Considerado o braço direto de Zé Dirceu, Sílvio assumiu ter ganho carro em negociataNo início da tarde desta sexta-feira, durante depoimento na CPI dos Correios, Sílvio Pereira, ex-secretário geral do PT e homem de confiança do ex-ministro José Dirceu, apresentou uma carta ao Partido dos Trabalhadores requisitando sua desfiliação.

O motivo foi a impossibilidade de justificar o “mimo” de R$ 73,5 mil reais (um carro da marca Land Rover) que Sílvio recebeu de presente de César Oliveira, vice-presidente da empreiteira baiana GDK que, “coincidentemente”, faturou várias licitações da Petrobras, entre 2002 e 2005, que renderam nada menos do que R$ 929 milhões.

Apesar de afirmar que está com a consciência tranqüila, porque não ofereceu nada e nada lhe foi pedido, Sílvio não pode continuar negando o fato de ter recebido o presente, principalmente depois da nota divulgada pelo vice-presidente da GDK, no “Jornal da Globo”, na noite de quinta-feira, em que ele afirma ter dado o presente, mas, descaradamente, diz que agiu “de livre e espontânea vontade, em caráter estritamente pessoal, sem conhecimento prévio de quem quer que seja”.

Aliás, nesta mesma matéria do “Jornal da Globo” duas outras “coincidências“ complicaram ainda mais a vida do ex-secretário geral do PT: em 2004, a empreiteira baiana também doou R$ 400 mil reais para a campanha petista em Osasco (que teve a intensa participação do próprio Sílvio e de João Paulo Cunha) e, em 25 de junho passado, Sílvio tentou ocultar a falcatrua, pondo o carro à venda numa cidade do interior de S. Paulo.

Detalhe “cômico” no meio desse lamaçal é que, depois da concessionária se recusar a tentar negociar o carro (para não ter seu nome envolvido com o de Sílvio), o ex-secretário geral do PT comunicou em sua carta que já tomou as providências para devolver o automóvel presenteado.

Perdendo anéis para não perder dedos
Da mesma forma que é evidente que todo mundo da cúpula do PT e do governo sabia muito bem o que se passava nos gabinetes de Zé Dirceu e seu fiel escudeiro, está claro que a desfiliação de Sílvio Pereira está longe de ser uma decisão pessoal dele.

Ela é parte da “Operação Blindagem” que tenta afastar do governo, particularmente de Lula, e da direção do PT tudo e todos que possam comprometê-los ainda mais. Mesmo que seja necessário “perder alguns anéis para não perder todos os dedos“.

É com esse propósito que foi criada uma “nova executiva”, com Tarso Genro à frente, que vive falando como se nada tivesse a ver com a direção anterior; foi isso que também levou à criação da farsa do empréstimo, já conhecido como “Operação Uruguai 2”; como também foi essa a razão do afastamento de José Dirceu e o “exílio” de Gushiken para um cargo inexpressivo. E, também por isso, em breve, não haverá muita surpresa quando vermos Delúbio Soares saindo do PT e assumindo a culpa por tudo.

Além de tentar poupar seus chefes (que, sem sombra de dúvidas, continuarão seus chefes), Sílvio ainda, em sua carta, reedita a mais hipócrita das teses sobre a atual situação do PT e do governo, afirmando que, mesmo fora do PT, continuará “ao lados dos companheiros”, principalmente nesta “hora grave, quando as forças conservadoras se aproveitam de nossas fragilidades para debilitar o partido, sitiar o governo do presidente Lula e derrotar o projeto de democracia, desenvolvimento e justiça social encarnado pela esquerda”.

Uma ficção na qual ninguém mais acredita, até mesmo porque gente como Sílvio Pereira está aí, diante de todo país, demonstrando que as únicas “forças” por trás da falência do PT é a do dinheiro e da corrupção.