Artigo de Matheus Gomes, militante do PSTU e ativista do Bloco de Lutas processado pelo Estado por participar das mobilizações pelo Passe Livre em Porto Alegre

Em junho do ano passado, eu e milhares de outros jovens saímos às ruas para reivindicar nossos direitos. Tínhamos como motivação o aumento das passagens. Nossas reivindicações cresceram e tomaram força. Ficou evidente para nós a contradição da construção de estádios luxuosos em um país onde a educação e a saúde são tão precários. Por reivindicar mudanças sociais, no dia 15 deste mês, o Judiciário abriu processo contra integrantes do Bloco de Lutas.

Fui às ruas e incentivei muitos dos meus amigos a fazerem o mesmo. Em poucos dias, nos tornamos milhares. Nos organizamos dentro do Bloco de Lutas, no qual militantes de movimentos sociais, estudantes, trabalhadores e filiados a partidos políticos encontravam um espaço para debater a realidade e se manifestar. Foi nesse espaço democrático que o movimento tomou força para mudar a realidade. Os governos tiveram que recuar e começar a “arrumar a casa”.

Mesmo sendo ativista das mobilizações, não compactuo com os black blocs. Milito em um partido que nacionalmente se colocou contra a “tática” black bloc. Para nós, quebrar vidraças só serve para justificar a repressão e isolar o movimento. Acabam por atrapalhar a construção de grandes manifestações e consequentes vitórias.

Um ano tendo se passado e às vésperas da Copa do Mundo, as contradições que apontávamos se tornam ainda mais evidentes. A promessa de um legado da Copa não passa de uma grande farsa. O legado para o povo se expressa nas remoções e serviços públicos que continuarão precários. O legado para mim e meu companheiro de partido, Gillian Cidade, bem como para os outros quatro ativistas do Bloco de Lutas, é um processo que nos indicia por formação de quadrilha por organizarmos protestos contras as injustiças sociais. O legado que esta Copa deixa é o do cerceamento das liberdades democráticas e a criminalização dos movimentos sociais. Como Gonzaguinha poetizou em sua música Recado: “Se mandar calar, mais eu falo”. Enquanto houver injustiças, continuarei lutando!

*Publicado originalmente no Zero Hora, dia 24/05/2013