Simone Vasconcelos é ex-gerente financeira da SMP&B, agência publicitária de Marcos Valério, acusado de operar o esquema do mensalão. Pelos documentos que registram os saques milionários na empresa, Simone é a maior sacadora, tendo retirado mais de R$ 7 milhões das contas da agência para distribuir entre nomes indicados pelo patrão. Fernanda Karina Somaggio, ex-secretária do publicitário, afirmou que Simone acompanhava Valério em viagens a Brasília e ficava no hotel, “contando dinheiro”.

Em seu depoimento na CPI, nesta quarta, dia 3, Simone disse que as listas entregues à Polícia são de nomes para quem ela mesma sacou e repassou dinheiro. “É por isso que eu tenho o meu nome ligado a tantos saques”, explicou Simone. O pior foi que ela afirmou que muito mais dinheiro foi sacado sem a sua intermediação.

Muitos dos saques em dinheiro, cujo destino Simone disse desconhecer, foram entregues em pacotes nas mãos de Marcos Valério. Alguns dos repasses feitos por Marcos Valério estariam descritos na lista de 31 recebedores entregue à polícia no dia 1º. Na lista com 12 nomes que apresentou na CPI, Simone apenas listou as pessoas que receberam pelos saques que Marcos Valério ordenou que ela se responsabilizasse.

Simone Vasconcelos disse que, em dezembro de 2002, começou o preparo da documentação dos empréstimos. Os primeiros pagamentos foram feitos “em janeiro ou fevereiro de 2003”, segundo Simone. Isso significa que os pagamentos estão mesmo relacionados à eleição de Lula e à formação de sua base no Congresso, o que reforça a existência do mensalão. O que não quer dizer, como outras denúncias têm mostrado, que a corrupção não existia com o governo PSDB-PFL.

A farsa
Simone Vasconcelos disse que, desde o início dos pagamentos suspeitos, sempre contabilizava os valores nas planilhas da empresa como “empréstimo ao PT“. Isso era feito com todos os pagamentos repassados, mesmo aqueles feitos para pessoas de outros partidos políticos, como PT, PL, PTB, PFL e PP, de acordo com as próprias listas entregues por ela à polícia.

Fica claro que o que estava contabilizado como “empréstimo ao PT”, valores que o próprio partido nega que pegou emprestado, é uma denominação fantasma para acobertar o pagamento de propinas a parlamentares de diversos partidos, inclusive da oposição burguesa.

Apesar de não ter afirmado a existência do mensalão, as declarações de Simone são peças de um quebra-cabeça que forma uma inegável paisagem de corrupção, de desvio de dinheiro público feito pelo governo Lula, para garantir a aprovação no Congresso de suas medidas neoliberais.