Nesta quinta-feira, 12 de junho, cerca de 1.500 trabalhadores sem-terra da Via Campesina e da Assembléia Popular ocuparam uma ferrovia da Vale em Minas Gerais. A ocupação faz parte da Jornada Nacional de Lutas contra o Agronegócio e as Transnacionais que iniciou na terça-feira, 10.

A ação foi para exigir o reassentamento de 500 famílias da comunidade Pedra Corrida. Elas ficarão desabrigadas por causa da construção da barragem Baguari, de responsabilidade da mineradora. Participaram, segundo a agência Brasil de Fato, famílias atingidas pelas obras, quilombolas e indígenas. Eles permanecem no local.

Na construção de uma outra barragem, a de Aimorés, mil pessoas ficaram desabrigadas. A postura da Vale é de descaso: até agora, nenhuma solução foi apresentada às famílias. A mobilização também exige o aumento dos royalties que a Vale paga aos municípios e o pagamento de uma dívida da companhia que chega a R$ 6 bilhões.

A Vale foi privatizada em 1997, no governo de Fernando Henrique Cardoso. Várias irregularidades foram encontradas no processo de venda. No ano passado, num plebiscito nacional, mais de 2,5 milhões de pessoas votaram pela reestatização da companhia. Até hoje, o governo Lula sequer apurou as irregularidades.

Jornada já protestou em pelo menos 13 estados
Na terça-feira, o movimento realizou protestos em 13 estados brasileiros: Pernambuco, Paraíba, São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Santa Catarina, Alagoas, Paraná, Tocantins e Rondônia. Em vários, houve repressão policial.

Em nota divulgada no site do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o movimento informa que os protestos foram “para denunciar os problemas causados pela atuação das grandes empresas no país, especialmente as estrangeiras, que são beneficiadas pelo modelo do agronegócio e pela política econômica neoliberal”. Houve bloqueio de estradas, ocupações e passeatas.

Em Minas, 500 ativistas bloquearam a ferrovia da Vale em Belo Horizonte. A passagem do trem por neste trecho tem causado diversos problemas à população, como o bloqueio do trânsito, barulho excessivo e abalo nas estruturas das casas.

Na Bahia, agricultores ocuparam a barragem da usina de Sobradinho. No Nordeste, as manifestações também foram contra o projeto de transposição do rio São Francisco. As obras do governo federal trarão miséria para a região e só beneficiarão os latifundiários.

Em Pernambuco, 200 trabalhadores rurais ocuparam a Estação Experimental de Cana-de-Açúcar (EECAC), no município de Carpina. Neste local, são feitos testes para a monocultura da cana. Os manifestantes destruíram mudas, inclusive transgênicas, e cerca de dois hectares da plantação da estação, segundo informa o MST. A monocultura da cana-de-açúcar, voltada, sobretudo, à produção de etanol, tem sido um dos principais fatores para a crise dos alimentos.

Uma fazenda no município de Mirante do Paranapanema (SP) foi ocupada por cerca de 450 pessoas. As terras pertencem à Odebrecht, que está construindo uma usina para produção de etanol em terras públicas. Na cidade de São Paulo, 600 trabalhadores protestaram no prédio da Votorantim e CPFL e foram reprimidos pela Polícia Militar com spray de pimenta e balas de borracha. Cinco manifestantes foram presos.

No Rio Grande do Sul, a transnacional Bunge, em Passo Fundo, norte do estado, foi ocupada. A usina hidrelétrica de Ita, na divisa com Santa Catarina, também foi ocupada. A usina pertence à transnacional Suez-Tractebel e é a maior geradora de energia do país. Em Santa Catarina, foram distribuídas 500 mudas de árvores nativas e 15 toneladas em cestas de alimentos para a população de Otacílio Costa.

*Com agências