O governador Wilson Witzel e o vice, Claudio Castro - Claudio Frazão/Agência Brasil

Na manhã desta sexta-feira (28), o governador do Rio, Wilson Witzel (PSC-RJ), foi afastado do seu cargo por 180 dias por decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Segundo as investigações, desde sua eleição em 2018, Witzel instituiu e chefiou uma organização criminosa que envolvia o pagamento propinas e que possuía estreitas relações com empresários que lotearam algumas das principais pastas estaduais para implementar esquemas que beneficiaram suas empresas. Especialmente em contratos firmados na área da saúde e no combate à pandemia de Covid-19.

Como atuavam em bando, não escaparam das investigações outros personagens importantes do governo, como o vice-governador Cláudio Castro (PSC-RJ) e o presidente da Assembleia Legislativa do estado, André Ceciliano (PT-RJ). Cláudio Castro foi indicado a vice de Witzel pelo Pastor Everaldo (presidente do PSC), que também foi preso nesta operação. Helena Witzel, esposa do governador, também está sendo investigada por participar deste esquema nefasto. Isto mostra que há uma complexa teia criminosa governando o Rio, com ramificações na Alerj e com empresários do porte de Mario Peixoto, ligado anteriormente a Sérgio Cabral (MDB-RJ).

Esta trama foi desvelada na mesma semana em que vimos uma guerra aberta entre bandidos armados que deixaram mortos e feridos inocentes na cidade do Rio. Vimos também a média de casos de Covid-19 aumentarem no estado e na cidade do Rio de Janeiro precipitando um descontrole ainda maior da pandemia.

A população do Rio de Janeiro está a mercê de bandidos, engravatados ou não, em meio a uma brutal pandemia que já matou mais 15 mil pessoas no estado.

Disputa política e crise nas instituições

Em suas entrevistas, o governador, cínico, repetiu que isso tudo não passa de “perseguição política”. Ele está se referindo a Bolsonaro e sua influência sobre os órgãos investigativos, notadamente a Procuradoria-Geral da República (PGR), comandada por Augusto Aras. Não há dúvidas, e nem o mesmo o próprio Witzel nega, os desvios de verba em seu governo. O exemplo maior é seu ex-secretário de saúde preso, Edmar Santos, que agora Witzel o chama de “canalha” por entregá-lo.

Se as investigações avançarem, não temos dúvidas, Witzel poderá ser tornar mais um político a entrar na famigerada lista de governadores fluminenses que passarão a residir na prisão.

Bolsonaro, por sua vez, comemorou sorridente a destituição e a possibilidade de prisão de Witzel ao comentar o caso com os jornalistas. Witzel se tornou um adversário político do presidente e aspira disputar a presidência em 2022. No entanto, lembremos, o governador do Rio só conseguiu ascender ao governo com apoio explícito da família Bolsonaro e seu programa. O governador é um oportunista. Foi eleito por uma plataforma política reacionária, na esteira do Bolsonarismo.

Certamente, há razões para pensarmos que o presidente Bolsonaro tem interesses diretos e pressiona politicamente os órgãos investigativos no sentido de que os inquéritos avancem contra seu desafeto no Rio de Janeiro. Por outro lado, Bolsonaro faz de tudo ao seu alcance para que as investigações que recaem sobre seu filho, Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), e o caso envolvendo Fabrício Queiroz (bandido particular da família), retrocedam. Do mesmo modo, ele sempre atuou energicamente sobre as investigações do assassinato de Marielle, que guardam estreitas e perigosas relações com a família Bolsonaro.

Afinal, além de ser presidente e possuir de fato influência sobre alguns dos dirigentes e burocratas destes órgãos de investigação e policiais estatais, Bolsonaro tem uma ligação histórica com uma extensa rede de bandidos no Rio de Janeiro, que vai de milicianos, ex-policiais, matadores de aluguel, corruptos, lavadores de dinheiro etc.

Witzel, também teria influência sobre o Ministério Público Estadual e instiga procuradores deste órgão a avançarem nas investigações sobre o no caso das “rachadinhas” de Flávio Bolsonaro quando exercia o cargo de deputado estadual na Alerj.

Nesta briga entre grupos rivais ou facções de representantes dos ricos e poderosos, entrelaçados com o pior da bandidagem e a corrupção no Rio, somos nós – os trabalhadores e os pobres em geral – as únicas vítimas. Não devemos tomar o lado, no supostamente “menos pior” ou “lutarmos contra esse fascismo que se instala no país e contra essa ditadura de perseguição” como conclamou Witzel quando a Polícia Federal (PF) bateu em sua porta no palácio Guanabara para investigar as denúncias de fraudes na saúde meses atrás.

A ALERJ é parte do problema, não a solução

As acusações contra Witzel levaram a Alerj a abrir um processo de impeachment em abril deste ano. O atual presidente desta instituição, o petista André Ceciliano, que foi um fiel aliado do governador desde o início de seu mandato, foi também alvo das buscas e apreensão nesta sexta-feira. Ceciliano teria repetido o mesmo esquema de desvio de recursos públicos na Alerj que seus antecessores realizaram, como foi o caso do atual presidiário Jorge Picciani (MDB-RJ).

Não confiamos a Alerj a tarefa de derrubar Witzel e seu vice Cláudio Castro. Esta instituição não é a casa do povo, como os demagogos de plantão vivem repetindo. Uma boa parte de seus deputados são bolsonaristas ou tem participação nos esquemas de corrupção. Muitos têm origem ou atuam no crime, na milícia, no tráfico de drogas e armas e no que há de mais putrefato da política fluminense.

O PSOL, que possui cinco deputados a Alerj, vende a ilusão aos trabalhadores de que é possível reformar ou fazer diferente naquela Câmara apodrecida. Não mobilizam seus parlamentares para denunciarem o verdadeiro teatro que se processa na Alerj ou mesmo convocam energicamente a opinião pública para derrubar imediatamente o governador e seu vice. Papel este, aliás, que não é de todo surpreendente pela política eleitoral que este partido vem levando, de construir frentes amplas como forças políticas cada vez mais a direita.

O que fazer no Rio de Janeiro?

A primeira tarefa é garantir que Wilson Witzel e seu vice Cláudio Castro sejam imediatamente, e definitivamente, depostos do governo. Já está evidente para todos nós que seu governo está repleto de esquemas de corrupção a serviço de empresários que estão lucrando sobre a morte de milhares mortos pela Covid-19.

Provadas as acusações, Wilson Witzel e todos os acusados, devem ir para prisão. Defendemos o confisco imediato dos bens e recursos desviados por toda a corja de ladrões ligados a Wilson Witzel.

Não confiamos em nada na Alerj. Todos estes corruptos, bem como os cúmplices do genocida Wilson Witzel, tem que sair das cadeiras desta instituição reacionária já. As eleições gerais no Estado têm de ser convocadas imediatamente!

Tampouco devemos confiar estas tarefas, de derrubar definitivamente estes governos corruptos, às instituições de investigação e julgamento deste regime político marcado claramente por um envolvimento de seus integrantes com as distintas facções políticas do Estado.

É necessário construir uma ampla mobilização dos trabalhadores e da população pobre para colocar abaixo este governo e os integrantes Alerj. Sabemos que a pandemia nos dificulta de fazer ações mais contundentes nas ruas. No entanto, podemos e devemos fazer e incentivar todo tipo de manifestação que permita ao povo expressar seu desejo de realizar estas tarefas. Este será, sem dúvida, o caminho a ser trilhado.

A luta para derrotar Witzel e seu vice Claudio Castro e a Alerj está totalmente conectada com a luta nacional pelo Fora Bolsonaro e Mourão já. Estes senhores estão todos a serviço da guerra aos pobres, condenando-os à miséria, ao desemprego e à pandemia descontrolada.

Este novo e lamentável capítulo da política fluminense é mais uma expressão de uma característica fundamental do capitalismo. A corrupção faz parte deste sistema e é assim que suas engrenagens funcionam em todo mundo. Os governantes atuam como representantes dos grandes empresários nas negociatas e tramoias feitas com os recursos extraídos dos braços de nós trabalhadores. Não basta prender os corruptos, nem recuperar seus bens e dinheiro roubado, é necessário avançar para a destruição completa deste sistema perverso e implantar uma nova sociedade!