O presidente do Senado, o latifundiário José Sarney (PMDB/MA), aproveitando-se de forma oportunista da comoção nacional que envolve o caso do assassinato em massa de 12 alunos/as em Realengo, no Rio de Janeiro, lançou a proposta no Senado, onde este é presidente, da realização de um plebiscito nacional sobre a questão do comércio de armas e munição. Segundo o eterno senador peemedebista, o plebiscito ocorreria no dia 1º de outubro deste ano e teria uma única pergunta a ser respondida pelo eleitorado brasileiro, que seria a seguinte: “O comércio de armas de fogo e munição deve ser proibido no Brasil?”.

Afirmamos que a proposta é oportunista por duas razões: 1ª) em 2005, foi realizado um referendo nacional sobre a mesma matéria e a ampla maioria do povo foi CONTRA a proibição de comércio de armas de fogo. Portanto, se existe no Brasil uma verdadeira democracia, como Sarney e seus aliados no Congresso e no governo gostam tanto de afirmar várias vezes, então que prevaleça a vontade popular, já manifestada no referendo de 2005; 2ª) Sarney, como bom urubu que é, faz esta proposta de forma demagógica e oportunista por conta do sentimento de milhões de brasileiros/as, comovidos/as ao extremo por conta das chocantes cenas ocorridas em Realengo, semana passada. E dessa maneira aproveita-se da situação para promover mais uma “politicanalhice” pura.

O senador maranhense, eleito pelo Amapá, quer fazer crer (mais uma vez, diga-se de passagem) ao povo brasileiro que a raiz da violência está no comércio de armas e munição em nosso país. Como bom membro da elite brasileira, procura com isso fazer a discussão pelo seu efeito e não pela sua causa. Com isso pretende mais uma vez ludibriar a opinião pública nacional.

O assassino de Realengo atende pelo nome de Wellington, mas poderia muito bem ser José, Antonio, Marcos, ou mesmo Sandra, Mõnica, Maria. Qualquer um/a poderia ter protagonizado aquelas cenas de horror que assistimos no Rio de Janeiro. Como também o local poderia ser outro qualquer, tipo São Paulo, João Pessoa, São Luís. As causas do que ocorreu na escola Tasso da Silveira poderiam se reproduzir em qualquer escola pública (ou particular) de nosso país e suas causas não estão direcionadas apenas para o perfil do assassino, mas sim pelas razões político-sociais que a classe trabalhadora brasileira passa em nosso país.

Esta classe trabalhadora é superexplorada pelo capital e, além dessa exploração, é também oprimida pelo machismo, racismo e homofobia. O capital e seus possuidores e/ou representantes, como José Sarney e tantos outros, estão pouco se lixando para os problemas cotidianos que nossa classe sofre. Querem apenas manter esse status quo para se perpetuarem no controle da situação.

Nossa sociedade, da forma como está organizada hoje, só faz gerar personalidades como a de Wellington Menezes. É sabido hoje que o jovem assassino de Realengo passou por problemas seríssimos de bullying na escola onde estudava, a mesma onde ele promoveu o massacre de jovens indefesos. E o que a escola fez para identificar e resolver este problema? Nada ou quase nada, como se sabe até agora. E de quem é a responsabilidade sobre isso?

O principal responsável por isso é o Estado brasileiro, que ano após ano, corta as verbas da educação pública e, com isso, faz com que as escolas deixem de contratar profissionais qualificados para fazer este trabalho no interior das escolas, como psicólogos, assistentes sociais, orientadores educacionais. O governo Dilma acaba de cortar mais de R$ 50 bilhões do orçamento deste ano e mais uma vez tal medida prejudicará ainda mais a área social, como Educação. E quem sofre com isso na ponta da tabela são os profissionais da educação pública, que terão que se virar para dar conta da precária situação por que passam as escolas públicas de nosso país, do Oiapoque ao Chuí.

Wellington Menezes poderia até ter tentado fazer o que fez, mas se houvesse um acompanhamento correto por parte da escola, isso poderia ter sido evitado. Mas o Estado brasileiro e seus dirigentes – presidente, governadores e prefeitos – não estão preocupados com isso, mas sim em procurar dar mais dinheiro público às escolas e universidades particulares e garantir o sono tranquilo dos banqueiros através da alta taxa de juros, os maiores do planeta.

Há muito tempo que é sabido por toda a sociedade que o espaço escolar atual tem sérios problemas, inclusive de segurança. Mas isso só entra em debate quando é período eleitoral e os representantes do capital, ao se lançarem candidatos, ADORAM afirmar que em seu governo “educação é prioridade”. Depois, quando eleitos, podemos assistir na prática a tal prioridade na educação. Corte de verbas, desrespeito a direitos trabalhistas elementares, assédio moral e sexual e muito mais.

Assim, é reconfortante para Sarney e outros aparecerem agora e sugerirem um plebiscito sobre o comércio de armas e munição em nosso país. Como se a vitória nesse plebiscito que eles pretendem (proibir o comércio de armas e munição) fosse realmente resolver o problema.

Assim como em 2005, somos CONTRÁRIOS ao desarmamento! Querem com isso desarmar o povo trabalhador e fazer com que o Estado, através de seu aparelho repressor, assuma a condição de protetores da sociedade. Mas quem confia, em sã consciência, na polícia como ela está organizada atualmente?

Da forma como é a proposta, os bandidos continuarão a ter armas e o povo ficará desprotegida, à mercê de uma polícia que a população não confia. Além de que a proibição do comércio de armas e munição, caso seja vencedora, NÃO acabará com o tráfico ilegal de armas e munição. Pois este existe hoje e continuará existindo após o plebiscito, com a conivência do Estado e de seus aparelhos de repressão.

* Antonio Ferreira Lima Neto é professor de História e sindicalista em João Pessoa (PB), e integrante da CSP-Conlutas. Texto publicado originalmente no blog http://antonioradical.blogspot.com