Sarkozy e o presidente eleito da França, François Hollande

O que muda com o retorno do Partido Socialista ao poder?A derrota de Nicolas Sarkozy nas eleições presidenciais da França no último domingo, 6, provocaram uma grande satisfação entre muitos trabalhadores, não só da França, mas de muitos outros países da Europa. Afinal, foi Sarkozy (ao lado da chanceler alemã Ângela Merkel) o responsável pelos planos de austeridade que impõe uma enorme regressão social para a juventude e a classe trabalhadora europeia.

Tentando desesperadamente restaurar as taxas de lucro dos capitalistas, os governo da Alemanha e França (o eixo da União Europeia) empurram os povos do continente para o caminho da miséria, por meio de demissões, cortes salariais, reforma trabalhistas e na Previdência, corte nos orçamentos e o avanço da privatização.

A satisfação com a derrota de Sarkozy, portanto, expressa o crescente descontentamento popular em todo o continente contra os planos da “troika” (FMI, Banco Europeu e Comunidade Europeia) e um repúdio aos governos atrelados aos banqueiros.

No entanto, não há motivos para se omemorarar a vitória de François Hollande, do Partido Socialista. O retorno da social-democracia à presidência não assustou nem o mercado financeiro, nem os principais chefes dos governoa imperialistas. “A aliança está tão forte hoje quanto estava na semana passada,” disse o porta-voz da Casa Branca, enquanto as Bolsas de Valores funcionavam normalmente. Já Merkel assegurou que receberá “com os braços abertos” o presidente eleito.

Tal confiança é plenamente justificável. O Partido Socialista está organicamente comprometido com a manutenção da União Europeia e sequer cogita em acabar com o bloco ou com o Euro. Quando esteve à frente do governo, o então presidente socialista François Mitterrand, assinou Tratado de Maastricht, que criou a UE. Como se não bastasse, até bem pouco tempo atrás, um dos seus principais quadros, Dominique Strauss-Kahn, enquanto presidente do FMI, foi um dos responsáveis em garantir que os planos de austeridade fossem aplicados pelos governos do bloco. Strauss-Kahn era o principal nome do PS para concorrer às eleições presidenciais, mas o envolvimento do ex-presidente do FMI em escândalos de assédio sexual obrigou o partido a improvisar a candidatura de Hollande.

Para capitalizar a insatisfação e vencer as eleições, Hollande apresentou um discurso tentando propagar a idéia de que agora temos de fazer “um pacto para o crescimento”, e “não pensando apenas em austeridade”. Porém, é irrealista pensar que Hollande imprima uma virada dramática em relação à política adotada por Sarkozy. Pelo contrário, há uma continuidade nas medidas que os socialistas e os conservadores juntos se comprometeram, em seus governos alternados, nas últimas décadas. Juntos aplicaram uma política de sustentação da União Europeia, do Euro e das políticas neoliberais anti-operárias. Também é importante recordar que muitos governos “socialistas” da União Europeia atuaram como gerentes leais da crise aplicando o amargo receituário da “troika”. Enganam-se também aqueles que opinam que haverá em Hollande uma linha de resistência à política econômica do governo conservador alemão. Uma das mais sólidas parcerias do governo Miterrand se deu justamente com o chanceler conservador democrata-cristão da então Alemanha Ocidental, e posteriormente da Alemanha reunificada, Helmut Kohl (1982-1998).

Os trabalhadores da França devem confiar em suas próprias forças para defender seus meios de vida contra as demissões e o desemprego. Não há como conciliar as necessidades básicas dos trabalhadores e do povo com o “resgate” dos bancos. Os planos a que condiciona a permanência dos países no Euro e na UE são os mesmos que condenam os trabalhadores e dos setores populares ao empobrecimento e à ruína social. Por isso, a saída para crise é a retirada da França da UE, seguida da nacionalização dos bancos, do monopólio estatal sobre o comércio exterior e controle dos trabalhadores sobre todas as empresas que realizarem demissões.