Na tarde do domingo, dia 26, ocorreu o seminário “O governo Lula e as experiências de Frente Popular na América Latina”, no salão de atos da PUC, prédio 50. Coordenando a mesa estava Fredy Salazar (PST-Peru). Os expositores foram José Maria de Almeida (ex-candidato à presidência da República do Brasil pelo PSTU), Eduardo Almeida Neto (PSTU-Brasil) e Tom Lewis (ISO-EUA). Participaram do evento cerca de 1.000 pessoas.

Eduardo Almeida caracterizou a natureza da Frente Popular como “governos que, através de suas representações políticas, são de conciliação de classes entre proletariado e a burguesia”. Dos traços que se apresentariam nas experiências de Frente Popular se destacariam, por uma lado, que estes governos têm o objetivo de garantir a estabilidade do regime democrático-burguês e da economia capitalista.

Por outro, sua ascensão leva à grandes ilusões nas massas trabalhadoras, que vêem esses governos como seu. A Frente Popular, apoiada nestas ilusões, atuaria no sentido de contenção e desmobilização do movimento de massas, abrindo caminho para derrotas dos trabalhadores. Portanto, tratam-se de governos que têm por objetivo impedir a revolução, desviá-las ou até mesmo enfrentá-las.

Tom Lewis enfoca especialmente como o imperialismo norte-americano e seus meios de comunicação vêem a vitória de Lula no Brasil: “O jornal Washington Post afirmou em editorial que o novo governo brasileiro não se afastaria das políticas de mercado livre, desenvolvidas no período de Fernando Henrique Cardoso”. Lewis cita também a revista The Economist, quando da visita do presidente eleito aos EUA, que estampava como manchete: “Lula e Bush comportaram-se como velhos amigos”.

A vitória de Lula, para Zé Maria, abriu uma nova situação política, mais favorável para a luta de classes no país. O descontentamento com o governo de Fernando Henrique Cardoso, que aplicou os planos neoliberais durante os últimos 8 anos, teriam levado as amplas massas da população a votarem massivamente na Frente Popular encabeçada pelo PT, na esperança de que um novo governo encabeçado por Lula pudesse realizar grandes mudanças sociais e econômicas em favor dos trabalhadores.

No entanto, a opção do novo governo foi dar continuidade às diretrizes impostas pelo FMI e herdadas de FHC. As prioridades do governo Lula estariam voltadas para atender os compromissos estabelecidos com os banqueiros, empresários e latifundiários. Mesmo o programa Fome Zero, grande vedete das suas políticas sociais, já nasce fadado a sofrer com a falta de verbas para a sua implementação, devido à prioridade dada ao pagamento dos juros da dívida externa e interna.

Zé Maria criticou ainda os setores da esquerda que afirmam que se lutarmos pelas reivindicações dos trabalhadores, exigindo de Lula seu atendimento, poderíamos desestabilizar o governo, contribuindo para o seu fracasso. Para estes setores, isto significaria não só a derrota do governo, mas da própria esquerda e da classe trabalhadora, ou seja, abriria espaço para o crescimento da direita, que capitalizaria a crise do governo Lula.

Para Zé Maria, ao contrário, os trabalhadores só serão derrotados, isso sim, se os compromissos com o pagamento das dívidas externa e interna, a implementação da Alca, as reformas trabalhista e da previdência social forem materializados pelo próprio governo Lula. Zé Maria foi categórico: “os trabalhadores devem impedir com sua luta que o governo Lula dê continuidade a essa política pró-imperialista”.