Operação Navalha: novo escândalo de corrupção atinge governo federal e oposição de direitaMais um escândalo de corrupção rouba a cena nacional. Até o fechamento desta edição, a Operação Navalha da Polícia Federal havia resultado em 43 prisões. Foi revelada uma teia que envolve o ministro Silas Rondeau (PMDB) e três governadores: Jackson Lago (PDT-MA), Teotônio Vilela (PSDB-AL) e, “na moita”, Jaques Wagner (PT-BA). Outros integrantes são o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o grupo de Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA), José Sarney (PMDB-AP) e um longo etc.

Dinheiro para todos
A empreiteira Gautama, propriedade do empresário Zuleido Veras (chamado agora de “Marcos Valério” do Nordeste), mantinha relações estreitas com políticos, encabeçando um esquema de fraude de licitações públicas que passava pelo programa Luz para Todos, do governo Lula, e por obras de infra-estrutura em vários estados. Zuleido é considerado pela polícia o chefe de uma quadrilha que faturou R$ 120 milhões em obras irregulares.

No final da semana passada, Lula chegou a falar a auxiliares que temia as repercussões do caso. Segundo o presidente, o escândalo poderia colocar em risco sua base governista no Congresso e a agenda de reformas neoliberais. Não demorou muito e a lama espirrou para todos os lados.

Os nomes citados até o momento vão desde partidos da base do governo até a oposição de direita. Todos unidos na roubalheira.

A figura mais importante atingida pelas denúncias é Rondeau, ministro de Minas e Energia, que estava prestes a renunciar. Segundo o relatório da PF, o peemedebista “recebeu (…) a quantia de R$ 100 mil (…) uma vez que teria destinado recurso do PAC para convênio que beneficiaria a construtora Gautama”. Foi Renan Calheiros quem indicou Rondeau para o cargo. Ele também é “amigo” de Zuleido há 30 anos.

A oposição de direita também está no primeiro plano das denúncias. Teotônio Vilela recebeu propinas de Zuleido para liberar a construção de obras. Um de seus assessores já está preso. Até pouco tempo atrás, ele era o presidente nacional do PSDB. O DEM (o antigo PFL que mudou de nome para tentar esconder seu passado de corrupção) não poderia ficar de fora. Grampos telefônicos mostram que o sobrinho de ACM, o deputado federal Paulo Magalhães (DEM-BA), também recebeu propina da construtora.

Só mudam as moscas
Depois de mensaleiros, sanguessugas e da Operação Furacão, mais um escândalo de corrupção. Da oposição burguesa aos partidos do governo, o esquema da Gautama não deixou ninguém de fora.

A operação mostra como agem estes senhores: apesar das aparentes divergências, o que eles disputam mesmo é quem vai roubar mais dinheiro do Estado.

O esquema da Gautama é limitado a alguns estados do Nordeste e pode ser considerado “café pequeno” diante da prática das grandes empreiteiras. Se houvesse uma profunda investigação, certamente seriam reveladas dezenas de obras inacabadas que se tornaram uma imensa negociata para grandes empreiteiras e governantes. Viria à tona, por exemplo, toda a corrupção dos jogos Pan-americanos, no Rio de Janeiro, cujas obras estão custando dez vezes mais do que o previsto.

Grandes construtoras, como Andrade Gutierrez e Odebrecht, foram as grandes financiadoras das campanhas eleitorais do PT e do PSDB. Como sempre fazem, depois cobram todo tipo de favores dos eleitos.

O escândalo demonstra também como os programas “sociais” do governo Lula se transformaram em fontes de corrupção. O “Luz para Todos” tem como objetivo oficial levar luz a comunidades carentes de zonas rurais. E agora as obras do PAC se tornaram um gigantesco e novo foco de corrupção.

Ladrão investigando ladrão
Na Câmara, poucos parlamentares defenderam a criação de uma CPI mista para investigar o envolvimento de deputados e senadores. A proposta não teve eco por um motivo muito óbvio: todos os grandes partidos estão envolvidos no mar de lama.

Evidentemente, as CPIs estão cada vez mais desacreditadas. Todas as últimas não deram em nada e a que está em ação (CPI do Apagão) inovou bastante, já começando como pizza por meio de um acordo entre a oposição de direita e o governo. Aliás, o senador Delcídio Amaral (PT-MS), ex-presidente da CPI do Mensalão, também foi citado pela PF na Operação Navalha. A Gautama pagou uma viagem a ele no valor de R$ 24 mil.

Todos sabem que no Congresso se encontra o maior número de picaretas por metro quadrado neste país. Do mesmo modo, é um engano achar que a Justiça vá punir algum corrupto. A Operação Furacão mostrou também que a PF está completamente tomada por corruptos.

Palco para roubalheira
O governo do PT, outrora a esperança da maioria dos trabalhadores e jovens, hoje é palco de sucessivos escândalos de corrupção. Lula manteve e ampliou a corrupção de Collor e FHC. O “toma-lá-dá-cá”, loteamento de cargos no Palácio do Planalto, demarca a opção do presidente pela bandalheira.

A Operação Navalha é apenas mais uma prova de que nem o PT de Lula, nem a oposição de PSDB e DEM mudarão a vida do povo pobre. Na hora de atacar os trabalhadores e de se corromperem, eles estão do mesmo lado.

Isso significa que é necessário ligar a luta contra a corrupção às mobilizações do dia 23. Vamos dar a resposta nas jornadas de luta contra a corrupção e as reformas neoliberais do governo Lula.
Post author Jeferson Choma e Luciana Candido, da redação
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