Governo e oposição burguesa aceleram sepultamento da crise política livrando a cara de ladrõesA sensação de impunidade toma conta de Brasília. Nos últimos dias, o governo Lula retomou a iniciativa política, principalmente depois da eleição de Aldo Rebelo (PCdoB) para a presidência do Câmara dos Deputados, e não está poupando esforços para sepultar a crise política.

A conta da eleição de Aldo já está sendo paga. O novo presidente da Câmara acaba de assinar a aposentadoria de Roberto Jefferson, que vai ganhar R$ 8 mil até o fim da vida por 14 anos de “trabalho duro” como parlamentar.

Lula, por outro lado, está diretamente envolvido na operação para salvar da cassação os sete deputados federais do PT, ameaçados pelo escândalo do mensalão. Em reunião com 67 dos 83 deputados da bancada, no Palácio do Planalto, Lula disse que não considera os companheiros corruptos nem portadores de “doença contagiosa”.
Abençoados por Lula, os deputados mensaleiros petistas podem renunciar em bloco nos próximos dias. Com a renúncia, evitam a cassação, e poderão usar a legenda do partido nas próximas eleições legislativas do ano que vem. “A legenda é dada pelo diretório regional e nenhum diretório regional vai negá-la”, explicou o dirigente petista Rubens Otoni. Em seguida foi a vez de Berzoini, provável presidente do PT, que disse:”o PT não deve adotar “uma regra genérica, que possa suscitar injustiças”. Em outras palavras, Berzoini defende a concessão da legenda para cassáveis.

Na carona das renúncias dos parlamentares do PT deverão renunciar também outros deputados, como José Janene (PP-PR) e Sandro Mabel (PL). José Dirceu está fora do grupo, pois o processo para retirar seu mandato já foi aberto e ele não poderá mais renunciar.

Engana-se quem pensa que esta manobra é feita só pelo PT. É parte do acordão entre o governo e a oposição burguesa. Segundo a coluna Painel da Folha de S. Paulo um importante dirigente do PFL dizia: “Não vou cassar o Luizinho [um dos deputados do PT envolvidos no mensalão], que eu sei que não enriqueceu”. A gentileza do picareta foi respondida por um parlamentar do PT: “Não dá para desfalcar a Câmara de um Brant com tanto picareta por aqui”. O petista referia-se a Roberto Brant, do PFL, que recebeu R$ 102 mil das contas de Marcos Valério.

A oposição burguesa (PSDB e PFL) está conseguindo com o acordão preservar seus parlamentares, como o presidente do PSDB, Eduardo Azeredo, também envolvido com Marcos Valério. É bom lembrar que aprofundamento das investigações nas contas de Valério e dos Fundos de Pensão das estatais revelariam toda a lama do governo Fernando Henrique Cardoso.

Negociatas em família
Ao mesmo tempo em que o acordão navega de vento e popa, surgem novas denúncias de corrupção envolvendo familiares de Lula. Na última semana a revista Veja publicou matéria revelando que o irmão de Lula, Genival Inácio da Silva, o Vavá, abriu uma empresa em São Bernardo do Campo (ABC paulista), para intermediar negociações entre empresários e estatais. Segundo a Veja, ele abriu um escritório para fazer lobby em favor de empresas privadas junto ao governo federal e a prefeituras administradas pelo PT. Vavá admite ter recebido pedidos de ajuda de empresários, mas diz que não recebeu nada por isso. Deve ter sido “caridade”.

Mais uma vez um parente de Lula se envolve diretamente na corrupção. Mais uma vez Lula disse não saber nada. Há alguns meses atrás, explodiu a denúncia de que o filho de Lula, Fabio Luiz, o Lulinha, esteve envolvido em negócios escusos com uma empresa. Ele teria utilizado dinheiro publico numa negociata com uma empresa privada de telefonia.

Tal pai tal filho
Novas denúncias também foram reveladas contra José Dirceu. A Procuradoria da República no Distrito Federal reuniu provas mostrando que, entre 2003 e 2004, a Casa Civil da Presidência atuou para beneficiar o filho de Dirceu, José Carlos Becker de Oliveira, o Zeca, na obtenção de recursos do Orçamento da União para a região do Paraná em que ele era pré-candidato a prefeito. As emendas foram liberadas e o filho de Dirceu foi eleito prefeito me Cruzeiro do Oeste (PR). Além de gerenciar o mega esquema do mensalão, descobre-se agora que o ex-ministro realizava maracutaias em beneficio da própria família.

Ponto final
Apesar do farto cardápio de escândalos de corrupção envolvendo o Congresso e o Poder Executivo, governo e oposição burguesa, auxiliados pela grande imprensa, agem como se nada tivesse acontecido. Lula se aproveita das relativas vitórias políticas que teve no último período, e a divulgação dos índices econômicos para viabilizar o acordão.

O superávit da balança comercial acumulado neste ano superou o resultado alcançado durante 2004, batendo seu terceiro recorde anual consecutivo. O saldo positivo entre exportações e importações alcançou US$ 33,746 bilhões até agora, 32,9% superior ao saldo do mesmo período do ano passado. Tal crescimento elevou o lucro dos empresários (que desejam encerrar a crise política de forma mais rápida possível) e não se reverterá em nenhuma melhoria nas condições de vida dos trabalhadores.

Para garantir o acordão, as direções da CUT e UNE vem tentando impedir que todas a lutas nas universidades e as campanhas salariais se unifiquem.

Fora todos!
O governo se apóia no pouco caso que a grande mídia faz para as novas denúncias de corrupção. Dessa forma prepara-se o acordão para sepultar a crise e não punir ninguém.

Contra o acordão, o PSTU chama o “Fora Todos”, a fim de expressar o repúdio da população às instituições corruptas da democracia burguesa. Os trabalhadores devem construir de uma alternativa dos trabalhadores e da juventude à crise. Fora Lula, Congresso, PSDB, PFL…