Stephannye denuncia que sua demissão foi motivada por Transfobia

Segundo denuncia, Jacqueline Stephannye Dal Bello Silva foi demitida após assumir-se transexualA transexual Jacqueline Stephannye Dal Bello Silva foi demitida, no dia 10 de setembro de 2012, após trabalhar 14 anos como empregada pública na Sabesp do bairro de São Miguel, em São Paulo. Stephannye procurou o Setorial LGBT da CSP-Conlutas para pedir ajuda e denunciar que sua demissão foi motivada por Transfobia (discriminação contra as pessoas transexuais e transgêneros).

Jaqueline relata que a empresa usou como “justificativa” de demissão a prática do absenteísmo (ausência do colaborador no ambiente de trabalho). Entretanto, Stephannye rebate essa justificativa, pois todas as vezes que precisou ausentar-se no trabalho foi devido ao processo de transformação do seu corpo que estava fazendo no CRT Ambulatório de Saúde Integral para Travestis e Transexuais do Centro de Referência e Treinamento da Secretaria de Saúde do Estado de SP). Todas as ausências foram sempre justificadas por atestados médicos.

Jacqueline contou que sofreu Transfobia ao ouvir do chefe de imediato que desse “um tempo” para que começasse a ir vestida de mulher para que os outros trabalhadores pudessem se acostumar. “Antes de me transexualizar eu conversei com o meu chefe, mostrei laudos psicológicos e psiquiátricos que versavam sobre minha identidade de gênero. Expliquei para ele que não aguentava mais viver naquela situação, e que eu era mulher, e estava fazendo um acompanhamento para mudança de sexo”, explicou. Para ela, a chefia achou mais importante a imagem dela no setor do que o respeito a sua identidade de gênero.

“Mesmo diante daquela situação insustentável eu acatei me vestir de homem para trabalhar, mas todo o resto do tempo era uma mulher… E depois de um período de cinco meses comecei me vestir de mulher também no trabalho”, disse. Mesmo assim, o chefe continuou relutante. “Ele me disse que eu não havia esperado o tempo necessário para a mudança. Quanto tempo ele queria? Não é algo que dá para contar no relógio, esperei muito tempo para tomar coragem de ser quem eu sou. Ou eu enlouquecia ou me assumia como mulher”, desabafou.

Desde que decidiu assumir sua identidade de gênero feminina, no ano de 2011, Stephannye passou a ser perseguida e virou motivo de piadas em seu local de trabalho.

Stephanny diz que desde então o preconceito só aumentou. “Eu queria poder usar o banheiro feminino, mas era repreendida”, lembrou. Ela relata que seu chefe deu como alternativa usar um banheiro precário e reservado para deficientes físicos, mesmo ela não tendo nenhuma deficiência. “Esse banheiro não tinhas as mínimas condições de higiene, não tinha luz e por conta de um vazamento também faltava água e esgoto”, relatou.

Além disso, a transexual denuncia que tinha problemas com o seu crachá, que, ao contrário do definido em lei, não respeitava seu nome social. Em seu e-mail institucional sofria o mesmo problema. Foi preciso acionar um advogado da Secretaria de Justiça e cidadania para que ela pudesse usar o seu nome social no trabalho e ter um e-mail no gênero correto.

Além de toda a perseguição, Jaqueline denunciou um episodio de “Assédio Sexual e tentativa de estupro”, em uma ocasião que usava o vestiário masculino, foi puxada pelo braço, levada a um outro homem, simulando um ato sexual para que outros 10 homens zombassem dela.

Para ela todas essas perseguições explicitam os fortes indícios de que ela foi demitida por Transfobia. Por isso, Stephannye decidiu procurar a CSP-Conlutas já que, segundo ela, o Sindicato que deveria defendê-la, o Sintaema (Sindicato dos Trabalhadores em Água Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo) filiado à CTB, não fez nada para ajudá-la.

Campanha pela reintegração
Para o diretor do SINDSEF – SP e militante do Setorial LGBT, Carlos Daniel, que também é membro da Secretaria Executiva Estadual da CSP-Conlutas SP, a direção do sindicato foi omissa. “Nós da CSP-Conlutas denunciamos esse sindicato que deveria estar do lado da companheira, entretanto, no dia de sua homologação orientou, por meio de sua advogada, a assinar a dispensa”, disse. Explicando que a transexual se recusou a assinar o documento por não concordar com sua demissão.

Carlos Daniel sabe da dificuldade de uma mulher transexual arrumar emprego. “Não queremos que ela seja marginalizada, pois a iniciativa privada dificilmente emprega travestis e transexuais, muitas só conseguem se inserir no mercado de trabalho via concurso público”. Stephannye, que mora em Guaianases, tem 46 anos, uma filha para criar e sabe muito bem que o preconceito a sua identidade de gênero e sua idade pesam na hora de encontrar emprego.

A CSP-Conlutas vai iniciar uma campanha política e jurídica pela reintegração da Stephannye. “Já fizemos uma moção de apoio que foi aprovada num encontro em Brasília e vamos intensificar essa campanha de solidariedade”, finalizou Carlos Daniel.