Mulheres e crianças palestinas, em protesto contra a construção de casas dos colonos judeus
Indymedia

A paz está sendo construída! Agora somos todos irmãos! Esse é discurso que a mídia do mundo inteiro está vendendo sobre a situação na Palestina. Na verdade, tudo não passa de uma farsa montada para encobrir a continuidade da repressão contra os palestinos.

Depois da eleição de Abu Mazen para o lugar de Arafat, a “trégua” entre Israel e Palestina, patrocinada pelo imperialismo, confirmou o que dizíamos. Mazen lançou-se com tudo para tirar de seu caminho a resistência palestina, permitiu a consolidação e legitimação da ocupação israelense, com o avanço do processo de colonização de Gaza e Cisjordânia e o fim das esperanças de milhões de exilados palestinos de voltar para sua terra.

A consolidação da ocupação
O “acordo de paz” entre Sharon, Abu Mazen e Bush, patrocinado pela ONU e saudado por quase toda a esquerda mundial, é uma armadilha para calar a Intifada e consolidar a ocupação israelense. Inclui promessas vagas, como libertar prisioneiros, sem dizer quantos, devolver a Faixa de Gaza, sem dizer como, e outras frases de efeito para passar a idéia de que um acordo é possível entre invasores e invadidos, entre ladrões e vítimas.

Infelizmente, grande parte da esquerda mundial está caindo nesse conto do vigário.
Como era de se prever, uma a uma dessas “promessas de efeito” estão sendo sistematicamente violadas por Israel. Até agora, dos sete mil presos políticos, apenas algumas centenas dos “menos perigosos” foram libertados enquanto continuam presas as lideranças mais importantes, como Marwan Barghouti ou Ahmad Saadat. A promessa de parar a construção de casas para colonos judeus na Cisjordânia foi para o espaço. Desde que o plano foi assinado, 3.500 novas casas foram construídas na colônia judaica de Maale Adumin, a leste de Jerusalém. A promessa de desmantelar os assentamentos ao norte e ao sul de Jerusalém também virou o contrário. Os assentamentos de Ariel, no norte, e de Gush Etzion, ao sul de Jerusalém, estão sendo ampliados.

Com a promessa de devolver Gaza aos palestinos no fim do ano, Israel está cercando e pilhando a Cisjordânia a toque de caixa. Os planos do governo israelense ignoram o Acordo de Paz. Segundo o jornal Yediot Aharonot, a Autoridade de Terras de Israel, encabeçada pelo vice-primeiro-ministro Ehud Olmert, planifica a construção de milhares de novas casas em várias comunidades na Cisjordânia. Dados da Autoridade dizem que há atualmente 123 assentamentos, com 223 mil residentes, número que cresce na ordem de 3% ao ano. Se o plano de Sharon é realmente sair de Gaza, preventivamente ele está reforçando seu controle sobre a Cisjordânia, território que, para ele, jamais será devolvido à Palestina. É a consumação do roubo, da ocupação de terras palestinas por Israel.

Em Gaza, um milhão de palestinos vivem confinados em condições de miséria absoluta, e 8 mil colonos judeus, protegidos por soldados armados até os dentes, ocupam um terço do território, formado pelas terras mais férteis. Mesmo que eles saiam, Gaza continuaria cercada, sem soberania, com controle das fronteiras e aeroportos, e as autoridades palestinas estariam obrigadas a reprimir os palestinos que lutassem contra isso.

O plano de devolver realmente a Faixa de Gaza é uma farsa. As forças de ocupação israelenses estão começando a construção de um segundo muro em torno dela para separá-la de Jerusalém. “O plano é construir, em julho, uma barreira improvisada, temporária, nessas áreas onde uma barreira permanente não pode ser construída no momento, devido a razões legais”, disse o chefe de Estado Maior de Israel, Moshe Ya’alon.

A Palestina vai pagar sua própria desgraça
Israel está legitimando sua ocupação a cada dia que passa, a cada plano que faz para enganar o mundo usando de forma indevida os sinceros desejos de paz que existem em todos os povos.

A humilhação dos palestinos chegou ao ponto de fazer eles mesmos financiarem sua própria desgraça. Não só têm sua terra roubada, como vão pagar por isso. O muro do apartheid será construído com financiamento do Banco Mundial (BM) com créditos concedidos à Autoridade Nacional Palestina (ANP). O coordenador de programa do BM para Cisjordânia e Gaza, Markus Kostner, disse que o banco vai financiar os postos de segurança entre Israel e Palestina, equipados com tecnologia de última geração. Como os empréstimos não podem ser feitos a Israel, porque o nível de ingressos per capita supera o mínimo imposto pelos estatutos do banco, os créditos sairão em nome da Palestina. Créditos esses, claro, que vão engrossar o montante da dívida externa palestina. Ao longo do muro, haverá postos de controle e vigilância para impedir que os palestinos cruzem a fronteira. “O projeto ajuda a melhorar a eficiência na fronteira, mantendo e melhorando a segurança de Israel”, disse Kostner. (Rebelión, 6/4/05).

A esquerda mundial está caindo na armadilha
O papel da ONU nesse plano maquiavélico é fundamental para que ele dê certo; é justamente cobri-lo com um manto de paz e democracia para conseguir dobrar a resistência palestina. E vem conseguindo. A Fatah e a Jihad Islâmica, dois dos mais importantes grupos que lutavam contra a ocupação, já aceitaram a trégua. O Hamas, o grupo mais forte em Gaza, anunciou que vai participar das eleições e do “processo de democratização”. A Frente Popular pela Liberação da Palestina, mesmo atacando o acordo com Israel, o faz aceitando os marcos da ONU.

Infelizmente, a confiança que esses grupos vêm depositando nas promessas de paz e democracia está tendo efeitos devastadores sobre a resistência palestina. Hoje, de fato, há uma trégua na Intifada, tudo o que Sharon precisava para avançar o processo de colonização sobre a Palestina e consolidar a ocupação.

A única saída é o fim de Israel
Vencer um Estado racista e armado pelo imperialismo, como Israel, não é tarefa simples. Agora significa opor-se também à direção traidora da ANP, com Abbas à cabeça, que colabora com o ocupante. Porém, sem retomar a luta, é impossível conseguir a autodeterminação palestina. Mais cedo ou mais tarde a população palestina irá perceber que a única saída é a continuidade da resistência, da luta pela liberdade de todos os presos políticos, pelo retorno incondicional dos refugiados e exilados, pela derrubada dos muros e cercos construídos por Israel e a devolução imediata de todo o território palestino.

A paz com justiça não virá com “acordos” entre os ocupantes e suas vítimas. Outros “acordos” já mostraram isso. A paz que nos interessa só virá com a luta implacável, incessante e determinada dos palestinos, com o apoio incondicional de todos os povos oprimidos do mundo, pela destruição definitiva do Estado de Israel e a construção de uma Palestina laica, democrática e não-racista.

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