Lula condecora Severino com a medalha da Ordem do Rio Branco
Marcelo Casal Jr. / Ag. Brasil

O presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti (PP-PE), é acusado de receber uma propina mensal de R$ 10 mil para firmar contrato sem licitação com a rede de restaurantes Fiorela, que atua no Congresso.Mais uma palavra do vocabulário da corrupção surgiu neste fim de semana, apresentado pelas principais revistas semanais. O “mensalinho”, como vem sendo chamada a propina, teria sido recebido por Severino entre março e novembro de 2003. Na época, o deputado ocupava o cargo de primeiro-secretário da Câmara, tendo como responsabilidade gerenciar o patrimônio da instituição e cuidar das locações do espaço. O empresário dono da rede de restaurantes, Sebastião Augusto Buani, afirma possuir um documento assinado por Severino em que o deputado garante à empresa a renovação do contrato por cinco anos. Cada contrato é anual.

Assinou sem ler?
O escândalo do mensalinho que iria explodir no final de semana, vazou na sexta-feira. Em pânico, Severino Cavalcanti reuniu seus assessores e aliados mais próximos para se defender das denúncias. Articulou uma explicação na qual mistura documentos assinados sem saber o conteúdo, à la Genoíno, com supostas tentativas de extorsão.

A inverídica defesa do deputado dá conta que, tendo terminado o contrato, o empresário Buani teria tentado extorquir Severino, ameaçando “inventar” denúncias contra ele caso o contrato não fosse renovado. Em nota, a assessoria do deputado ainda afirma que, se houver algum documento assinado pelo presidente da Câmara que comprove a irregularidade, ele foi firmado sem que o deputado saiba do conteúdo do papel.

Para dar um pouco de veracidade à história, Severino pediu que a Polícia Federal investigasse a suposta tentativa de extorsão. O pedido foi prontamente atendido pelo Ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos.

Congresso de Severinos
A denúncia aprofundou as rusgas entre Severino e a maioria dos parlamentares. Tal cisão teve início com a entrevista à Folha de S. Paulo publicada no dia 29 de agosto, em que o deputado defende um abrandamento das penas aos deputados envolvidos no escândalo do mensalão. Ao expor o acordão de forma tão explícita, Severino atraiu a ira dos deputados, preocupados com o imenso desgaste que a instituição sofre com a corrupção generalizada.

Os deputados da oposição iniciaram um movimento de isolar Severino, tentando passar a imagem de que o reacionário presidente da Câmara não reflete o conjunto dos parlamentares. No entanto, ninguém faz questão de lembrar que Severino foi eleito presidente da Câmara com 300 votos, ocupando o terceiro maior cargo da República com o apoio da maioria absoluta da casa.

Símbolo do chamado “baixo clero”, Severino ganhou a eleição com uma pauta absurdamente corporativista que prometia, entre outras coisas, aumento de quase 70 % para os deputados. Eleito para dar um aviso ao governo: “queremos mais benesses para apoiar os projetos de Lula”; Severino agora se vê mais próximo do governo federal, ambos se apoiando para evitar o aprofundamento da crise. Os deputados trabalham agora pelo afastamento de Severino, coroando a estratégia de isolamento do deputado.

Fora Todos!
O escândalo aprofunda o desgaste da Câmara e da institucionalidade como um todo. Vale lembrar que, caso vigore o plano B da burguesia, de impeachment de Lula e seu vice, assumirá Severino ou qualquer outro corrupto que venha a ocupar seu lugar. Em todo caso, o Congresso está tão afundado na lama quanto o próprio governo Lula. Ou seja, longe de constituir um exótico espécime da fauna parlamentar, Severino Cavalcanti é o mais fiel representante da democracia burguesa, corrupta em sua essência.