No dia 2 de outubro, o jornal Folha de S. Paulo publicou uma entrevista com o ex-secretário-geral do PT, Silvio Pereira, nas quais ele admite que sabia do esquema de caixa 2 para financiar campanhas e dá a entender que os 21 membros da executiva do partido também sabiam e têm responsabilidade sobre isso.

“Eu assumo a minha responsabilidade política. A minha responsabilidade não é diferente da de nenhum outro dos 21 membros da Executiva Nacional do PT. O nível de decisão que eu tinha não era diferente do de nenhum dos 21 membros da Executiva Nacional do PT“, afirmou Silvio, mostrando que o afastamento de alguns poucos não resolve o problema das irregularidades cometidas pelo partido.

Ele repete e completa: “Eu assumo a responsabilidade como membro da direção do PT, em que pese a direção do PT ter realmente a noção do que estava acontecendo. Ninguém é hipócrita de achar que não sabia que existia caixa dois. Qual membro da direção do PT não sabia disso?“.

Silvio disse isso sob forma de pergunta, o que lhe deu uma brecha para negar a afirmação no dia seguinte. Na nota, Silvio diz que a edição do jornal distorceu suas declarações. O ex-secretário diz que, “em nenhum momento“, afirmou que os dirigentes do PT tivessem conhecimento de operações com caixa dois, mas que ele “apenas“ fez uma “alusão“ ao fato de que dirigentes petistas “poderiam especular sobre a possibilidade“ do caixa dois. Entretanto, mesmo sob a forma de questionamento, a frase citada da entrevista deixa bem claro que a direção do partido sabia.

Um esquema nacional
Sem mencionar nomes, Silvio deu a entender que dirigentes de 27 Estados provavelmente sabiam ou desconfiavam do caixa dois, já que há indícios de que todos se beneficiavam. “Uma coisa era verdade, 27 Estados bateram à porta do Delúbio. Por que os Estados não assumem isso, pô? Todo mundo pegava no pé do Delúbio para arrumar recursos, todo mundo, todo mundo. Agora ele está lá, sozinho. As pessoas não perguntavam: bom, de onde vem esse dinheiro?“, dizze o ex-secretário.

Acordo
Indagado pelo jornal se “realmente teria havido o acordo de R$ 20 milhões“ para fazer a aliança com o PTB, Silvio confirmou: “Houve um acordo, sim, houve“. O ex-secretário contou que o acordo começou por causa da candidatura de Marta Suplicy à Prefeitura de São Paulo. Segundo ele, Marta estava ficando isolada, pois partidos da base aliada estavam pretendendo apoiar José Serra. “O custo político para trazer o PTB e o PL para a campanha da Marta foi alto. O partido cabeça de chapa [PT] tem que arcar com todos os custos“, explicou Silvio.

Reconvocação ou acordão?
Silvio Pereira foi acusado pelo ex-deputado petebista Roberto Jefferson de participar do esquema de caixa 2 petista e do mensalão. A confirmação de que o ex-secretário recebera um carro Land Rover no valor de R$ 73,5 mil de um empresário amigo seu que tinha contratos com a Petrobrás foi a gota d´água para sua saída da executiva do partido e posterior desfiliação.

Entretanto, em seu depoimento à CPI, Silvio insistia no “não sei de nada” para responder aos questionamentos que lhe eram feitos. Com as novas declarações ao jornal Folha de S. Paulo dois meses depois, integrantes da CPI dos Correios estudam a possibilidade de que o ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira seja reconvocado para prestar depoimento. A entrevista provaria que ele mentiu em diversos momentos de seu depoimento à CPI, no dia 19 de julho.

Todavia, as novas convocações podem ficar somente nas ameaças. Há um grande esforço do governo e do Congresso para que se encerre a crise, com um acordão para que as CPI´s terminem em pizza e cortem apenas as cabeças de alguns bodes expiatórios. A eleição de Aldo Rebelo, do PCdoB, para a Presidência da Câmara sinaliza para a operação abafa.

Por isso, é preciso protestar, participar dos atos convocados pela Conlutas nas capitais e chamar o “Fora Todos!”, construindo uma alternativa à bandalheira generalizada que sustenta o regime democrático-burguês e às direções governistas.