Sarney no casamento de Rodrigo Cruz, a quem nega conhecer

“Não existe pedido de uma neta que se deixe de ajudar”, diz o senador durante discursoO presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), finalmente rompeu o silêncio e, nesse dia 5 de agosto, subiu à tribuna da Casa para se defender das inúmeras denúncias de corrupção de que é alvo nos últimos dois meses. Sarney mostrou porque é o político mais longevo do país e símbolo maior da classe. Como não poderia deixar de ser, negou as acusações e mentiu descaradamente, afirmando que não larga o carto.

Sarney relembrou sua biografia, reescrevendo a história para se colocar como o paladino da luta contra a ditadura e pela redemocratização. ” Liberei as centrais sindicais, legalizei a UNE e os partidos banidos”, afirmou, esquecendo-se apenas que presidiu por anos a Arena e o PDS, os partidos representantes da ditadura militar.

Sobre os atos secretos, as medidas administrativas que não eram publicadas no Diário Oficial e que serviam para nomear parentes, disse simplesmente que não sabia de sua existência. “Eu acho que ninguém aqui nesta Casa sabia ou podia pensar que existisse ato secreto”, chegou a dizer.

Atos semissecretos
A seguir, insinuou que a existência dos atos secretos se deve ao advento da Internet e das comunicações. ” A parte administrativa do Senado, que tinha o seu boletim interno impresso, com o advento da Internet, para economia e modernização de comunicação, em 2000, depois da minha primeira Presidência, substituiu esse sistema pela Intranet, que é uma Internet exclusiva do Senado, na qual passaram a ser publicados os atos de rotina administrativa “.

Mesmo assim, admite, “511 atos não foram incluídos na rede”. Porém, negou que isso os fizessem “secretos”. “São semissecretos porque não podem ser acessados pelo público em geral e somente pelos funcionários do Senado que dispõem de uma senha própria para assim fazer”, afirmou, sem nem ao menos corar. Só faltou explicar a estranha coincidência de que tais atos se referissem justamente à nomeação de parentes, aumentos, entre outros privilégios.

“Não existe pedido de
uma neta que se deixe de ajudar”

Sobre a acusação de nepotismo, Sarney enumerou uma extensa lista de nomes e negou conhecer as pessoas que teria beneficiado. Uma delas, o funcionário da Diretoria Geral do Senado, Rodrigo Cruz, teve Sarney como padrinho de casamento. “Rodrigo Cruz também não sei quem é”, havia dito o senador.

Já sua neta, como não podia simplesmente negar que a conhecesse, admitiu que a ajudou ao dar emprego ao seu então namorado. “É claro que não existe o pedido de uma neta – se pudermos ajudar legalmente – que qualquer um de nós deixe de ajudar”, afirmou, confessando sem maiores problemas o nepotismo.

Mentiras e desfaçatez: a cara de Sarney é a cara do Senado
O discurso de Sarney no Senado é a evidência do próprio caráter daquela instituição, baseada na mentira e desfaçatez. Não é à toa que o governo Lula e a base aliada estejam comemorando uma virada na situação política do senador. Até a última semana, muitos davam como certa a renúncia de Sarney. Nos últimos dias, porém, a tropa de choque do senador partiu para a ofensiva e se mostrou disposta a defender o ex-presidente.

Tal ofensiva, porém, só foi possível, pois a base aliada move uma verdadeira fábrica de dossiês para chantagear todos que se disponham a atacar Sarney. E no Senado todos têm algo a temer.