Os metalúrgicos estão em campanha salarial. Em conjunto com a CSP-CONLUTAS, várias mobilizações já foram realizadas desde o mês de agosto. Para saber melhor como estão as dinâmicas das lutas, das negociações e da unidade entre os sindicatos, o Opinião SocOpinião Socialista – Como estão as negociações?
Vivaldo – No setor de autopeças já tivemos alguns avanços nas cláusulas sociais. A mais importante é a ampliação da licença-maternidade para 180 dias. Ainda não avançamos nas cláusulas econômicas. O setor de fundição ofereceu 7%, mas recusamos imediatamente. Reajuste não é esmola!

E o setor de montadoras, como está?
Está apostando na enrolação. Recusa-se a negociar as cláusulas sociais e não tem propostas salariais porque considera um absurdo nosso índice de 17,45%.
É verdade que o índice precisa ser atualizado, já que a inflação é menor do que projetamos. Mesmo assim, não é nenhum absurdo. Absurdo são os lucros que os patrões tiveram no governo Lula. Pior ainda é não repassarem aos trabalhadores sua parte.

Como vocês pretendem resolver esse impasse?
Como sempre fizemos. Na luta! Já realizamos assembleias em várias fábricas, decretamos avisos de greve, atrasamos a entrada, paralisamos a produção e agora vamos começar as greves, caso os patrões continuem intransigentes.

Paralisamos hoje [2/09] a GM por duas horas. Numa ação articulada, também pararam os trabalhadores de Campinas e os demais do nosso bloco de negociação. Nossa esperança é de que o pessoal de São Caetano do Sul tenha feito o mesmo.

Como está a situação da GM?
Eles ganharam muito dinheiro este ano. Em 2009, as montadoras bateram recordes de vendas, chegando a comercializar 3,1 milhões de veículos. Tudo com a generosa ajuda do governo Lula, que reduziu o IPI à custa do dinheiro público.

Em 2010, não foi diferente. A Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos), por exemplo, projetou um crescimento de 8,2% nas vendas. Algo em torno de 3,4 milhões de unidades. O índice que estamos pedindo é bastante modesto frente ao faturamento do setor.

Atrás apenas da Fiat e da Volkswagen, a GM é a terceira montadora do mercado. Não tem do que reclamar. Nós vamos atrás do que é nosso!

Como está a unidade com os demais sindicatos?
Formamos há alguns anos um bloco com os companheiros de Limeira, da Baixada Santista e de Campinas. Graças à nossa unidade e às lutas, temos acumulado ao longo desses anos conquistas importantes.

O jornal Valor Econômico relatou há poucos dias que o nosso sindicato conquistou o melhor reajuste de 2009 no país. É verdade. Mas os demais sindicatos do nosso bloco também obtiveram essas conquistas. Infelizmente, só não avançamos mais porque a CUT dividiu o movimento para negociar mais à vontade com os patrões.

O que a CUT pretende?
Hoje, é respeitar o calendário eleitoral. Não querem lutas durante o governo Lula para não comprometer sua popularidade ou a eleição da Dilma. Eles acreditam que é possível fechar bons acordos sem mobilizar os trabalhadores. E nós acreditamos no contrário. Com lutas, há conquistas!

Qual o motivo disso?
Eles perderam a independência de classe. Quando isso acontece, o sindicato vira parceiro do patrão. Em vez de construir as propostas para os trabalhadores, agem contra eles. Infelizmente, isso é o que acontece com a CUT. Por exemplo, em vez de construir o índice com os trabalhadores e mobilizá-los para conquistá-lo, esses sindicalistas definem o reajuste com os patrões e depois impõem o acordo aos trabalhadores.

Como fazem isso?
Em geral, aprovam o acordo em assembleias esvaziadas para evitar o questionamento. Quero estar errado, mas tudo indica que eles farão isso no final de semana antes do feriado de 7 de setembro.

Por que essa independência dos patrões e do governo é tão importante para um sindicato?
Porque, quando um sindicato perde sua independência frente aos patrões e ao governo, também perde seus direitos e conquistas.

Qual a solução para isso?
Os trabalhadores de Taubaté mostraram o caminho em 2009. A CUT havia fechado um acordo rebaixado com os patrões e teve que rompê-lo depois que os trabalhadores da base se levantaram, motivados pelos bons resultados de São José dos Campos.
Mas as direções podem evitar esse desgaste na base. Por isso, achamos que os sindicatos de São Caetano do Sul, São Carlos e Tatuí deveriam romper com o bloco da CUT e se somarem conosco. Ainda que seja para mobilizarmos juntos as nossas bases. Mesmo porque esses sindicatos não estão defasados como a CUT, que acumula de 2009 para cá uma perda de 1,66% em relação ao nosso bloco.

O que vocês esperam dessa campanha salarial?
Que os trabalhadores tenham suas reivindicações atendidas. Eles estão aprendendo que, se os sindicatos são independentes dos patrões e do governo, suas chances de ganhar são maiores.

Post author
Publication Date