Presidente deixa de sair em defesa do presidente do Senado, mas mantém operação para preservar Sarney no cargoA revelação das conversas telefônicas em que Sarney negocia cargos no Senado aprofundou ainda mais a crise política. Até mesmo Lula, que vinha defendendo publicamente o senador, foi obrigado a recuar em suas declarações.
“O Sarney tem história no Brasil suficiente para que não seja tratado como se fosse uma pessoa comum”, chegou a declarar o presidente em junho. No último dia 30 de julho, porém, o discurso já era outro. “Não votei no Sarney para ser presidente do Senado nem votei para ele ser senador”, afirmou à imprensa. As falas deixam claro que Lula evita agora estar tão associado ao senador. “Somente o Senado, que o elegeu, é que pode dizer se ele vai ficar ou não”, completou.

Ligações perigosas
As gravações da PF fazem parte de uma investigação sobre o filho de Sarney, o empresário Fernando Sarney. Nelas, a neta do senador liga para o pai, Fernando, a fim de arrumar um emprego para o namorado na Casa. O empresário, por sua vez, negociou o cargo diretamente com o então diretor-geral do Senado, o todo-poderoso Agaciel Maia. Depois ligou para Sarney para confirmar a nomeação.

“Pedi pro Agaciel segurar com ele. Agaciel tá com os dois currículos (do neto de Sarney e do namorado de sua neta) na mão dele, tá com tudo lá”, diz Fernando a José Sarney, em trecho da gravação. O presidente do Senado, solícito, responde “tá bom, eu vou falar com ele”. Oito dias depois, a nomeação foi publicada. Ou melhor, não foi, já que ocorreu por ato secreto.

Ninguém duvidava mais da existência dos tais atos secretos, medidas administrativas de todo tipo implementadas pela direção do Senado, inclusive para criar cargos para parentes. As gravações, porém, foram a prova concreta do nepotismo.

Lula segura Sarney até o último momento
Lula mobilizou sua tropa de choque e defendeu José Sarney até onde pôde. Para isso, indispô-se com a bancada do PT no Senado e chegou a desautorizar uma nota assinada pelo líder do partido na Casa, Aloizio Mercadante, que exigia investigação sobre o caso.

O objetivo de Lula era manter a todo o custo Sarney na presidência do Senado, a fim de garantir a maioria na Casa e não atrapalhar a candidatura Dilma Roussef em 2010.
Não só o PT sofreu com as turbulências internas provocadas pelas denúncias. O PMDB vive uma verdadeira guerra entre lideranças, com Pedro Simon e Jarbas Vasconcellos de um lado, pedindo a renúncia de Sarney, e Renan Calheiros, de outro, comandando a resistência do presidente do Senado.

Ao mesmo tempo, a batalha entre os partidos se acirra ainda mais. Depois de muito hesitar, o PSDB finalmente decidiu romper com o antigo aliado e oficializou representação no Conselho de Ética contra o presidente da Casa. Sarney acumula nada menos que 11 representações no Conselho. Renan Calheiros, por sua vez, decidiu contra-atacar e anunciou uma representação contra o líder tucano Arthur Virgílio. Em 2005 o senador teve as contas de uma viagem a Paris pagas pelo então diretor-geral do Senado Agaciel Maia. Além disso, o senador tucano mantinha um funcionário fantasma em seu gabinete.

O DEM, por sua vez, não pode capitanear uma oposição pela direita à Sarney. Além de ter no presidente do Senado um antigo aliado, o ex-PFL historicamente ocupa a primeira-secretaria da Casa. Ou seja, o partido sempre esteve na direção do Senado e pisa em ovos na hora de se envolver no escândalo de Sarney.

Sarney é a ponta do iceberg
Lula, embora evite agora se envolver diretamente, trabalha por baixo dos panos para manter Sarney no comando do Senado. O senador, porém, pode cair a qualquer momento, já que os próprios senadores se articulam para tentar salvar a combalida imagem da Casa. Os elementos que desencadearam o escândalo, porém, subsistirão e a crise política não vai terminar com a saída de Sarney.

Por isso, não é suficiente que Sarney caia. Os desmandos no Senado expressam seu verdadeiro caráter: um contrapeso a qualquer pressão popular que possa influir no Congresso. Por isso os senadores “se lixam” para a opinião pública.

O PSTU defende o fim do Senado, e uma única câmera parlamentar, com mandatos revogáveis a qualquer momento.

Lista de partidos vai de PT ao DEM

Desde 1995, a edição de atos secretos já beneficiou parlamentares de praticamente todo o espectro partidário, entre eles PT, DEM, PMDB, PSDB, PDT, PSB, PRB, PTB e PR. A lista de senadores envolvidos abarca nomes como o de Cristóvam Buarque (PDT-DF). Ao menos 37 senadores teriam sido beneficiados. Nesse período, senadores como Eduardo Suplicy (PT-SP) e Paulo Paim (PT-RS) também já assinaram atos secretos quando integraram a mesa da Câmara.
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