As águas começaram a recuar nas cidades atingidas pela enchente em Santa Catarina. No total, 97 pessoas foram encontradas mortas em decorrência da chuva até agora. Mas há inúmeros desaparecidos e é provável que o número seja maior. Os desabrigados chegam a 78 mil, mas o número de pessoas afetadas é de 1,5 milhão, um quarto da população do estado.

Em Itajaí, uma das cidades mais atingidas, a população faminta e desesperada realizou saques em supermercados. Na edição do dia 26 de novembro, o jornal carioca O Globo chamou os saqueadores de ladrões. O que o jornal não disse é que faltam cestas básicas, e muitos comerciantes tentam se aproveitar da situação para cobrar ágio em alimento e em galões de água.

Desesperados com a falta de alimento, moradores de Itajaí procuram comida para a família até mesmo no lixo. “A realidade e é que não está chegando comida para todos”, reconheceu um major do corpo de bombeiros.

A cidade de Blumenau foi declarada pelos bombeiros como uma imensa área de risco, devido aos danos causados pelas chuvas. Pelo menos 95% da população da cidade está sem água potável.

Na medida em que as águas cedem, surgem não apenas as várias histórias de horror daqueles que perderem tudo, inclusive suas famílias. A responsabilidade dos governantes também começa a vir à tona.

Prefeitos e governadores não medem esforços para fazer populismo diante da tragédia. Como informa Alexandre Schwarz, morador de Navegantes, o governador Luiz Henrique da Silveira (PMDB) chegou a surgir num estúdio na TV com um colete salva-vidas para fingir que estava ajudando a resgatar alguém. Isso depois de pedir para que os turistas ficassem tranqüilos.

Também não acreditei quando ouvi o governador do Estado, numa entrevista à rádio Band, dizer que Santa Catarina sofre das conseqüências da poluição atmosférica e até das conseqüências das bombas atômicas.

Mas a tragédia enfrentada pelos catarinenses tem a ver com outras razões que estão além da mudança climática prevista pelo aquecimento global.

Embora o estado tenha registrado constantes desastres naturais – seis tornados e um ciclone desde 2004 -, as previsões de verbas estaduais para prevenir as conseqüências geradas por desastres naturais caíram entre 2004 a 2011 (período de gestão de Luiz Henrique).

Em 2004, as verbas previstas foram de R$10,2 milhões. Em 2007, baixou para R$9,6 milhões. A diferença representa uma queda de 6,7%.

O governo federal não revela o quanto destinou ao estado em verbas para a prevenção. Mas o total dos recursos disponibilizados nacionalmente é de insuficientes R$372,9 milhões. Insuficiente para construir, apenas em Santa Catarina, diques de contenção, canais e algum sistema de alerta eficiente que previna muitas mortes e prejuízos, se acionado em tempo hábil.

Já depois da tragédia, o governo federal anunciou que vai liberar R$1 bilhão para o estado. Mesmo assim, a população está tendo de dividir as poucas cestas básicas que chegam. O curioso é que para salvar as montadoras – que tiveram altos lucros nos últimos anos – o governo abriu os cofres prontamente para liberar R$4 bilhões.

Além disso, dos 14 municípios de Santa Catarina que registraram mortos, apenas Itajaí assinou algum convênio com a União sob o governo Lula.

Na tarde do dia 27, o presidente Lula viu de seu helicóptero o resultado desta política.

(Veja imagens da tragédia)