Gildo, aos 33 anos, foi morto covardemente por policiais
Arquivo PSTU

Assassinato de militante do PSTU completa sete anos em outubroNo dia 6 de outubro de 2000, o militante do PSTU e dirigente do Sindicato dos Servidores do Distrito Federal (Sindiser), Gildo da Silva Rocha, foi covardemente assassinado por policiais civis com um tiro pelas costas. O “crime” de Gildo foi organizar a greve dos trabalhadores do Serviço de Limpeza Urbana, na Ceilândia, cidade-satélite de Brasília. Num país em que o direito de greve é tratado com repressão, o crime do sindicalista foi punido com execução sumária por policiais da 15ª Delegacia da cidade.

Gildo tinha 33 anos e deixou uma esposa e dois filhos, uma menina de um ano e um menino de três. Até hoje ninguém foi punido. A injustiça e impunidade marcam a vida da viúva do sindicalista, Gleicimar de Souza Rocha. “Fiquei com vários problemas psicológicos por conta da depressão, é uma angústia muito grande, pois ainda não tivemos justiça”, afirma Gleicimar ao Opinião Socialista.

Execução e fraude
Na época, a justificativa apresentada pela polícia para a abordagem do ativista foi que Gildo se encontrava em “atitude suspeita”. No entanto, tal “atitude suspeita” nada mais era que uma atividade da campanha salarial deliberada pelo Comando de Greve um dia antes. Os trabalhadores do serviço de limpeza pública estavam paralisados. A fim de dificultar a ação dos fura-greves, Gildo, acompanhado de dois companheiros, Geraldo Rufino e Edson Sampaio, saíram às ruas de madrugada para furar os sacos de lixo.

Dois policiais civis, armados e à paisana, renderam os grevistas, mandando-os deitarem no chão. Ao ser abordado por homens armados, sem farda ou identificação, em plena madrugada, Gildo tentou fugir. Os policiais perseguiram o sindicalista, atirando. Ao todo, 17 disparos atingiram o carro do ativista. Um deles atingiu suas costas. Gildo morreu uma hora depois.

Os policiais, da Delegacia de Roubos e Furtos, forjaram a cena do crime, a fim de incriminar Gildo. Afirmaram que o sindicalista disparou contra eles, que apenas revidaram. Utilizando os mesmos métodos da ditadura militar no sumiço de corpos de presos políticos, “plantaram” uma arma e um baseado no carro de Gildo. Da mesma forma, aliciaram uma testemunha para corroborar essa fantasiosa versão.

No entanto, exames comprovaram que Gildo não estava drogado e muito menos havia efetuado algum disparo. O próprio inquérito policial identificou a fraude e os dois policiais foram indiciados pelo Ministério Público.

Processo no STJ
Atualmente, existem dois processos sobre o caso. Um criminal, contra o assassino e outro cível, cobrando a responsabilidade do Estado e exigindo indenização à mulher e filhos de Gildo. O processo criminal está no Superior Tribunal de Justiça. Após ser julgado em primeira instância, o juiz não encaminhou o réu ao julgamento por considerar que o policial agiu no “estrito cumprimento do dever”. O MP recorreu e os desembargadores decidiram por unanimidade que o policial enfrentaria o tribunal do júri e seria julgado por assassinato. No entanto, a defesa do assassino recorreu desta decisão, levando o caso ao STJ.

Já a ação cível não deu em nada até hoje. Recentemente, o Ministério Público pegou o caso e requereu “tutela antecipada”, ou seja, o pagamento das pensões aos filhos do ativista assassinado. Além de todo o transtorno psicológico provocado pelo assassinato e pela injustiça, a indefinição com relação à indenização já causou sérios problemas financeiros à família de Gildo. “Tivemos muitos problemas, tenho que tomar remédio por conta da depressão, tivemos também que mudar de casa”, conta a viúva.

Justiça seletiva
Após passar por um processo administrativo, o policial voltou à atividade, inclusive recebendo novamente o porte de arma. A demora nos processos e a impunidade revelam de forma explícita o caráter da Justiça burguesa, sob a qual os trabalhadores são assassinados e nada ocorre. Algo que Gleicimar sentiu na pele e que ainda procura explicações. “Comecei até a fazer Direito para tentar entender o que aconteceu, por que a Justiça funciona para uns e para outros não”, diz.

Joaquim Roriz também permanece impune
Não é só o policial assassino que permanece impune e solto nas ruas para poder praticar outros crimes. O ex-governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz, que comandava a polícia na época, também não foi incriminado pelo assassinato. Enquanto governou o Distrito, Roriz impôs mão-de-ferro sobre os movimentos sociais, tratando à bala as mobilizações e protestos dos trabalhadores.

Roriz foi governador biônico entre 1989 e 1990, elegendo-se, posteriormente, para um mandato de quatro anos. Foi reeleito mais duas vezes, permanecendo 14 anos à frente do governo do Distrito Federal.

Em 1999, Roriz enfrentou uma greve na Novacap (empresa pública de infra-estrutura) com forte repressão. Jogou o Batalhão Especial da PM (Bope) para cima dos grevistas, causando a morte de um trabalhador, José Ferreira, e ferindo gravemente mais 28. Assim como Gildo, a morte de José Ferreira também continua impune.

“Após a morte de Gildo, Roriz privatizou o serviço de limpeza pública”, afirma Orlando Cariello, ex-presidente do Sindser e atual arquiteto da Novacap, que também passou por privatizações em vários de seus serviços. “O serviço contava com mais de 3 mil trabalhadores”, diz Cariello.

Em 2006, a PM de Roriz reprimiu com violência as manifestações contra o aumento da passagem de ônibus, protagonizadas majoritariamente por estudantes secundaristas.

Mais recentemente, o já senador Joaquim Roriz foi flagrado numa gravação telefônica interceptada pela Polícia Civil do Distrito Federal, combinando a divisão de R$ 2,23 milhões num escritório de Brasília. Roriz renunciou para preservar os direitos políticos e segue impune.

Post author
Publication Date