Lula e seus ministros mais próximos tratam o primeiro semestre de 2009 como os “seis meses terríveis”. De fato, o ano deve começar com “ajustes” nas empresas, com mais demissões. Os salários também perderão poder de compra. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), os efeitos da crise sobre os salários serão “dolorosos”, particularmente entre “os mais pobres”.

A OIT aponta relaciona os grupos mais vulneráveis da sociedade, particularmente mulheres, negros, jovens, terceira idade e menos escolarizados. Se antes da crise, o preconceito já podia ser sentido nas diferenças salariais – mulheres recebem apenas 66,1% do que os homens – agora essa diferença tende a se acentuar. No caso da mulher negra, a diferença é ainda maior.

Os setores oprimidos serão ainda mais atingidos pela crise. E, além das demissões, sofrerão com os cortes nas políticas públicas. Para liberar crédito, o governo já corta no Orçamento. Apesar de divulgar que combate a violência contra a mulher, o governo Lula não liberou os recursos que seriam usados para isso em 2009. O orçamento para prevenir e enfrentar a violência, um dos programas da Lei Maria da Penha, foi contingenciado pelo governo. Ou seja, os recursos, apesar de constarem no Orçamento, estão retidos e provavelmente assim permanecerão. Foi o que ocorreu com 44% do orçamento do programa de 2003 a 2007.

O corte contrasta com as ajudas a bancos e montadoras e mostra qual é de fato a política do governo para as mulheres. Muito discurso, poucas verbas. Enquanto isso, nas ruas, sobram casos como o da menina Eloá, vítima da violência machista.

Que venha 2009!
O ano que acaba foi de muita luta e resistência para os setores oprimidos. Em abril, as mulheres da Conlutas realizaram seu I Encontro Nacional, aprovando um novo movimento de mulheres, classista e socialista. O encontro ocorreu um mês após o ato classista de 8 de Março em São Paulo, onde a Conlutas se colocou como alternativa à Marcha Mundial de Mulheres e a outras organizações governistas, reunindo 700 pessoas.

Durante o ano, as mulheres realizaram encontros regionais, como em São Paulo, Rio e Fortaleza, e nas categorias, como na Apeoesp. Nestes encontros, foi debatida a construção do movimento “Mulheres em Luta”.

No congresso da Conlutas, em julho, negros e negras lançaram o novo movimento negro, de caráter classista, socialista e de oposição ao governo. O Quilombo, a tenda montada no congresso, foi o palco de debates e atividades culturais. O novo movimento foi às ruas no 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra, em capitais como Rio de Janeiro, São Paulo e São Luís.

O movimento GLBT teve um batismo de fogo em 2008, durante a Parada Gay de São Paulo. O carro de som da Conlutas foi impedido de participar da parada, e seus militantes foram agredidos e presos. A repressão ao carro partiu da organização da Parada e motivou uma campanha nacional contra a repressão e a mercantilização das paradas.

No final do ano, a Conlutas esteve a frente de mais um protesto contra o preconceito. Dois homossexuais foram expulsos de uma festa na USP, após se beijarem. A Conlutas e outros movimentos organizaram um “beijaço”, com dezenas de casais.
Em 2009, os movimentos seguirão com um perfil oposto ao das organizações governistas. Diante da crise econômica, reafirmarão o classismo e o socialismo, levantando o espírito da revolta de Stonewall, a herança de Zumbi e as operárias da fábrica têxtil Cotton, nos Estados Unidos.

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