No mundo, um em cada cinco dias de falta no trabalho feminino é conseqüência da violência doméstica e o Brasil é o país que mais sofre com a violência domésticaA violência contra a mulher não respeita fronteiras de classe social, raça, religião ou idade. O número de vítimas de maus-tratos aumenta de forma assustadora e, hoje, o problema é tão grave que virou também questão de saúde pública. Pais, filhos, ex e atuais maridos são, em geral, os principais agressores — e não pessoas estranhas, como poderia se supor—. Mulheres que sofrem violência doméstica podem apresentar quadros de ansiedade, fobias e depressão. Diante disto, pesquisadores da Universidade Federal do Ceará resolveram investigar a qualidade de vida e quantificar os transtornos mais freqüentes entre mulheres vítimas do próprio parceiro.

O estudo foi realizado junto a cem mulheres, agredidas pelos cônjuges, que prestaram queixa na Delegacia da Mulher do Ceará. Os dados fornecidos pela pesquisa permitem traçar um perfil das vítimas e propor soluções futuras para o problema. No mundo, um em cada cinco dias de falta no trabalho feminino é conseqüência da violência doméstica. Conforme artigo publicado na Revista de Saúde Pública, ed. fev. 2005, “O Brasil é o país que mais sofre com a violência doméstica, perdendo 10,5% do seu PIB. A cada quatro minutos, uma mulher é agredida no país. Em 85,5% dos casos de violência física contra mulheres, os próprios parceiros são os agressores.”

O perfil da mulher, vítima de violência pelo próprio parceiro, aponta para jovens casadas, católicas, com filhos, pouco tempo de estudo e baixa renda familiar. Em 72% dos casos foi observado quadro sugestivo de depressão clínica e 78% das entrevistadas apresentaram sintomas de ansiedade e insônia. As agressões também acontecem em famílias com alto poder aquisitivo. No entanto, como dispõem de muitos recursos políticos e econômicos, conseguem ocultar a violência doméstica. A equipe ressalta que, “em termos globais, as conseqüências do estupro e da violência doméstica para a saúde das mulheres são próximas aos efeitos das doenças cardiovasculares e mais expressivas que as encontradas para todos os tipos de câncer”.

O alcoolismo é um dos principais fatores associado a atos de violência doméstica. Entre os casos estudados, 70% dos parceiros costumam ingerir bebidas alcoólicas e 11% são usuários de drogas ilícitas. Estes dados são compatíveis com o período em que ocorrem os maus tratos – finais de semana, entre 20h e meia noite -, horário em que o agressor pode estar alcoolizado.

Um dos principais motivos relatados pelas entrevistadas para não abandonar o parceiro no início das agressões é a dependência financeira – razão exposta por 48% das mulheres -. No entanto, 38% delas possuem trabalho remunerado. De acordo com o artigo, “normalmente, quando a mulher aponta o item dependência financeira como motivo de não ter deixado o agressor, este vem associado ao fator filhos”.

Os maus-tratos podem produzir efeitos permanentes na auto-estima e qualidade de vida da mulher. Tentativas de suicídio foram relatadas por 39% das entrevistadas e 24% passaram a fazer uso de ansiolíticos. Segundo os pesquisadores, “mulheres que procuram atenção médica com sintomas que sugerem uma história de violência doméstica, apresentam depressão, ansiedade, desordem de estresse pós-traumático, aumento do uso de álcool e drogas e mudanças no sistema endócrino”.