Imagem do sertão sergipano
Defesa Civil

Há seis meses, 268 cidades da Bahia, Sergipe, Alagoas e Piauí sofrem com a secaMunicípios nordestinos localizados na região do semiárido sofrem com a falta de água. O verde predominante na região em outras estações do ano deu lugar a uma paisagem desértica. Há seis meses, 268 cidades da Bahia, Sergipe, Alagoas e Piauí vêm sofrendo com o problema da falta de água para garantir as necessidades básicas da população. Segundo dados da Defesa Civil, somente na Bahia, 158 municípios decretaram situação de emergência.

Uma reportagem exibida no Jornal Hoje, em 26 de março, mostrou tristes cenas de trabalhadores rurais perdendo sua plantação, sendo obrigados a escolher usar água para cozinhar alimentos em detrimento do uso para o banho. As cenas revelam a triste situação do sertanejo e podemos perceber que a seca no nordeste é uma questão de classe.

Pesquisas apresentam métodos baratos para garantir a convivência com o semiárido, porém, ao longo dos anos assistimos a seca se transformar em uma indústria que beneficia os latifundiários e mantém a população pobre na miséria. Juazeiro/BA e Petrolina/PE são duas cidades localizadas no coração do sertão. Lá modernos métodos de irrigação das águas do Rio São Francisco são utilizados para garantir a plantação de manga e uva para exportação. Nos latifúndios, podemos ler enormes placas anunciando investimentos públicos. A poucos quilômetros, porém, pequenos agricultores não têm água nem para matar a sede, muito menos para irrigar suas plantações.

Como podemos observar, a seca atinge os pobres. Os ricos têm água de sobra para beber, irrigar suas lavouras, preparar saborosos vinhos no Vale do São Francisco. Vinhos que degustados em lindas taças de cristais, fruto da miséria de milhares de sertanejos.

Estiagem em Sergipe
Dez municípios sergipanos decretaram estado de emergência devido à estiagem: Poço Redondo, Poço Verde, Porto da Folha, Tobias Barreto, Nossa Senhora da Glória, Canindé do São Francisco, Gararu, Frei Paulo, Tomar do Geru e Monte Alegre. Itabi pode ser o próximo a ter decreto homologado. No total, essas localidades somam 65.397 pessoas afetadas.

O governador Marcelo Déda (PT) não apresentou nenhuma medida efetiva para ajudar os sertanejos. A única medida adota foi envio de caminhão pipa, porém a quantidade é insuficiente para atender a demanda. Segundo o secretário-executivo da Defesa Civil, o major Gilfran Mateus, em entrevista ao Portal Infonet, Sergipe não produz atualmente nenhum projeto que pleiteie verbas federais para diminuir o problema. As pessoas beneficiadas recebem 20 litros de água potável por dia. São entregues tíquetes para as comunidades para que possa ser feita a troca com os caminhoneiros. “A água é para beber, cozinhar. O consumo deve ser usado de forma racional”, alertou o major, ressaltando que a operação é fiscalizada por um técnico.

Os prefeitos reclamam que cada caminhão pipa enviado pelo governo estadual, através de Companhia de Saneamento de Sergipe (DESO), custa R$20. A medida adotada pelo governo do PT é a mesma adotada nos governos anteriores da velha direita oligárquica. São medidas paliativas que obrigam o sertanejo a depender, todos os anos, das migalhas do Estado, migalhas que são utilizadas como poder de barganha durante das eleições, permanecendo assim a velha prática coronelista do voto de cabestro.

A reportagem exibida no Jornal Hoje destacou a cidade de Jaicós, no sertão do Piauí. A região do Vale do Rio Guaribas, onde fica Jaicós, recebe investimentos do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), agência da ONU que dá crédito a programas de desenvolvimento rural. Segundo a página na Internet da organização, só o Piauí recebeu US$ 40 milhões.

O dinheiro do FIDA também é apresentado como a salvação da lavoura do sertão sergipano. O Governo de Sergipe assinou um acordo com a agência da ONU no dia 27 de março. A promessa é oferecer crédito rural para beneficiar cerca de 30 mil pessoas da região do Alto Sertão. O FIDA entrará com US$16 milhões. O Governo do Estado, com US$12 milhões. O governo Déda (PT) gastou mais que isso só na pasta da Comunicação em 2011. Foram quase R$ 27 milhões só para fazer propaganda dos projetos de seu governo.

O exemplo do Piauí mostra que esse dinheiro da ONU pode não chegar a quem precisa. E mesmo que chegue, é provável que não resolva o problema. Porque não se ajuda o sertanejo o endividando. A responsabilidade de desenvolver a região não é individual, é do Estado. O poder público é que deve investir, com recursos próprios, em obras de infraestrutura. Deve garantir água, energia elétrica, tecnologia para a criação de animais e plantas adaptados ao clima seco.

Conviver com o semiárido é a solução
Quando falamos em sertão, a primeira imagem que nos vem à mente é a da carcaça do gado caída no chão rachado. Mas a caatinga apresenta uma biodiversidade surpreendente. O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), organização que agrupa especialistas no assunto, apresenta dados e nos mostra um bioma com mais de 20 mil espécies de animais, plantas e fungos. “As grandes dificuldades do sertanejo para plantar e criar gado são a falta de chuva e solo muito salino”, reconhece o professor de Agronomia da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Arisvaldo Mello.

O volume de chuva no sertão é de cerca de 400mm por ano. De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), esse volume, se bem distribuído, poderia sustentar uma boa safra de milho e feijão, por exemplo.

A água pode até não vir do céu, mas está guardada debaixo da terra. Arisvaldo conta que, debaixo do chão de Poço Redondo/SE, temos um aquíferos, um imenso “lago” subterrâneo, e dos grandes. O problema é que a água é muito salgada. Mas é possível tirar o sal. A revista britânica “Nature” publicou em 2009 um método barato de dessalinização de água descoberto por cientistas de Massachusetts (EUA). É possível também segurar água dos lençóis freáticos através de barragens subterrâneas.

Transposição
O projeto de transposição do Rio São Francisco, iniciado no governo Lula (PT) e que segue em construção no governo Dilma (PT) continuará garantindo água para os latifundiários e sede para os trabalhadores. Em entrevista ao site EcoDesenvolvimento, o engenheiro agrônomo João Suassuna, especialista em hidrologia do semiárido, afirma que o nordeste tem muita água e para resolver problemas difusos, precisa de soluções também difusas. “Ao cair nas grandes represas, a água do São Francisco vai favorecer ao grande capital. Lá em Fortaleza, o governo do Ceará está construindo uma siderúrgica que sozinha vai consumir um volume de água capaz de suprir a necessidade de um município de 90 mil habitantes. Então se a água do São Francisco cai na Barragem do Castanhão, que é a maior represa do Nordeste, e que já há um canal que a liga até o Porto de Pecém, lógico que esta água irá abastecer esta siderúrgica. É aí que entra o que nós consideramos como a “indústria da seca”. Estão prometendo abastecer 12 milhões de pessoas no Nordeste com a água do São Francisco, e não vai acontecer isso. Essa água será utilizada para o agronegócio”, afirma Suassuna.

A solução são medidas que garantam a convivência do sertanejo no semiárido como o projeto apresentado pela ASA Brasil que desenvolve um programa de 1 milhão de cisternas na região seca do Nordeste. Esse programa já tem cerca de 300 mil cisternas implantadas. Uma cisterna de 16 mil litros resolve o problema de uma família de 5 pessoas durante os oito meses sem chuva na região. Isso ajuda a população que mora nos pequenos lugarejos, grotões e pés de serra. Um projeto simples, eficiente, sem grandes custos. O governo não adota esta medida pelo simples fato de que o sertanejo deixa de depender de suas medidas paliativas, bem como, pelo fato de ser um projeto simples não beneficiará grandes construtoras, as grandes financiadoras de campanha do PT, tanto para a Presidência da República como para o governo de Sergipe.

Como podemos observar, métodos para garantir água para a população do semiárido não faltam. Mas é muito mais fácil, para os governantes de plantão, deixar o povo refém das promessas de mais carros- pipa.