Em Belém, entidades discutem crise econômica e reorganização e aprovam atividades conjuntasDepois de quase dois anos, as diferentes organizações sociais e sindicais de esquerda que fazem oposição ao governo Lula voltaram a se encontrar. O seminário “A crise econômica mundial, os desafios, a classe trabalhadora e a reorganização do movimento popular”, ocorrido no dia 29 de janeiro, durante o Fórum Social Mundial, colocou novamente no mesmo espaço diferentes correntes combativas.
O evento contou com a presença da Conlutas, da Pastoral Operária de São Paulo e de diversos setores que compõem a Intersindical, como APS, C-SOL e Enlace. Participaram também MTL (Movimento Terra e Liberdade), MAS (corrente prestista) e MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto). O seminário contou com cerca de 800 ativistas de todas as partes do país.

A última vez que isso ocorreu foi no Encontro Nacional Sindical, em março de 2007, em São Paulo. A grave crise econômica mundial, que já produziu uma onda de desemprego no planeta e afeta agora o Brasil, mostrou a necessidade da organização na luta contra seus efeitos. Mostrou, mais que tudo, a urgência de se avançar na construção de um único instrumento de luta da classe trabalhadora.

Efeitos da crise
As diferenças entre as organizações são várias e, em alguns casos, profundas. Mas vão no mesmo sentido quanto à gravidade da crise e seus efeitos sobre os trabalhadores. “Estamos vivendo uma crise clássica do capitalismo e sabemos muito bem o que esse sistema faz para superá-la: fecha fábrica, acaba com o emprego, retira direitos”, analisou José Maria de Almeida, o Zé Maria, da Coordenação Nacional da Conlutas.

“Os governos do Brasil e do mundo tentam jogar a crise nas costas dos trabalhadores”, disse Edson Costa, o Índio, representando o Enlace. E, se a crise já não bastasse, os patrões têm ainda a ajuda das centrais para fazer com que os trabalhadores paguem seu preço. “As centrais pelegas atreladas ao governo discursam contra a retirada de direitos, mas na base aplicam a mesma coisa que atacam na imprensa”, denunciou Douglas Diniz, dirigente da CST, corrente interna do PSOL.

Os debatedores lembraram que, com a crise, aumenta a repressão à organização sindical e contra os ativistas. Casos como o de Joinville Frota, dirigente rodoviário do Amapá, ameaçado de morte, se espalham por todo o país. “Se nos atacarem, temos que estar unidos para contra-atacar”, afirmou Janira Rocha, dirigente do MTL. “Não somos coelhinhos para morrer com pancada na cabeça”, disse.
Diante de todas as dificuldades, qual a saída para a crise? Para Zé Maria, ela não pode ser superada pelos trabalhadores dentro das regras deste sistema. “Acabar com esta crise significa superar a propriedade privada e destruir o Estado burguês rumo a uma sociedade socialista”, defendeu.

Reorganização e polêmicas
Superar esta crise e este sistema, porém, é impossível sem a organização dos trabalhadores, independente do governo e das centrais a ele atreladas. Isso também foi consenso entre as distintas correntes e entidades presentes e o que moveu todos a se reunirem novamente. “Hoje estamos fazendo história, talvez só daqui a vinte anos possamos olhar para trás e ver a importância de nosso gesto”, disse Zé Maria.
A unificação é necessária. O ritmo desse processo e o caráter dessa nova organização, porém, são polêmicos, como não poderia deixar de ser diante do número de correntes, setores, regiões e tradições diferentes. Alas da Intersindical, por exemplo, defendem uma entidade de caráter meramente sindical, ou seja, sem movimentos sociais e populares, diferente do que hoje é a Conlutas.

Apesar de todas as diferenças, o dirigente da Conlutas propôs um grande encontro nacional dos trabalhadores ao final do ano, para discutir o processo de unificação.

Aproximação
O processo de aproximação entre os lutadores avança. Ao final do encontro, os ativistas aprovaram um documento assinado pelas entidades. O ponto principal é a necessidade de organizar um seminário nacional no final de março ou início de abril, para iniciar a discussão sobre concepção e natureza de uma organização unitária.

Seria a primeira ação para criar uma relação de proximidade e confiança, estreitando as relações dos que se colocam à esquerda do governo Lula. A partir daí, seriam realizadas atividades conjuntas nos estados, culminando num grande encontro nacional no final de 2009.

Post author Diego Cruz e Priscila Duque, de Belém (PA)
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