No início da tarde do dia 4 de fevereiro foi realizado o seminário pela Auditoria Cidadã da Dívida. O evento contou com a presença de 400 pessoas aproximadamente no Auditório do Instituto Estadual de Educação. O seminário teve como um dos pontos altos a apresentação de pesquisas e estudos por vários expositores, seja pela compreensão e disposição política de realizar uma grande campanha no Brasil pela auditoria da dívida e a suspensão do pagamento da dívida externa.

O seminário teve entre seus principais organizadores a Campanha Jubileu Sul contra o pagamento da dívida externa e a Unafisco (entidade que representa os fiscais e auditores da Receita Federal).

O seminário foi coordenado pelo professor Ivo Poletto, da campanha Jubileu Sul no Brasil e teve como expositores o professor e consultor econômico Marcos Arruda, o também professor de Economia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Reinaldo Gonçalves, o senador do PT Educardo Suplicy, a representante da Unafisco Maria Lucia Faturelli, a Coordenadora do Jubileu Sul, Beverly Kenne e o professor e dirigente do PSTU, Valério Arcary.

O deputado federal do PCdoB, Sérgio Miranda, também convidado, não pode comparecer por razões de saúde e mandou uma carta ao encontro.

A auditoria da dívida é uma reivindicação antiga de vários setores que não aceitam mais a forma como governo brasileiro assina os acordos com o FMI. Esta reivindicação esteve na cédula de votação do Plebiscito da Dívida Externa realizada em setembro de 2000 e já foi produto de duas emendas uma na Câmara dos deputados e outra no Senado solicitando a realização de uma auditoria nas dívidas externa e na dívida pública interna.

Muitos dados relevantes foram apresentados durante o seminário, mostrando o saque que o Brasil está submetido há décadas pelo pagamento sem fim da dívida. Por exemplo, entre 1995 e o ano 2000 o Brasil pagou 148 bilhões de dólares de juros e amortizações da dívida externa e mesmo assim a dívida está em 237 bilhões, segundo mostrou o professor Reinaldo Gonçalves.

As exposições também mostraram muito bem a relação entre a crise social e o pagamento da dívida e ainda conseguiram mostrar Omo a dívida é ilegítima e não pode mais ser paga.

Os discursos que mais causaram impacto foram os de Maria Lucia Faturelli que apelou a que lutemos pela auditoria para provar a ilegitimidade da dívida e de Valério Arcary, que expôs de forma clara que não haverá futuro para o país se continuarmos a pagar a dívida externa, que precisamos partir para a mobilização popular para conseguirmos a auditoria e a suspensão do pagamento e dessa forma conseguirmos a segunda independência nacional.

O compromisso de todos ao final dos debates foi o de sair dali com a cartilha sobre a auditoria da dívida, levá-la em todos as cidades, locais de trabalho e escolas do país para desencadear uma campanha nacional pela Auditoria da Dívida.

A palavra dos debatedores

“A dívida é impagável. E o problema é que sequer nós devemos, essa dívida é ilegítima. É isso que os povos da América Latina precisam compreender. Não se trata de dar calote, a questão é: não devemos e não pagamos. Não temos que pedir perdão a ninguém, simplesmente queremos o cancelamento da dívida externa que não fizemos.”
Beverly Kenne

“Estamos diante de um enorme desafio, por causa do saque e do pagamento da dívida estamos assistindo gerações sendo humilhadas, aos nossos olhos estamos vendo diariamente uma desagregação social e temos que responder se vamos continuar aceitando isso.
A essência do problema é político, temos que ir a mobilização popular para conseguirmos a auditoria e a suspensão do pagamento e essa será a forma de defendermos o país do saque e conquistarmos nossa segunda independência nacional.”
Valério Arcary

“Há 52 milhões de miseráveis no país e queremos a auditoria da dívida para provar que ela é ilegítima e pior é a responsável pelo agravamento desse quadro de miséria social.
Precisamos conseguir uma articulação dos países devedores para lutarmos pela auditoria, pois dessa forma mostraremos e eu estou segura disso, que ela é ilegítima.”
Maria Lucia Faturelli

“Há uma insolvência técnica do Brasil, o pagamento da dívida sob a forma de novos empréstimos para pagar juros é ilegítimo e impossível de ser cumprido. A irresponsabilidade desse governo em abrir o país a dependência total do capital estrangeiro está levando o país para uma situação dramática. Por isso, a auditoria é imprescindível.”
Marcos Arruda

“O pagamento de juros da dívida pública previsto no Orçamento é da ordem de 116 bilhões de reais. Isso é 4 vezes o que o governo vai investir na Saúde, é 82 vezes o que o governo vai investir com a Reforma Agrária. E mesmo assim, a dívida não parou de crescer.
Quem nascer no dia 2 de janeiro de 2003 vai estar devendo 5 mil reais, pois isso é a dívida “per capita” do país. Em 2 de janeiro de 1995 essa dívida “per capita” era de 2 mil reais. Logo, a incompetência do governo FHC – e sua opção por contratos desvantajosos – é a razão da situação ter se agravado.
É uma questão de tempo para estourar no Brasil uma crise da dívida nas mesmas proporções do que está hoje na Argentina”.
Reinaldo Gonçalves

“Defender a auditoria da dívida é um dever que temos para com o país. Se o que está sendo pago para a dívida externa anualmente fosse investido no país seria possível dar 40 reais por mês para cada brasileiro, por cabeça. Essa quantia, embora modesta dá uma dimensão do impacto que poderia ter no país.
Apresentamos no Senado uma emenda pela retirada do Brasil das negociações da Alça, pois após o a aprovação do fast-track não faz mais sentido o Brasil continuar nessas negociações.”
Eduardo Suplicy