Doze anos após o massacre de Eldorado dos Carajás, campanha realizada pela Vale do Rio Doce, pela grande imprensa e pela Justiça tenta criminalizar MSTAtivistas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) realizaram uma série de protestos em vários estados nesta quinta-feira, 17 de abril, data que marca os 12 anos do massacre de Eldorado dos Carajás (PA). Em 1996, 19 trabalhadores rurais foram assassinados num confronto com a Polícia Militar.

Além de lembrar o massacre de Eldorado, os trabalhadores exigiram agilidade na reforma agrária, paralisada pelo governo Lula. O dia foi marcado por vários bloqueios de rodovias, atos em praças de pedágio e ferrovias, além da ocupação de uma usina e de fazendas.

No Pará, os sem-terra realizaram um protesto junto à Ferrovia de Carajás, em Parauapebas. A ferrovia pertence à mineradora Vale, ex-Companhia Vale do Rio Doce. Cerca de 800 pessoas estiveram na manifestação. Além disso, ativistas do MST ocuparam por 15 minutos a sede administrativa da Vale, localizada em Belém (PA).

No Paraná, 11 praças de pedágio foram ocupadas pelo movimento. No Rio Grande do Sul, 120 pessoas bloquearam a RSC-392, que dá acesso ao município de Tupanciretã. Além disso, cerca de 300 ativistas ocuparam o pátio da Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária, Pesca e Abastecimento (Seappa) e o pátio da Receita Federal.

Em Sergipe, manifestantes do MST ocuparam uma usina hidrelétrica na região de Canindé de São Francisco. No Mato Grosso, os manifestantes bloquearam a BR-070 na altura do quilômetro 718, em Cáceres. Na Paraíba foram realizadas seis ocupações de terra e o bloqueio da rodovia. No Ceará, pelo menos duas rodovias federais foram ocupadas.

Em São Paulo, cerca de 200 pessoas ocuparam a Secretaria Municipal da Educação de Ribeirão Preto. Já em Minas Gerais, segundo o MST, uma fazenda foi ocupada.

A Vale contra os sem-terra
Os protestos do dia 17 ocorreram em meio a uma chuva de ataques promovidos pela Vale contra os sem-terra. No dia 11, cerca de 600 policiais foram deslocados para “proteger” a companhia contra ações do movimento. Junte-se a isso a enorme campanha de mídia, capitaneada pela rede Globo, para criminalizar os sem-terra.

O objetivo é criar um clima de tensão para atiçar a violência e, assim, justificar qualquer tipo de repressão contra os trabalhadores em Parauapebas (PA), região onde fica a Mina de Ferro Carajás e onde funcionários da própria Vale reivindicam seus direitos trabalhistas. Recentemente, o próprio presidente da Vale, Roger Agnelli, assumiu diretamente este trabalho sujo, chamando os militantes do MST de “bandidos”.

A Justiça – sempre aliada dos ricos e poderosos – concedeu uma liminar à companhia que proíbe manifestações nas instalações da empresa e responsabiliza pessoalmente o dirigente do MST, João Pedro Stédile. A multa pelo descumprimento da sentença é de R$ 50 mil.

Após os protestos do dia 17, a diretoria da Vale publicou uma nota atacando duramente as ações dos sem-terra, além de cobrar uma ação repressiva do Estado contra o movimento. “A Vale confia que as Polícias Federal, Militar e Civil do Estado do Pará vão agir com firmeza para restabelecer o Estado de Direito”, diz a nota.

Quem é bandido?
Doze anos depois, as mesmas elites que realizaram o massacre em Carajás, repetem as mesmas provocações que culminaram na tragédia. Realizam, assim, uma ação criminosa contra os sem-terra, que poderá resultar em novo massacre.

Por outro lado, é sempre bom lembrar ao presidente da Vale que bandidos são aqueles que se beneficiaram com a privatização da companhia. A ex-estatal foi vendida pelo ex-presidente FHC por R$ 3,3 bilhões, num leilão repleto de irregularidades, enquanto seu patrimônio era calculado em R$ 92,6 bilhões. Isso explica os fabulosos lucros da empresa. Os movimentos sociais devem exigir a reestatização da Vale. Algo que o governo Lula se nega a fazer.

Crimes e impunidade
Passada mais de uma década do massacre, reina a mais completa impunidade em relação aos assassinos de Eldorado dos Carajás. Ainda permanecem soltos os 155 policiais que mataram 19 trabalhadores rurais e deixaram 69 pessoas mutiladas. Somente dois foram condenados: o coronel Mário Collares Pantoja e o major José Maria Pereira de Oliveira, que aguardam em liberdade a análise do recurso da sentença.

A impunidade é prima-irmã dos crimes do latifúndio. Nos últimos anos, houve um aumento da violência no campo. De acordo com a CPT (Comissão Pastoral da Terra), a violência sofrida por trabalhadores rurais no Brasil aumentou 50% em 2007 comparada a 2006. No total, 28 trabalhadores foram assassinados em todo o país no ano passado e 259 pessoas foram ameaçadas de morte. Os estados onde o aumento da violência foi mais significativo são Roraima e o Mato Grosso.

Mas a violência no campo não está associada apenas à velha figura do coronel latifundiário – símbolo histórico da concentração de terras no Brasil. Atualmente, o maior promotor dos assassinatos é o agronegócio que se caracteriza pela forma da monocultura, associada à grande propriedade e ao emprego de alta tecnologia na produção.

Além de aumentar a violência no campo, o agronegócio é apontado como um dos principais responsáveis pela diminuição da produção de alimentos, que vem provocando o aumento dos preços.