirma outro dirigente da Central Operária Regional de El Alto. O dirigente segue afirmando “Derrubamos Goni, mas não derrotamos o modelo neoliberal capitalista, Mesa não vai industrializar o gás a favor dos bolivianos. Não acabará com a crise, por isso, agora devemos organizar uma direção única. Ganhamos uma batalha, mas não ganhamos a guerra” concluí o líder sindical. Em nome dos trabalhadores da construção civil, Victor Taca expôs que essa direção única deve ter um conteúdo de classe: “Carlos Mesa é representante de uma classe social e nós somos de outra. Por isso ele (Mesa) amanhã vai nos meter uma bala igual ao Goni.”

Em nome de Felipe Quispe, o secretário executivo da Federação dos trabalhadores Camponeses de La Paz, Rufo Calle, respaldou o balanço dos sindicalistas e disse “A guerra do gás não terminou. O governo Mesa não vai resolver este tema fundamental. Só um governo nosso vai alcançar a realização desta reivindicação do povo boliviano”. Calle ainda exigiu que a COB mantenha suas medidas de pressão.

José Luiz Alvarez, secretário executivo do magistério urbano de La Paz, afirmou que “Lamentavelmente, sem objetivos e direção revolucionária, os trabalhadores entregaram valentemente suas vidas, mas não para que haja uma mudança constitucional. Os que se levantaram querem melhores condições de vida e um novo tipo de estado.”

(Fonte: Econoticias Bolívia)