Foram 61 feridos até agora, segundo a imprensa

Descarrilamento de trem revela a precariedade do transporte público no estadoCastigada pelas chuvas, a cidade do Rio de Janeiro ainda limpa as suas feridas. A irresponsabilidade cúmplice dos governantes das três esferas causou centenas de mortes.

A população carioca chorou seus mortos e ansiava por ter um certo grau de tranqüilidade. Os meios de comunicação passaram a propalar a volta à normalidade. Uma simples consulta a um dicionário e lá está registrado o significado de normal: conforme a norma; regular, ou ainda exemplar, modelar. Dessa forma, realmente, a cidade voltou ao ‘normal´. O descarrilamento de um trem da Supervia, na manhã desse dia 16 de abril, é exemplar da ‘normalidade´ que retornou à cidade.

Os dramas humanos, das mortes evitáveis nos desabamentos, afastaram momentaneamente a preocupação com outras tragédias diárias. A chuva passou a explicar qualquer coisa do caos urbano.

Faz pouco tempo e o mundo assistiu, estarrecido, a população carioca sendo chicoteada por agentes da empresa concessionária dos serviços de trens urbanos, a Supervia. É um fato: os transportes de massas na região metropolitana do estado do Rio de Janeiro são um caos. O interior do estado não escapa a essa realidade.

Até o momento em que este texto foi escrito as informações oficiais dão conta de 61 feridos e afirmam não haverem mortos. Do governador do estado e do prefeito da cidade, nenhum pronunciamento.

A quem serve o Estado?
Não faz muito tempo, a população da baixada fluminense, colérica e indignada com os atrasos constantes, queimou uma composição na estação de Saracuruna. A resposta das autoridades foi brutal. Atendendo aos apelos dos meios de comunicação – não por acaso chamados de imprensa burguesa – em questão de horas, usando as gravações das câmeras da Própria Supervia, identificou e prendeu alguns dos que não conseguiram conter sua indignação.

Quantos acionistas da Supervia estão presos pelo chicoteamento da população? A falta de investimentos em manutenção e melhorias causa os atrasos, os descarrilamentos e por aí vai. Até quando o governador e o prefeito vão esperar? Até que um acidente mais grave cause dezenas ou centenas de vítimas fatais?

São nesses momentos que, de forma cristalina, se expressa uma questão: que interesses representam os governantes da cidade, do estado, do país? Representam os interesses dos ricos e poderosos. Dos grandes capitalistas, dos exploradores do trabalho alheio. Os interesses dos que enriquecem ignorando a dor dos que são obrigados a morar pendurados nas encostas. Os interesses daqueles que enriquecem às custas de explorar a concessão de serviços que deveriam ser assumidos e realizados pelo estado. Serviços que nunca deveriam ter sido privatizados.

Existe solução para o caos dos transportes? É possível ter meios de transportes para atender milhões de pessoas, com conforto, eficiência, segurança e rapidez? Se o objetivo for atender às necessidades da população, às necessidades das pessoas, a resposta é SIM! Se o objetivo for o lucro, engordar ainda mais a riqueza de uns poucos, a resposta é um sonoro NÃO.

A população carioca, a população do estado do Rio de Janeiro não pode seguir sendo transportada como coisas. Ia escrever que não pode mais ser transportada como gado. Infelizmente há vacas premiadas transportadas com mais preocupação e conforto que boa parte de nossa população.

Hoje foi o trem, amanhã pode ser o metrô, ônibus, barcas. Não há um modo de transporte onde a população não tenha demonstrado sua insatisfação de forma indignada. O problema é conjunto, e a resposta tem de ser global.

Reestatização
A realidade já demonstrou. Em mãos privadas os serviços de transportes são ineficientes, desconfortáveis, atrasam, e, o mais grave, põem a vida da população em risco. É necessário ter a coragem e a ousadia política de reestatizar os serviços de transportes. O Estado precisa ocupar seu papel. O transporte precisa ser estatal e controlado pelos trabalhadores do setor e pelos usuários.

Nas mãos dos empresários, as planilhas de custo são manipuladas, os trabalhadores do setor são superexplorados e possuem jornadas estafantes – levando ainda mais risco à população.

Nos ônibus, a retirada dos cobradores diminuiu a quantidade de empregos, aumentou a exploração dos motoristas – obrigados a dirigir, cobrar e dar trocos – e acaba por fazer a viagem em alguns ônibus uma experiência arriscada.

Os investimentos são mera propaganda para iludir incautos ou governantes desonestos. Constantemente o passe livre para estudantes, e também para idosos, é atacado. Nada disso é feito sem a omissão ou a cumplicidade dos governantes.

Não podia ser diferente: eles defendem os interesses da classe deles. São legítimos representantes dos interesses dos ricos e poderosos, eles mesmos ricos e poderosos também.

Um governo que defenda e represente os interesses da maioria da população, ou seja, um governo dos trabalhadores e do povo é o que necessitamos. A serviço disso, o PSTU coloca seus esforços e sua militância, e defende a estatização de todo o sistema de transporte público. Construindo uma verdadeira integração onde o trabalhador seja respeitado com serviços de qualidade.

Até lá seguiremos lutando e denunciando a responsabilidade daqueles que choram lágrimas de crocodilo nas TV´s, mas sequer tremem a voz para dizer que pretendem nos expulsar de nossas casas com remoções. Não ficam sequer vermelhos ao afirmar que a culpa pelas mortes são daqueles que ‘optaram´ por morar em áreas de risco. Só fica faltando, na hipótese de um desastre de grandes proporções, culparem as vítimas por não terem carro.