Troca de Josés: entra o Alencar, sai o Viegas

No dia 6, o ministro da Defesa, José Viegas, apresentou sua demissão ao presidente Lula que, tentando contornar a crise entre o governo e as Forças Armadas, indicou para o cargo o vice, José de Alencar.

A saída de Viegas é resultado dos constantes atritos envolvendo o ex-ministro e os membros do alto escalão das Forças Armadas. No entanto, a crise aprofundou-se depois que o exército soltou uma nota justificando as repressões e as torturas praticadas pela ditadura militar, logo após a divulgação das supostas fotos do jornalista Vladimir Herzog, assassinado pela ditadura.

Muitos exigiram a saída do comandante do exército, general Francisco Albuquerque, que sabia do teor da nota, mas setores do próprio governo opuseram-se à saída do general que tem conhecidas relações com os grandes figurões do governo Lula, como o senador Aloísio Mercadante e o ministro Luís Gushiken (Comunicação do governo). O jornal Folha de S.Paulo, em reportagem divulgada no dia 7, revelou tais relações, mostrando que o general Albuquerque é ligado ao coronel Oswaldo, que, por sua vez, é irmão do senador Mercadante. O coronel Oliva é também um dos assessores diretos de Gushiken.

A nota também reabriu a discussão sobre a necessidade da divulgação dos arquivos secretos da ditadura e demonstrou claramente que ainda vigoram no país as velhas estruturas repressivas da ditadura. O governo avalia que José de Alencar será capaz de conter a situação e preservar as velhas estruturas.

É preciso romper com a cortina de silêncio

Apesar da crescente pressão para que o governo Lula abra os arquivos da ditadura militar, o presidente já declarou que não quer uma nova crise na área militar e, portanto, não vai ceder às pressões. Para tal, nesta semana, o governo petista vai investir sobre sua própria bancada no Congresso para tentar calar aqueles que defendem a abertura dos arquivos.

O governo Lula continua com a política de “reconciliação” com as forças repressivas da ditadura, promovida pelos governos anteriores, impedindo que se rompa a cortina de silêncio sobre as bárbaras violências cometidas pelo regime militar. A abertura dos arquivos é a única forma para se fazer justiça à memória de tantos que tombaram lutando contra o regime e desbaratar as velhas estruturas repressivas.

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