Severino Cavalcanti, novo presidente da Câmara dos Deputados
Gervásio Batista / Ag. Brasil

Na disputa entre a oposição burguesa e o governo Lula, o grande beneficiado foi um legítimo representante do ‘baixo clero’ da Câmara. Os deputados depositaram os votos em Severino Cavalcanti (PP-PE), um dos 300 picaretas do Congresso e que já havia se candidatado por duas vezes.

Em sua primeira entrevista coletiva, nesta quarta, 16, mostrou toda a sua veia conservadora. O deputado é contra a legalização do aborto e a união civil entre homossexuais. Disse que não admite a “união de homens com homens”. A bandeira de Severino nas eleições da Casa foi a equiparação dos salários dos legisladores ao dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF): de R$ 12.847, subiriam para R$ 21.500. Na coletiva, manteve a promessa e defendeu ainda um recesso de três meses aos deputados.

A eleição de Severino, cujo partido integra a base governista, promete dificultar o andamento de projetos em relação aos direitos de homossexuais, mulheres e trabalhadores em geral. Com poder para influenciar, com a mesa diretora, o envio de projetos para votação em plenário, Severino deve colocar muitos obstáculos nos que poderiam representar algum avanço nos direitos de homossexuais e no das mulheres optar pelo aborto. Até mesmo o limitado projeto de parceria civil entre homossexuais, que tramita no Congresso há dez anos, pode permanecer mais tempo parado.

Não que uma eleição do candidato petista fosse garantia de avanços neste sentido. Nas últimas semanas, Greenhalg chegou a se reunir com os setores mais conservadores do Congresso: a bancada evangélica e a ruralista. Com certeza, o apoio destes deputados estaria condicionado também ao atraso, por tempo indeterminado, da votação destes projetos.

Uma rápida biografia
Severino Cavalcanti, 74 anos, possui história na ala conservadora da política brasileira. Começou na União Democrática Nacional (UDN), como prefeito de sua cidade natal, João Alfredo (PE), de 64 a 66. Nesse mesmo ano ingressou na Aliança Renovadora Nacional (Arena), o partido que sustentou e apoiou a ditadura militar.

Em 1980 foi para o PDS e, em 1987, para o Partido Democrata Cristão (PDC). De lá para cá, tramitou no Partido Liberal (PL), no PPR, no PFL e no PPB (hoje PP). Está em seu terceiro mandato executivo. Um autêntico espécime do que houve e há de mais conservador e sórdido no contexto político brasileiro. Porém, acredita-se que sem o mesmo talento e poder de colegas do mesmo “naipe”, como Paulo Maluf e Antonio Carlos Magalhães.

Em 1980, liderou a campanha para expulsão do padre progressista italiano Vito Miracapillo – o que foi seu ato com maior repercussão, inclusive internacional. O motivo: o religioso se recusou a celebrar uma missa comemorativa à independência, alegando que o Brasil ainda não era de fato independente. Severino entregou a denúncia ao Ministério da Justiça e, um mês depois, o então presidente João Batista Figueiredo assinou a expulsão do padre.