Depois de uma semana cozinhando em banho-maria, na tarde de 21 de setembro, Severino Cavalcanti renunciou à presidência da Câmara e ao mandato de deputado. No discurso de renúncia, Severino criticou a “elitezinha que não quer largar o osso”, da qual ele ironicamente também é parte, e ameaçou o país com um “eu voltarei!”, típico dos mais ridículos vilões da ficção.

Há uma semana, todos aguardavam a renúncia. Na semana passada, o empresário Sebastião Buani apresentou um cheque endossado pela secretária de Severino, como prova do pagamento de um “mensalinho”. A propina era paga ao presidente da Câmara em troca da manutenção do contrato da Câmara com o restaurante de Buani.

No dia 11 de setembro, Severino Cavalcanti teve a cara-de-pau de dar uma entrevista coletiva, afirmando para todo o país que é inocente, que o documento apresentado como prova da propina era uma fraude e que renúncia não existia em seu vocabulário. Ressaltava que tinha todo o apoio do governo Lula.

Dias depois, Buani apresentou o cheque à imprensa. O cheque de R$ 7,5 mil teria sido entregue a Severino, como propina para garantir o contrato por mais três anos do restaurante Fiorella, no 10º andar do anexo quatro da Câmara. No cheque se encontra a assinatura da secretária de Severino, Gabriela Kenia S. S. Martins, fato que comprovaria o pagamento do “mensalinho”.

Com isso, o governo, que ainda tentava salvar o picareta, não teve outra alternativa a não ser se juntar ao coro pedindo a cabeça de Severino. Depois disso, o presidente da Câmara sumiu de circulação, não compareceu para presidir as sessões na Câmara e não deu mais entrevistas.

Largada
Com a renúncia, a presidência da Câmara será assumida pelo vice, o deputado pefelista José Thomaz Nonô, até que seja eleito um novo titular. Entretanto, nem bem o defunto esfriou e já foi dada a largada para a sucessão. Os partidos já estão apresentando candidatos.

A bancada do PMDB escolheu por unanimidade defender o nome de Michel Temer. O PT deverá defender o deputado Arlindo Chinaglia. Mas isso pode ser negociado. Segundo o ele, o PT vai buscar o consenso com as outras bancadas. “Vamos discutir com a base aliada, com os demais partidos e, se a bancada entender que existe uma possibilidade melhor, então vamos patrocinar essa possibilidade“, afirmou Chinaglia. O Planalto, leia-se Lula, não defenderia um nome do PT.

A oposição burguesa deve formar um bloco, com PFL, PSDB, PDT, PV e PPS. O candidato mais provável para representar o essas forças é José Thomaz Nono, que preside temporariamente a Câmara com a saída de Severino.

Outros partidos, como PL, PTB e PP, já lançaram candidaturas próprias, que, a princípio, não têm grandes chances. Todavia, é preciso recordar que Severino também era um azarão.

Tudo isso só prova que pouco muda na Câmara com a saída de Severino, que é um verdadeiro bode expiatório. A saída dele era ingrediente fundamental para a pizza que a Câmara está assando para finalizar meses de escândalos de corrupção. Severino não é uma exceção, é igual a todos os outros que o elegeram. A diferença é que Severino falou em público o que todos falam nos corredores. A corrida para ocupar a cadeira de Severino decidirá, na verdade, quem será o novo picareta, com ares mais ‘éticos´, que vai assar a pizza e garantir que a roubalheira continue por baixo dos panos.

AGRESSÃO – No final do discurso de Severino, um grupo de estudantes da UnB, que está em greve, protestou nas galerias. Eles gritavam fora Lula, Severino, mensalão e mensalinho e defendiam mais verbas para a educação. O grupo, que contava com militantes da Conlute, foi retirado do plenário e agredido pela segurança da Câmara.