Artistas deitam no chão para protestar
Ennio Brauns / Indymedia

Os artistas de São Paulo, liderados pelos atores, diretores e técnicos de teatro, estão em pé de guerra contra a prefeitura de São Paulo. Vítimas dos calotes de José Serra (PSDB), como os perueiros e outros profissionais que dependem das verbas da prefeitura, os artistas arregaçaram as mangas e foram à luta. São trabalhadores dos CEUs, construídos pela Marta, que não recebem um tostão desde o ano passado, são artistas de outros programas da prefeitura de incentivo à arte e grupos teatrais que estavam sendo beneficiados pela Lei de Fomento, descumprida descaradamente pela prefeitura.

Antes bem separadas, as diversas organizações dos artistas, como o Movimento Arte contra a Barbárie, a Cooperativa Paulista de Teatro, a Associação dos Profissionais do Teatro Infantil e o Sated (Sindicato dos Artistas), agora vêm se unindo para levar adiante a mobilização. A insatisfação dos artistas começou já no final do governo Marta, que vinha atrasando sistematicamente os salários dos profissionais que trabalhavam nos CEUs. E explodiu quando Serra barrou o pagamento da verba prevista na Lei de Fomento, que beneficia cerca de 70 grupos teatrais de São Paulo. A rápida mobilização dos artistas fez com que Serra pelo menos pagasse a verba atrasada. Agora ameaça mudar ou mesmo suprimir a Lei de Fomento, que foi uma conquista dos artistas e vinha ajudando a manutenção de grupos e o fortalecimento do teatro em São Paulo.

`Manifestação

A resposta dos artistas
Os artistas entraram em processo de assembléia geral permanente e estão divulgando um manifesto exigindo a manutenção da Lei de Fomento. Em assembléia realizada dia 14 último, com mais de 200 artistas presentes, foram constituídas três comissões: uma para difundir o Manifesto, outra para organizar a Mobilização e uma terceira que irá redigir um segundo texto destinado à opinião pública e com uma abrangência além da questão da Lei de Fomento.

JoséNa quarta-feira, dia 30, realizaram um grande protesto, com cerca de 500 pessoas, em frente ao Teatro Municipal de São Paulo. A manifestação, com diversas apresentações, de música e teatro, reuniu muitos artistas e diretores, que, vestidos de branco, deitaram-se no chão para protestar. O ato fez com que o governo acenasse com a retomada do projeto.

Há muito tempo, talvez desde a grande luta contra a censura no governo militar, não se via um processo de mobilização tão forte entre os artistas. Atingidos por um processo generalizado de despolitização, fruto de uma pulverização enorme entre suas organizações, da burocratização do Sated e do surgimento de movimentos progressivos, como o Arte contra a Barbárie, porém com uma postura equivocada de pregar a despolitização do movimento, impedindo qualquer tipo de discussão política mais profunda em nome de buscar sempre “o consenso“, os artistas ficaram à mercê das benesses do capital privado, dos grandes bancos, que praticamente controlam a arte, das iniciativas patronais, como os Sescs e de políticas públicas insuficientes, precárias e assistencialistas.

O resultado está aí. O desemprego é generalizado, a insatisfação enorme e a arte é um produto glamurizado, reduto exclusivo das estrelas globais e feito sob medida para consumo das elites. Como diz um trecho do manifesto, “A Arte, entre outras tarefas, está aqui para nos lembrar que nosso tempo e nossa vida são agora”.