Nas fábricas, operários discutem caráter de classe da solidariedade com o povo haitianoEm São José dos Campos, a campanha de solidariedade ao Haiti recém iniciou e operários de três fábricas já aprovaram, por unanimidade, a ajuda aos trabalhadores haitianos. Na fábrica de autopeças Trelleborg, foi aprovado o desconto em folha de 1% do salário de cada funcionário. O exemplo foi seguido na Mirage, empresa do setor aeronáutico, e na Brascope, do ramo de refrigeração. Ao todo, cerca de 500 operários decidiram contribuir financeiramente.

Os operários entendem a proposta como um gesto de solidariedade, e não de piedade, de assistencialismo. Essa é a opinião do diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, José Donizetti de Almeida. “A classe operária já é solidária por natureza. Se o vizinho perde a casa, a gente vai lá e ajuda, não pergunta por quê”, disse.

Nas assembleias, os dirigentes sindicais explicam que a ajuda não pode ficar nas mãos de empresários, da ONU, de governos e ONGs, que se parecem cada vez com empresas. “As empresas e governos estão usando o drama dos haitianos, mas querem na verdade continuar dominando o país. A nossa ajuda é diferente da deles. É uma solidariedade de classe, pra ajudar a superar não essa catástrofe, mas a tragédia que é a exploração que sofre o povo haitiano”, declarou Donizetti.

“Vemos agora supermercados enviarem dinheiro às vítimas, mas são os mesmos conglomerados que, em 2008, provocaram uma alta de alimentos que levou a população do Haiti a comer biscoitos de barro”, afirma o sindicalista.

A parceria com as entidades da classe trabalhadora, como a Batay Ouvryie, tem sido muito bem recebida pelos trabalhadores. “Além de ajudar os companheiros com dinheiro, para reconstruir suas casas, comprar comida e remédios, também temos de fortalecer politicamente as organizações”, afirmou Donizetti.

A ajuda direta às organizações operárias é determinante para a campanha contra a ocupação militar no Haiti. A catástrofe haitiana foi agravada principalmente pelo estado de miséria que é imposto ao país pela superexploração do povo trabalhador. É preciso salvar cada lutador haitiano para que, com suas forças, tomem para si os destinos do seu país.

Por enquanto, as assembleias em São José dos Campos estão acontecendo nas empresas menores da Zona Sul. Na semana que vem, começam as assembleias nas empresas grandes, como a Gerdau e a GM, por exemplo.

Outras entidades também aprovaram doações. O Andes-SN, sindicato que representa os professores do ensino superior, aprovou em seu congresso a doação de R$ 50 mil. Comerciários de Nova Iguaçu vão doar R$ 10 mil. Em Fortaleza, apesar dos baixos salários e da baixa arrecadação do Sindicato da Construção Civil, os trabalhadores aprovaram em assembleia a doação de R$ 1 mil. Ao todo, a Conlutas já anunciou a arrecadação de mais de R$ 150 mil, a maioria de doações de entidades e sindicatos.