Foto Diego Baravelli

PSTU São Gonçalo (RJ)

Em São Gonçalo, cidade da região metropolitana do Rio de Janeiro, houve um segundo turno nas eleições entre Dimas Gadelha (PT) e Capitão Nelson (AVANTE). O candidato do Avante saiu vitorioso. Capitão Nelson é citado na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) das milícias como um dos chefes de um grupo criminoso que atua no bairro Jardim Catarina. Teve como principal bandeira de campanha a retirada das barricadas instaladas pelo narcotráfico, que funcionam para impedir a entrada de policiais. Ele defende implicitamente o aumento da violência policial nas comunidades como forma de combater o controle territorial do tráfico no município.

O PSTU defendeu voto nulo nesse segundo turno por entender que o candidato do PT, Dimas Gadelha, também não tem nenhum compromisso com as lutas da classe trabalhadora gonçalense. O candidato do PT assumiu inclusive, em carta, o compromisso com pautas reacionárias de extrema direita, como o combate à “ideologia de gênero” e à “doutrinação nas escolas”. Na mesma carta, o candidato afirmou sua posição contrária à legalização do aborto e das drogas.

Polêmica: o fascismo venceu em São Gonçalo?

Bem, vamos por partes. Capitão Nelson representa aquilo que há de mais podre na política da cidade. Possui uma relação pouco disfarçada com grupos de extermínio, estabelecida em sua história como policial militar da ativa e que lhe rendeu uma “fama” de um personagem que faz parte do imaginário da cidade. Quem de São Gonçalo nunca ouviu falar do “bonde do Nelson” ou do “carro da linguiça”? Estes eram alguns dos apelidos pelos quais Nelson tornou-se famoso por comandar execuções na cidade.

A partir da possibilidade de vitória de figura tão nefasta, ativistas honestos da cidade, mesmo alguns que apoiaram a nossa campanha, entraram em uma espécie de desespero e passaram a defender apoio a qualquer um e a qualquer programa que pudesse derrotar o Capitão nas urnas. Alguns aderiram a uma posição de apoio incondicional a Dimas Gadelha e acusaram raivosamente quem se recusasse a fazê-lo de “cúmplice da vitória do fascismo”.

Certamente, esse monstro não merece nem uma ínfima parte de nossa confiança. À frente da prefeitura, o Capitão vai usar o aparato para aplicar os projetos de retirada de direitos e aumento da repressão aos trabalhadores. Não é um aliado. Não é uma figura com a qual devemos ou podemos, enquanto movimento social organizado, buscar o diálogo. Entretanto, a sua vitória eleitoral não representa uma mudança do regime. Não vão surgir hordas fascistas no dia 1º de janeiro invadindo as sedes dos sindicatos ou marchando armadas nas ruas. A violência policial e o genocídio de jovens negros na periferia seguirão, assim como seguiriam com a vitória de Dimas. Não há uma mudança qualitativa nas características do regime em função do resultado eleitoral. Por mais que Nelson queira instaurar um regime fascista (e não duvidamos que possa de fato querer), isso não depende somente de sua vontade, mas de uma série de fatores, entre eles a correlação de forças na luta de classes nacional.

Acreditar que vamos amanhecer no fascismo por causa de um resultado eleitoral e, mais ainda, acusar os trabalhadores que não apoiam Dimas de “cúmplices do fascismo”, é confiar nas eleições como mecanismo de transformação profunda da sociedade, o que é um erro! O fascismo é, antes de tudo, um movimento social, que pode ou não tomar posição em um governo. Acuar-se com a vitória eleitoral de Nelson, capitular ao programa de direita de Dimas e dividir a classe acusando-a de cúmplices do fascismo é o pior passo que se pode dar na defesa das limitadas liberdades democráticas hoje existentes e na construção de uma sociedade verdadeiramente democrática e livre.

Preparar o 3o turno de lutas em São Gonçalo

São Gonçalo é o segundo município com maior número de casos de Covid-19 no estado. Aqui, quase não houve isolamento social por falta de qualquer política que garanta emprego e renda aos trabalhadores. O hospital de campanha que foi inaugurado com apenas 20% dos leitos previstos, já foi fechado. O atual prefeito, José Luiz Nanci (Cidadania) já manifestou sua intenção de retomar as aulas em meio à pandemia, o que só não ocorreu porque os profissionais de educação entraram em greve pela vida.

A violência policial nas favelas e bairros periféricos segue se intensificando. A população mais pobre, majoritariamente negra, segue, cada dia mais, acuada entre o fuzil do tráfico e o dos policiais. Lembramo-nos da morte de João Pedro, em maio de 2020, que provocou comoção e revolta, levando milhares às ruas em todo país e também em São Gonçalo.

Nacionalmente, também segue tramitando a reforma administrativa, que, caso seja aprovada, terá impactos negativos também no município, especialmente para o setor mais pauperizado da classe trabalhadora que depende dos serviços públicos.

O ano de 2021 será certamente de muita luta para a classe trabalhadora de São Gonçalo. Defendemos um plano de vacinação que contemple toda a população; que as escolas estejam fechadas e que haja alimentação para as famílias até que se erradique a pandemia. Somos contra a Reforma Administrativa e lutamos pela defesa dos serviços públicos; contra a violência do estado que ceifa a vida de jovens negros todos os dias. É necessário que a classe trabalhadora siga cada vez mais mobilizada e organizada na cidade. Para isto, é preciso construir frentes de unidade de ação, que aglutinem entidades sindicais e populares e ativistas da cidade em torno das lutas concretas e imediatas. Ao mesmo tempo, é preciso apresentar uma alternativa programática e organizativa revolucionária, que parta de cada luta concreta dos trabalhadores da cidade e aponte a necessidade da tomada do poder pelos trabalhadores, da ruptura com o capitalismo e da construção do socialismo.