No dia 10 de outubro, em Belgrado, capital da Sérvia, ocorreu uma forte repressão contra a Parada do Orgulho Gay. Para impedir o ato e paralisar a atividade , manifestantes de extrema direita lançaram coquetéis molotov, garrafas de vidro e pedras contra os participantes e a polícia, resultando no rompimento do cordão de isolamento e a violência contra os que estavam na marcha. Há estimativas, segundo o hospital local, que cerca de 60 pessoas, entre policiais e civis, ficaram feridos.

Desde o sábado 9, véspera da Parada, foram às ruas manifestantes de grupos conservadores protestar contra a marcha. Com o slogan ˝Em defesa da família˝, adultos, jovens e crianças ostentavam cartazes de cunho homofóbico e bandeiras da Sérvia, bradando pela proibição do evento e afirmando que os eventos gays são contrários aos valores familiares e religiosos do país. ˝O Estado nada faz para ajudar as famílias, enquanto autoriza esta marcha contra a natureza˝, disse Miroslav Parovic, um dos porta-vozes da organização ultranacionalista Dveri, que convocou a manifestação.

A primeira Parada Gay em Belgrado aconteceu em 2001, e desde lá sofre com a repressão por parte de conservadores e religiosos. No ano passado, a mesma teve de ser cancelada devido a riscos de reação violenta.

A maioria dos veículos de comunicação enalteceu a ação da polícia. Enaltece também o posicionamento dos representantes da União Européia, que prestaram “apoio” à parada em nome da defesa dos Direitos Humanos. Porém, nada menciona sobre a reação ou o estado dos que organizaram e participaram da Parada, na tentativa de quebrar um tabu histórico em seu país e mostrar o caráter político do ato. Nada menciona sobre os que de fato sofrem o preconceito, não somente em eventos organizados, mas também em seu dia-a-dia, onde são agredidos verbal e fisicamente. Os homossexuais, protagonistas dessa barbárie, sequer são lembrados.

A preocupação das autoridades sérvias agora é de como a manifestação pode prejudicar a entrada na União Européia. Os grupos conservadores e a Igreja Ortodoxa na Sérvia são parte dos dominantes que agem contra as minorias e contra o que lhes parece desagradáveis. Desagradável porque os aparece como mancha em seu governo capitalista e opressor; porque a afirmação e aceitação da diversidade, seja ela sexual ou de qualquer outra natureza, fere a regra de exploração capitalista em sua ideologia porque estaria concedendo direitos de ir e vir, concedendo legítima liberdade.

Homofobia aqui
Outro episódio bizarro de demonstração homofóbica ocorreu na semana,no Rio de Janeiro, com uma campanha em outdoors feita por membros da Igreja Assembléia de Deus Vitória em Cristo, com a mensagem “Em favor da família e preservação da espécie. Deus fez macho e fêmea”. O pastor Silas Malafaia, idealizador da campanha, se manifesta contra projetos de leis que tramitam no Congresso Nacional e em Assembléias Estaduais contra a homofobia. Grupos de homossexuais de São Gonçalo reagiram manchando os outdoors com tinta vermelha, cor escolhida para simbolizar a violência contra os GLBTT.

Não é novidade que, mundialmente, os movimentos sociais são perseguidos e criminalizados. Além da falta de políticas efetivas de igualdade aos homossexuais e ausência da criminalização da homofobia, o grupo ainda é escancaradamente perseguido, com argumentos de tolerância religiosa e preservação da moral. Onde há moral em agredir pessoas por sua condição sexual? A verdadeira intolerância reside na perseguição que expõem gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais a todo tipo de agressão.

É impossível defender a classe GLBTT ao mesmo tempo em que se defendem os interesses daqueles que usam das opressões para lucrar cada vez mais. A luta contra a marginalização do movimento deve persistir, lutando contra toda forma de opressão, fazendo discussões, indo às ruas, protestando, atuando no combate ao preconceito; lutando pela transformação radical da sociedade, lutando pelo socialismo, junto aos trabalhadores, estudantes e demais movimentos sociais. Somente essa transformação caminhará para a mudança na mentalidade social, livre de amarras ditas religiosas e morais.