Plenário lotado pelos mais de 800 ativistas presentes
Pedro Palikura

Entidades aprovam dia nacional unificado de lutaDepois de quase dois anos, as diferentes organizações sociais e sindicais de esquerda que fazem oposição ao governo Lula voltaram a se encontrar. O seminário “A crise econômica mundial, os desafios, a classe trabalhadora e a reorganização do movimento popular” ocorrido na manhã desse dia 29 durante o Fórum Social Mundial, colocou novamente no mesmo espaço a Conlutas, pastorais, e diversos setores que compõem a Intersindical, como o MES, MTL, Enlace e a APS. Estiveram presentes cerca de 800 ativistas de todas as partes do país.

O encontro de forças políticas do campo combativo e de esquerda ocorreu no ginásio da UEPA. Ironicamente, o evento acontecia poucas horas antes da chegada do presidente venezuelano Hugo Chávez, para evento no mesmo local. A grave crise econômica mundial que já produziu uma onda de desemprego no planeta e afeta agora o Brasil mostrou a necessidade da organização da luta contra seus efeitos sobre os trabalhadores. Mostrou, sobretudo, a urgência de se avançar na construção de um único instrumento de luta da classe trabalhadora.

Efeitos da crise
As diferenças entre as organizações são várias e, em alguns casos, profundas. Mas convergem com relação à gravidade da crise e seus efeitos sobre os trabalhadores. “Estamos vivendo uma crise clássica do capitalismo e sabemos muito bem o que esse sistema faz pra superá-lo: fecha fábrica, acaba com o emprego, retira direitos“, analisou José Maria de Almeida, o Zé Maria, da Coordenação Nacional da Conlutas.

“O governo do Brasil e do mundo tentam jogar a crise nas costas dos trabalhadores”, disse Edson Costa, o Índio, representando o Enlace. E se a crise já não bastasse, os patrões têm ainda a ajuda das centrais para fazer com que os trabalhadores paguem seu preço. “As centrais pelegas atreladas ao governo que discursam contra a retirada de direitos mas na base aplicam a mesma coisa que atacam na imprensa”, denunciou Douglas Diniz, dirigente da CST, corrente interna do PSOL.

Os debatedores lembraram que, com a crise, recrudesce a repressão à organização sindical e contra os ativistas. Casos como o de Joinville Frota, dirigente rodoviário do Amapá, ameaçado de morte, pipocam por todo o país. , afirmou Janira Rocha, dirigente do MTL. “Não somos coelhinhos para morrer com pancada na cabeça”, disse.

E qual a saída para a crise? Para Zé Maria, essa crise do capital não pode ser superada pelos trabalhadores nos marcos desse sistema. “Acabar com essa crise pressupõe superar a propriedade privada, destruir o Estado burguês rumo a uma sociedade socialista”, defendeu.

Reorganização e polêmicas
Superar essa crise e esse sistema, porém, é impossível sem a organização dos trabalhadores, independente do governo e das centrais a ele atreladas. Esse foi também consenso entre as distintas correntes e entidades presentes e o que moveu esses distintos setores para se reunirem novamente. A última vez que isso ocorria foi durante o Encontro Nacional Sindical, em março de 2007 em São Paulo. “Hoje estamos fazendo história, talvez só daqui a vinte anos possamos olhar pra trás e ver a importância de nosso gesto”, disse Zé Maria.

A unificação é necessária. O ritmo desse processo e o caráter dessa nova organização, porém, são polêmicas, como não poderia deixar de ser diante do número de correntes de setores, regiões e tradições diferentes. Setores da Intersindical, por exemplo, defendem uma entidade de caráter meramente sindical, ou seja, sem movimentos sociais e populares, como ocorre na Conlutas.

Apesar de todas as diferenças, o dirigente da Conlutas propôs a realização de um grande encontro nacional dos trabalhadores ao final do ano, a fim de se discutir o processo de unificação.

Aproximação
O senso de responsabilidade diante da crise vai se impondo e o processo de aproximação entre as organizações avança. Ao final do encontro, os ativistas referendaram um documento assinado pelas entidades colocando como ponto principal a necessidade da organização de um dia nacional de luta. Seria a primeira ação no intuito de se forjar uma relação de proximidade e confiança, estreitando as relações dos setores que se colocam à esquerda do governo Lula. A data indicativa para as mobilizações foi o final de março.