O movimento sindical surgiu, em nível internacional, das péssimas condições de trabalho no século XIX, época na qual os trabalhadores cumpriam jornadas de até 16 horas, em locais insalubres e sem nenhum direito.

No Brasil, na década de 80, o sindicalismo teve forte participação na resistência à ditadura, principalmente nas grandes greves dos anos 80. A maior parte do sindicalismo era comprometida com as grandes lutas nacionais, como a relacionada à dívida externa. Após perder a eleição de 1989, Lula, o maior líder sindical que o Brasil teve até então, chegou a afirmar que “qualquer governo do Terceiro Mundo que decide continuar a pagar a dívida externa faz a opção de conduzir seu povo ao abismo. É necessário suspender imediatamente o pagamento da dívida. Somos a favor de uma auditoria“.

A partir da eleição de Lula, assistimos a uma verdadeira cooptação de sindicatos pelo governo federal, especialmente as grandes centrais, na tentativa de represar o descontentamento das bases. Várias medidas de importantes centrais possuem uma orientação para “soluções de mercado”, e não para a luta.

A primeira medida neste sentido foi o convênio de sindicatos com dezenas de instituições financeiras para a concessão dos empréstimos com desconto em folha, que beneficiam claramente os banqueiros. Financiamentos com juros de 1,75 a 3,3% ao mês parecem bondosos, mas podem chegar a quase 50% ao ano. Como o empréstimo é descontado no contracheque, o trabalhador terá de sacrificar até mesmo gastos como alimentação para pagar esses juros exorbitantes. Ora, uma das funções dos sindicatos é lutar por salários dignos e por reajustes, e não pelo endividamento ainda maior de seus filiados.

Mas o maior privilégio que os sindicatos vão entregar de bandeja para os bancos será mesmo a implementação dos fundos de pensão de associações de trabalhadores – instituídos por recente medida de governo – que, segundo o próprio Ministério da Previdência, farão triplicar o mercado atual desses fundos, de dois para seis milhões de pessoas. Se hoje todos os fundos de pensão no Brasil possuem um capital de 185 bilhões de reais, é inimaginável a quantia que será administrada por estas futuras entidades financeiras.

* Rodrigo Ávila é economista

Post author Rodrigo Ávila*, Especial para o Opinião Socialista
Publication Date