Empresa demite 139 trabalhadores e promete mais demissões para 2012No dia 29 de dezembro de 2011, quando todos se preparavam para a festa de ano novo e as férias de janeiro, os mais de 3700 trabalhadores da Scania em São Bernardo do Campo (SP) tiveram uma dolorosa surpresa: a empresa demitiu 139 trabalhadores. De acordo com a multinacional sueca, as dispensas são necessárias para ajustar a produção à baixa demanda causada pela crise internacional e também aos problemas gerados pela legislação ambiental, que obriga as empresas a reduzirem a emissão de poluentes de seus motores em 2012, o que geraria um aumento no custo dos caminhões. Pior, o discurso oficial alerta os trabalhadores que essa é apenas a primeira leva de um processo maior de demissões que se dará ao longo de 2012 e que chegará a 1000 dispensas a nível mundial.

A contradição entre o momento econômico brasileiro e o discurso da empresa é gritante. O Brasil vive situação díspar da europeia e acaba de ultrapassar a Inglaterra tornando-se a sexta maior economia do mundo. A Scania inicia, com essas demissões, um processo de exportação da crise da Europa para cá, como forma de salvar a matriz com o sacrifício dos trabalhadores de sua filial. Uma atitude inaceitável de uma empresa que remeteu lucros astronômicos para o exterior durante o crescimento econômico, e que é tratada a pão-de-ló pelo Estado brasileiro, seja pela injeção de dinheiro do governo federal ou pela doação de um terreno de 40 mil m² pela prefeitura petista de São Bernardo. Se não houver resistência, esse tipo de medida deve generalizar-se nas multinacionais do ramo automotivo, causando impacto irreparável na economia brasileira e na vida de milhares de trabalhadores.

Demissões facilitadas pela precarização
Em 2009, no auge da última crise econômica, empresa e sindicato assinaram um acordo que prometia afastar o fantasma das demissões. Era o chamado CTD (Contrato por Tempo Determinado) que permitia a contratação de trabalhadores temporários, pelo período de 1 ou 2 anos, com salários rebaixados e progressão salarial mais lenta. Essas vagas de emprego precarizadas, que não impediu as mais de 1100 demissões de 2009, preparou o terreno para as demissões que estão ocorrendo hoje. Isso porque o regime de CTD transformou-se de “medida excepcional para a crise” em “única forma de contratação” da multinacional criando uma verdadeira multidão de temporários que chega a 700 trabalhadores. Não é à toa que, frente a essa precarização, a Scania não encontrou dificuldades em demitir 139 empregados apenas anunciando “que os CTDs que vencem contrato nos meses de janeiro, fevereiro e março não terão seus contratos renovados e não precisam retornar das férias”.

Ritmo Infernal preparou as demissões
Se um incauto entrasse na Scania e observasse a linha de produção nos meses de novembro e dezembro poderia jurar que a empresa iria contratar mais trabalhadores em breve. A linha não parava um minuto sequer, o takt (tempo máximo para a execução da montagem por parte do operário) nunca tinha sido tão pressionado pra baixo, a jornada diária média era de 12 horas (e muitas vezes chegava a 16h), tornou-se comum ver funcionários do turno do dia trabalhando junto com o pessoal da noite. O problema é que esse ritmo não se dava por uma demanda maior de caminhões, muito menos era o prenuncio de novas contratações. Apenas fazia parte de um plano da patronal para encher o pátio e garantir por alguns meses a venda de caminhões mais baratos no ano de 2012 (a nova legislação proíbe a produção dos motores mais poluentes a partir de janeiro, mas não proíbe a venda dos que já foram produzidos). O ritmo infernal e o excesso de horas extras, na verdade, eram parte de uma armadilha que permitiu a empresa demitir seus empregados na virada do ano sem correr o risco de ver suas entregas ameaçadas.

Sindicato dos Metalúrgicos do ABC é cúmplice das demissões
O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e a maioria dos membros do SUR (Sistema Único de Representação – mistura de comissão de fábrica e CIPA) são os grandes traidores dos trabalhadores da Scania. Desde o início, eles ajudaram a empresa a esconder as demissões, fazendo crer que as notícias que saíam na imprensa sobre as dificuldades do setor de caminhões seriam contornadas com as férias coletivas de janeiro e outras medidas; e que as demissões que já começavam nas plantas europeias não viriam para o Brasil. Dessa forma deixaram passar o melhor momento para negociar com a empresa (quando qualquer dia de greve seria um duro golpe nos seus planos de ampliar o estoque para 2012) e permitiram as demissões no dia 29 de dezembro, véspera das férias e quando a produção já havia encerrado. Poderiam inclusive exigir que o governo federal encerrasse ou revertesse as concessões consecutivas feitas à empresa.

Fora isso, foi o sindicato que assinou o acordo que legalizou o CTD e a grade salarial rebaixada precarizando as relações de trabalho e facilitando as demissões, acordo que, se depender do sindicato, será renovado por mais dois anos. As demissões na Scania e a cumplicidade do sindicato com a empresa apenas reforçam a certeza de que a CUT se distanciou de seus princípios classistas, tornando-se mais uma central chapa branca, não só do governo, mas das multinacionais. Por ironia do destino ou não, a CUT se vê hoje traindo os trabalhadores da Scania. Logo eles que, em 1978, começaram a greve que nortearia todo o processo de reorganização do “novo sindicalismo” e com quem a CUT deveria ter gratidão eterna.

O governo Dilma tem de atuar
O governo federal não pode deixar os trabalhadores que o elegeram na mão de multinacionais que vêm aqui usar o nosso trabalho e riqueza para depois nos devolverem apenas desemprego quando já não lhes servimos. Ao invés de política de insenção fiscal e outras concessões às empresas, pedimos a Dilma que intervenha e que proíba as demissões!